No ano passado fabricante de implementos descolou do mercado e avançou três dígitos
São Paulo – A decisão da Rodofort, de adquirir por R$ 90 milhões a massa falida da Guerra que ficou adormecida por quatro anos, ao que tudo indica está dando muito certo. A produção em Caxias do Sul, RS, retomada timidamente no segundo semestre de 2021, mostrou a que veio no ano passado e apresentou crescimento de três dígitos.
Isto em um período em que as dificuldades herdadas da pandemia, como problemas no fornecimento de componentes, principalmente pneus, reduziu, no geral, a disponibilidade de produtos no mercado. Dados da Anfir apontam para recuo de 5% nas vendas de implementos rodoviários em 2022. Neste período os emplacamentos de caminhões também diminuíram, 1,6%.
A Rodofort Guerra comercializou 5,8 mil unidades no ano passado, 180% a mais do que as 2 mil 52 registradas em 2021. Dessas, 4 mil 21 foram fabricadas pela Guerra, volume quase dez vezes superior ao produzido nos quatro últimos meses de 2021, de 450 pinos, uma vez que a marca voltou ao páreo em setembro daquele ano.
O restante coube à Rodofort, que possui planta em Sumaré, SP. Juntas projetam vender pelo menos 7 mil implementos em 2023, o que configurará incremento de 20%.
Para o gerente de vendas, mercados interno e externo, Rogerson Gemelli, o resultado é fruto do robusto investimento em curso. Cerca de 70% a 80% dos R$ 35 milhões previstos para serem injetados na linha de produção, em retrofit, manutenção e expansão, e em pesquisa e desenvolvimento, já foram aplicados.
Isso propiciou maior oferta por parte da companhia e também fez com que conquistassem grandes clientes a partir do que chamam de “pacotes estratégicos”, como o que permitiu, por exemplo, a venda de 250 implementos para a Maersk, porta-contêineres e siders.
“Em 2022 tínhamos o desafio do crescimento exponencial, até porque a estrutura física em Caxias demanda esforço enorme: sendo assim o nível de produção já teria de se tornar maior à medida que os meses fossem passando. Só não imaginávamos que atingiria três dígitos, mas algo em torno de 80% a 90%.”
Ao mesmo tempo em que a Guerra surfava essa onda que se sustentou durante todo o ano passado alguns fabricantes encolhiam a produção por falta de componentes ou redução de pedidos. Foi a oportunidade perfeita para oficializar seu resgate, o que foi consolidado durante a Fenatran: a participação na feira rendeu 1,8 mil pedidos que serão faturados e entregues ao longo do primeiro trimestre.
“A marca nos surpreendeu positivamente, pois ficou um tempo fora do mercado. Mas o consumidor não perdeu o respeito que tinha por ela. Até porque, na retomada, ela foi buscando, aos poucos, seu próprio DNA, qualidade, resistência, valor agregado, o que ofereceu custo-benefício muito bem visto pelo investidor.”
O contexto, avaliou Gemelli, deu forças para que a Guerra angariasse velocidade mais rápida à sua linha de montagem, tanto que o ritmo de produção aumentou 25% ao mês porque o mercado estava demandando mais: “Foi uma sinergia de fatores”.
O efetivo também aumentou, passando de 730 empregados nas duas plantas produtivas para novecentos ao fim do ano. E o plano é seguir aumentando o quadro de funcionários para 1 mil.
O índice de nacionalização, embora elevado, na casa dos 80%, diminuiu um pouco no ano passado por causa da indisponibilidade de componentes, a exemplo de pneus e rodas, que tiveram de ser importados. Mas a ideia é, assim que possível, voltar a produzir e adquirir o máximo de itens no Brasil.
O número de concessionárias igualmente foi ampliado: das vinte no início de 2022 encerrou o ano com 31, o que superou a meta de 28 revendedoras, além de 35 pontos de venda.
Participação de mercado – Em 2021 a Rodofort detinha 2% do mercado e, após a junção com a Guerra, encerrou 2022 com fatia de 6,5% dos 83,1 mil reboques e semirreboques emplacados, segmento de pesados em que a companhia atua.
O plano para 2023 é alcançar 10% de market share dentro do mercado projetado de 70 mil a 75 mil pinos do segmento de pesados. O cronograma da retomada prevê a conquista de fatia de 15% nos próximos três anos.
Embora expectativas para o setor sejam conservadoras, uma vez que existem dúvidas naturais acerca do novo governo e do desenrolar da economia este ano, as perspectivas são positivas.
Para Gemelli, considerando que os juros se tornem mais atrativos – apesar de já haver economistas considerando a possibilidade de a Selic seguir no patamar de 13,75% ao ano em vez de baixar 1 ou 2 pontos porcentuais –, as commodities mantenham boa remuneração e o PIB fique acima do projetado, de alta de 0,7%, tem-se ambiente que fomentará mais investimentos.
Planos que têm sido anunciados, como o plano de mercado anunciado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad — com potencial de reduzir o déficit do País em R$ 242,7 bilhões, o que reverteria, na prática, rombo de R$ 231,5 bilhões –, animaram o mercado e a Rodofort Guerra.
Isto, segundo o executivo, é suficiente para trazer boas perspectivas, mesmo com o mercado de caminhões devendo encolher 11% este ano por causa da mudança para o Euro 6 e das ainda elevadas taxas de juros.
Outro possível revés, mas não o suficiente para tirar o otimismo da empresa, é a recente estiagem no Sul do País, que comprometeu boa parte da colheita. Apesar disso ainda está mantida a previsão de superssafra de grãos para 2023, de 313 milhões de toneladas, 15,5% acima dos 271 milhões de toneladas do ano passado, de acordo com dados da Conab, Companhia Nacional de Abastecimento.
E como no negócio da Guerra, que fez fama com o slogan Guerra É Paz na Estrada, boa parte das vendas está relacionada ao agronegócio segue também a perspectiva de crescimento:
“A ideia é potencializar linhas do agro, como basculante e graneleiro, e estamos ampliando o portfólio na linha de carrega tudo e florestal. No segundo semestre deveremos entrar em outras linhas de negócio, como canavieiro, no último trimestre do ano”.
Para 2024 os planos incluem a participação em outros segmentos, a fim de pulverizar o ramo de atuação e, assim, quando houver redução na demanda pelo agro, por exemplo, haverá outras frentes de trabalho para compensar essa balança.
Exportações – A fim de se proteger das constantes oscilações cambiais a Rodofort Guerra planeja ampliar, gradativamente, sua presença em outros países. As vendas externas corresponderam a 5% da produção em 2022.
Em três anos, segundo Gemelli, de 12% a 15% do faturamento, cujo valor não revelou, deverá ser proveniente do mercado internacional. Em cinco anos a meta é chegar a 30%.
Hoje os principais parceiros comerciais são Paraguai, que demanda bastante produtos dedicados ao agronegócio, Bolívia, Uruguai e Chile. Nos próximos anos mercados potenciais que serão explorados pela companhia serão Colômbia, Panamá, Guatemala e República Dominicana.