São Paulo – A despeito de todas as adversidades enfrentadas pelo segmento de caminhões ao longo do primeiro semestre, a segunda metade do ano deverá trazer reação a este mercado. E, inclusive, dadas as condições aguardadas para o cenário de julho a dezembro, é possível que as vendas superem a projeção da Anfavea, de 128 mil caminhões vendidos. Foi o que garantiu Ricardo Alouche, vice-presidente de vendas e marketing da Volkswagen Caminhões e Ônibus, durante o primeiro dia do Seminário AutoData Revisão das Perspectivas 2023, realizado de forma online de 10 a 12 de julho.
“A perspectiva para o segundo semestre será de recuperação do mercado. Estamos convictos disto”, disse Alouche, ao lembrar que no primeiro trimestre todo o estoque de Euro 5 foi escoado, o que sustentou as vendas no período. No trimestre seguinte foi a vez de introduzir, de fato, o Euro 6, mas sem muita reação, uma vez que os veículos são de 20% a 30% mais caros e que houve postergação de compra até que o governo anunciasse as regras para o seu programa de incentivo, que ficou travado por um tempo até que houvesse maior esclarecimento, principalmente em torno do veículo acima de vinte anos que teria de ser destino a desmanche.
“Com um maior entendimento das regras para a participação no programa de renovação de frota e maior participação das montadoras no processo houve aumento gradativo das consultas e de negociações, sem fechamento de venda, mas acredito que agora ele deverá engrenar. Fomos a campo conversar com caminhoneiros interessados em trocar seu veículo para ajuda-los no processo de descarte.”
Segundo Alouche em 2018 e 2019 a frota dos autônomos tinha em torno de 18 anos e, agora, 22 anos. E a frota das empresas também está mais degastada. Enquanto no período anterior tinha de 7 a 8 anos, hoje está em 11. Ou seja: a necessidade de renovar existe.
O executivo lembrou que na semana passada o ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, dispensou a exigência de o modelo vendido e comprado serem da mesma pessoa e permitiu que mais de um veículo seja entregue para a aquisição de outro, acumulando valores para o desconto.
Mas citou que a grande questão ainda está no financiamento. Até porque, uma vez resolvida a entrega do caminhão velho e a obtenção do certificado, como ele comprará um novo?
“Não dá para o proprietário de veículo de 25 anos migrar para um Euro 6. Um financiamento com juros mais acessíveis ajudará nesse processo. Acreditamos que aí o volume será maior, mas ainda falta alinhamento a respeito. Por isso defendo que esse programa deveria vir para ficar. O que temos hoje é melhor do que nada, mas, à medida em que houver esses ajustes, ele engrenará. E na hora em que engrenar se tornará autossustentável.”
O cenário continua desafiador, ponderou Alouche, ao reforçar que acredita em uma reação nos próximos meses. A VWCO, por exemplo, ainda tem lançamentos a serem feitos, que foram postergados por causa do ritmo do mercado.
Ele mencionou que, historicamente, essa reação acontece no segundo semestre e que durante mudança do Euro 3 para o Euro 5 foi assim também. Além disto a perspectiva do PIB agrícola deverá ser ainda maior: em vez de crescer 9%, como era aguardado, agora a nova projeção é de alta de 11%.
Outros fatores que deverão animar o setor são a tendência de redução dos juros – hoje a Selic está em 13,75% mas é aguardado recuo para este semestre – e novos anúncios de investimentos em infraestrutura.
“O mercado deverá ficar acima das perspectivas da Anfavea. Não quero ser o otimista das galáxias, mas esse é um movimento que se iniciou em junho. E isso é o que nos motiva.”