São Paulo – A realidade deste 2023 é bem diferente daquela de dez, onze anos atrás: o mercado não retornará ao patamar das 3,8 milhões de unidades se a própria economia, o padrão de emprego e o poder de compra do brasileiro não subir de nível. As medidas do governo para baratear os automóveis e o mercado brasileiro de veículos foram o centro do debate do último painel do Seminário AutoData Negócios Automotivos 2023, na terça-feira, 30, em que participaram os consultores Ricardo Bacellar, da Bacellar Advisory Boards, e Besaliel Botelho, da Bright Consulting.
Ambos concordaram que o anúncio, na semana passada, foi precipitado por não envolver a solução completa.
“Na verdade o mercado já estava parado com o anúncio de que haveria um anúncio”, disse Bacellar. “O consumidor resolveu esperar. E ainda está esperando, porque as medidas não foram todas divulgadas.”
Segundo reportagem do jornal O Estado de S. Paulo a média diária de vendas caiu 14% em maio na comparação com abril. Para Botelho, porém, é algo que terá uma recuperação depois: “Não é uma queda que vem para ficar. O consumidor está esperando as regulamentações”.
As medidas, porém, não resolvem a situação da indústria, que bateu em um teto de 2 milhões de unidades/ano e dificilmente sairá disto enquanto a economia não crescer de forma mais acelerada. Botelho acrescentou que o trabalho dos executivos, agora, é de ampliar o conteúdo local destes 2 milhões de veículos, o que traria ganhos de escala para os fornecedores e ampliaria as possibilidades, inclusive, de ganhar competitividade em contratos de exportação.
“Não é criando um carro popular que o mercado voltará a crescer. O consumidor não permitirá o retrocesso tecnológico, não abrirá mão de itens de conforto e de entretenimento. Sabe que os encontrará no mercado de seminovos. Estes, sim, os mais de 10 milhões de veículos usados, formam o segmento de entrada.”
Bacellar acrescentou: “A população está empobrecida. Temos que fazer crescer o poder de compra para que a população tenha acesso aos carros que estão cada vez mais tecnológicos”.