Volare Attack 8 está em testes há seis meses, operando em ambientes fechados
Caxias do Sul, RS – A Marcopolo apresentou na quarta-feira, 14, seu micro-ônibus autônomo. O Volare Attack 8 tem nível 4 de automação, o primeiro do tipo na América Latina, no qual o veículo realiza sozinho as tarefas de direção em algumas circunstâncias.
O sistema embarcado no veículo, que levou em torno de um ano e meio para ser desenvolvido, contou com parceiros locais para tornar-se realidade. Conduzida pelo braço tecnológico da companhia, o Marcopolo Next, com a startup Lume Robotics, a gestão do projeto contou com tecnologia majoritariamente nacional.
Segundo Alexandre Cruz, chefe de novos negócios, investimento e inovação, o sistema possui índice de nacionalização que gira em torno de 80% a 90% Apenas parte dos sensores, incluídos no hardware, que não são produzidos no Brasil: “O algoritmo, que é o cérebro e a alma da solução, é nacional”.
Eduardo Kakuichi, analista sênior de inovação da Marcopolo Next, contou que para adaptar o Volare Attack 8 foi necessário construir câmbio automático, uma vez que neste tipo de veículo essa versão não é muito usual. Também foi necessário alterar a parte dos chicotes e o controle da direção do pedal.
Feito isso o veículo foi enviado para o Espírito Santo, para a sua Universidade Estadual, onde fica a Lume, a fim de que fossem realizados testes com cancelas e lombadas. Posteriormente o micro-ônibus autônomo foi levado para a fábrica da ArcellorMittal Tubarão, na Grande Vitória, ES. Durante duas semanas cumpriu om o papel de transportar os empregados na área de siderurgia. Atualmente cumpre a tarefa na fábrica da Marcopolo em Caxias do Sul, RS. Ao todo já são seis meses de testes.
Cruz ressaltou que o veículo foi o primeiro a circular no que chamam de ambiente vivo, ou seja, em espaços em que estão acontecendo atividades corriqueiramente. Em um primeiro momento, inclusive, a ideia é explorar mais parcerias com empresas do setor de mineração, extração de combustível e também cidades universitárias, a fim de aprimorar ainda mais a tecnologia. Como a legislação brasileira ainda não permite a circulação desse tipo de veículo, ele é apropriado para rodar em ambientes fechados e altamente controlados.
Um dos pontos a ser melhorado, por exemplo, é a frenagem brusca do autônomo ao detectar algum obstáculo ou cruzamento – a reportagem comprovou ao realizar trajeto de alguns minutos dentro da fábrica da Marcopolo. O próximo passo será o aprimoramento do embarque automatizado.
“O sistema tem a capacidade de analisar mais de vinte cenários por segundo”, observou Cruz, ao complementar que a solução permite visão 360 graus e toma decisões baseado nela. “Ele identifica semáforos, pessoas na faixa de trânsito, animais, lombadas e cancelas. Pode operar em ambientes previamente mapeados e sem a presença do operador.”
Somente a automação de nível 5 permite rodar em local sem motorista e sem nenhum conhecimento prévio do espaço que percorrerá.
Ranik Guidolini, CEO da Lume, destacou como benefícios do sistema autônomo a maior segurança e a menor propensão a acidentes, uma vez que ele não é suscetível a falhas humanas como cansaço e distração por mexer no celular. Além disso a direção é mais econômica e sustentável: “Estima-se redução de 17% no consumo de combustível”.
A telemetria exerce papel fundamental no micro-ônibus para informar o status do carro e condições de uso, se os 21 passageiros estão com o cinto de segurança afivelados e quem não está, tudo de forma remota.
O valor do investimento na tecnologia não foi divulgado nem tampouco o custo do veículo autônomo, que ainda não há expectativa de quando deverá começar a ser produzido em série: hoje existe apenas um exemplar. Conforme estimou Cruz até 2030 a solução deverá estar mais homogeneizada.
João Paulo Ledur, responsável pela área estratégica e de transformação digital afirmou, entretanto, que a diferença de preço não será tão grande daquele que possui e o que não possui a tecnologia como a que separa um ônibus a diesel e um elétrico, por exemplo, uma vez que o movido a bateria custa de três vezes a quatro vezes mais caro do que o a combustão: “A diferença não chegará a tanto”.
Ledur assinalou a demanda é que ditará o ritmo em que a tecnologia será disseminada. “Exploraremos, inicialmente, o mercado de circuito fechado e regulado. Já temos empresas interessadas em testar o veículo em suas áreas industriais”.