São Paulo – O setor de implementos rodoviários costuma refletir o comportamento do mercado de caminhões com certo atraso, pois primeiro é feita a compra do veículo, sua fabricação e, então, o pedido chega aos fabricantes de carretas e carrocerias sobre chassis. Sendo assim ainda no primeiro trimestre de 2023 o impacto positivo de crescimento nas vendas de 4,3% refletia pedidos fechados ainda na Fenatran, em novembro de 2022, assim como aconteceu com caminhões equipados com motores Euro 5 que foram produzidos até o fim de 2022.
Agora é que o setor deve começar a sentir, de fato, a retração nas vendas de caminhões, cuja produção encolheu quase 30% no primeiro trimestre, embora os emplacamentos tenham avançado 6,6%, porque eram majoritariamente compostos por veículos Euro 5. Os novos modelos Euro 6 foram responsáveis por apenas 6,4% das vendas nos três primeiros meses de 2023.
Para Alcides Braga, presidente da TruckVan, o primeiro trimestre não foi dos piores, conforme ele avaliou durante participação no painel de implementos rodoviários no Fórum de Veículos Comerciais 2023, realizado pela AutoData Editora em 17 e 18 de abril de forma on-line:
“Houve crescimento ante 2022, que não foi período dos mais fáceis. Agora nossa preocupação é enxergar o resto do ano, decifrar como faremos para completar nossa carteira. Até 2021 trabalhamos com seis meses de pedidos em carteira, alguns fabricantes tinham até mais. Já em 2022 tivemos volume muito mais justo e competição muito acirrada”.
Para o presidente da Anfir, José Carlos Sprícigo, que também preside a Librelato, “parece que o ano começa agora, pois até então sentíamos o reflexo de vendas de [caminhões] Euro 5 e aquelas feitas por nossos associados na Fenatran”. Ele citou que, apesar do avanço de 4,3% nas vendas de implementos no primeiro trimestre, o mercado de carretas isoladamente avançou 7%, “e isto foi bem positivo”.
Sprícigo citou que a inadimplência é uma preocupação porque os bancos, além de aumentarem o spread, ficam mais restritivos. No entanto, com o resultado de queda de inflação acredita que até a próxima reunião do Copom, programada para os dias 2 e 3 de maio, possa haver redução na taxa básica Selic, hoje fixada em 13,75% ao ano.
Hoje, segundo ele, por causa do desconforto no processo de aprovação de crédito as associadas têm, em média, carteira de sessenta dias.
Braga concorda com o dirigente da Anfir quanto à expectativa de que os juros caiam: “Digo que agora vai começar a despiorar. A matéria-prima está comportada, temos um pouco de aumento de preço em um ou outro segmento, mas nada que preocupe muito. Com o PIB e o mercado voltando a reagir poderemos também retomar patamares anteriores de produção e vendas”.
Sprícigo completou que outros pontos positivos são a confirmação da safra recorde e a demanda da construção civil, que potencializa a linha leve, de instalação de carrocerias de carga sobre chassis de caminhões.
Projeção de queda menor do que a dos caminhões
A projeção da Anfavea é a de que o ano encerre com o emplacamento de 112 mil caminhões, recuo de 12% diante dos 127 mil vendidos em 2022. Contudo, após a queda na demanda já sentida no início deste ano, a expectativa é a de que este mercado possa encolher até 20%.
Quanto aos implementos, o presidente da Anfir espera recuo de 9%, totalizando 145 mil produtos, sendo 75 mil carretas e 65 mil carrocerias:
“Embora o setor de caminhões fale em queda de 15% a 20%, dentro do segmento de implementos rodoviários há um impacto menor em virtude da comparação com a linha pesada, pois vendemos um rodotrem, que são três unidades, e um bitrem, que são duas. Temos um estudo dentro da associação: para cada extrapesado vendido são três os implementos”.
Entretanto, se os juros persistirem no patamar atual e os clientes não enxergarem a vantagem do custo de operação nos preços dos caminhões, pode ser que a retração do setor seja um pouco maior, ponderou Sprícigo. No ano passado as vendas empataram com 2021.
Sprícigo observou que o momento de queda no dólar e de manutenção nos preços dos insumos, caso do aço, abre uma janela de oportunidade para tentar realinhar os preços dos implementos, uma vez que muitos dos componentes sofrem influência da variação do câmbio e da cotação de commodities.
Pleito comum aos dos fabricantes de caminhões é a melhora da oferta de crédito do BNDES por meio do Finame, disse Sprícigo: “Somos provocados por nossos clientes para saber se haverá participação mais ativa. O que vimos é que o Finame voltou a crescer e respondeu por 29% dos financiamentos. No entanto já chegou a 77% do total”.
Segmentos mais aquecidos
Dos segmentos de implementos que podem crescer este ano, seguindo a tendência de safra recorde, a maioria das apostas converge para as carretas graneleiras. Isto porque no ano passado as vendas destes semirreboques acabaram sendo prejudicadas pela demora na aprovação de novas normas: “Por causa do quarto eixo, que foi aprovado em dezembro de 2021, mas só começou a ser vendido em maio de 2022, o que derrubou as vendas”.
Outra tendência de alta é dos produtos para transporte de líquidos, que têm apresentado aumento no volume de pedidos. Já o segmento de basculantes, segundo o dirigente, entra no “modo avião”, em estabilidade, pois cresceu bastante nos último anos. Os implementos para cana, assim como para madeira, ainda têm desempenho fraco porque são setores que apresentam sazonalidade maior nos pedidos.
A grande decepção para este ano, de acordo com Sprícigo, deve estar relacionada ao consumo: “Devido ao endividamento das famílias se nota retração mercado de cargas fechadas, como os baús. Houve incremento grande com pandemia porque, além de expressivo volume das compras se tornarem on-line, houve muita demanda do setor farmacêutico”.
Diante das perspectivas de melhora da economia até o fim do ano a projeção é a de que os implementos para transporte de cargas fracionadas, como entregas urbanas, retomem seu melhor momento a partir de 2024.