São Paulo – Os fabricantes de motores a diesel também sentiram o baque do pé no freio do Euro 6 durante o primeiro semestre, acompanhando a queda nas vendas dos pesados em torno de 9%, de acordo com dados da Anfavea. No entanto, calcados na expectativa de que a tão esperada queda nos juros virá na segunda metade do ano e que junto a ela haverá safrinha de inverno para continuar puxando o agronegócio e, consequentemente, a demanda por caminhões, o setor projeta recuperação no período.
Durante o último dia do Seminário AutoData Revisão das Perspectivas 2023, realizado de forma online de 10 a 12 de julho, o presidente da FPT, Marco Rangel, assinalou que além do comportamento esperado de antecipação de vendas quando se tem a mudança de motorização, a demora no ajuste técnico no acesso aos financiamentos e a baixa atratividade do modelo com menor emissões, devido ao seu custo maior e por causa da elevada taxa de juros, impactaram a produção.
“As vendas no primeiro semestre tiveram queda ao redor de 9% mas, em 2013, quando houve a mudança do Euro 3 para o Euro 5, tivemos 20% de queda. Quando vemos a projeção da Anfavea de 20% de redução para este ano percebemos que não está muito desalinhado ao que a história nos conta com relação à transição de emissões.”
Quanto à produção, diante do elevado estoque de motores Euro 6, foi preciso realizar ajustes mas, de acordo com Rangel, a FPT já está de olho na expectativa de recuperação no segundo semestre. Tal perspectiva é partilhada por Thomas Puschel, diretor da unidade de negócios e marketing da MWM Motores e Geradores, ao citar que, até junho, 80% das vendas foram de motores Euro 5:
“O segundo semestre tem alguns movimentos e mecanismos que o governo está trabalhando, como a aprovação das reformas e a redução dos juros, que nos levam a ter uma visão mais positiva. O que deve trazer um desempenho um pouco melhor do que no primeiro semestre, com otimismo moderado, aguardando a recuperação mesmo para o ano que vem.”
Rangel lembrou que, novamente, tomando como base comparativo do setor na transição anterior, em 2014, ano seguinte à mudança do Euro 3 para o Euro 5, houve retomada com crescimento em torno de 4%.
“Em consistência com o que o governo está pregando, que deverá ocorrer melhoria no cenário de juros, indica que pode começar a movimentação econômica. A questão do financiamento foi um dos entraves, inclusive, ao programa de incentivo à renovação de frota com os descontos.”
O presidente da FPT ressaltou que a melhora da produção deverá partir do agronegócio que, espera-se, ampliará a demanda por caminhões pesados e, em seguida, passará pela construção, estimulando a procura por leves – ele acredita que esse segmento deverá contribuir com a expectativa de fomento à infraestrutura.
E que, apesar de o segmento agrícola ter sido afetado parcialmente pela redução dos preços das commodities, apresentou alta frente a 2022. Além disto a safrinha de inverno deverá contribuir ao processo de retomada. O peso do segmento na demanda por motores se deve ao fato de que tanto a economia brasileira como a argentina são eminentemente movimentadas pela agricultura.
Tanto FPT como MWM possuem em torno de 30% de seus negócios dedicados ao setor automotivo. A partir da pulverização das atividades, que passa também pelos geradores e pelo setor marítimo, tem sido possível equilibrar queda na produção durante o período de baixa.