São Paulo – Na hora de comprar um carro novo, o maior interesse do consumidor em aspectos que demonstrem sustentabilidade na origem dos materiais usados e nos processos produtivos reflete também na preocupação com a forma de propulsão dos veículos, visando a preservação do meio ambiente e o avanço à descarbonização.
Segundo pesquisa sobre o ecossistema automotivo realizada pela Zebra Technologies em âmbito global, em que foram entrevistadas 1,3 mil pessoas, dentre tomadores de decisão, gerentes de frota e consumidores do setor, divulgada com exclusividade à Agência AutoData, o interesse em veículos eletrificados até 2027 é significativo, e demonstra-se mais expressivo entre os millenials, nascidos entre 1981 e 1995 e que têm entre 28 e 42 anos.
Quando perguntados sobre a intenção de adquirir carros híbridos plug-in em um intervalo de cinco anos, enquanto essa é uma opção para 45% dos millenials, o porcentual cai à metade para os baby boomers, nascidos entre 1945 e 1964 e que têm de 59 a 78 anos, com 21%. Dentre integrantes da Geração X, que nasceram entre 1965 e 1980 e, portanto, têm de 43 a 58 anos, 35% cogitam a alternativa.
Quanto aos outros tipos de híbridos, que recarregam a partir da frenagem dos veículos, eles são considerados para 58% dos millenials, para 50% dos baby boomers e 49% da geração X. Em relação aos puramente elétricos, integrantes da geração X foram os que mais demonstraram interesse, 29% do total, enquanto que entre os millenials, 27%, e os baby boomers, 22%.
De acordo com Rodrigo Serafim, gerente de parceiros da Zebra Technologies no Brasil, a preocupação do consumidor, de forma global, envolve a infraestrutura de postos de carregamento, segurança de dados e do próprio veículo.
Existe o desejo de fazer upgrades que o carro tradicional ou o modelo tradicional de venda não permitem. Assim como a preocupação em sair de casa e conseguir chegar ao destino por ter como fazer a recarga do veículo.”
Em relação à intenção de adquirir veículo com motor à combustão interna no horizonte de cinco anos, essa é a alternativa que conta com maiores porcentuais, em todos os recortes geracionais. Trata-se de opção para 53% dos millenials, 50% dos da geração X e 40% dos baby boomers.
Dentro do recorte da América Latina 61% dos consumidores de diversas faixas etárias indicam que sua preferência futura é por um veículo híbrido – o que está em linha com as apostas da região, principalmente do Brasil, em oferecer opções fabricadas localmente com esse tipo de propulsão, como forma de transição à eletrificação.
Ao mesmo tempo, 71% dos responsáveis pela indústria automotiva afirmam estar sob grande pressão para produzir veículos movidos a bateria e, 76%, sentem-se pressionados a oferecer mais produtos ecológicos, sustentáveis e seguros para o meio ambiente.
Desafios na cadeia de suprimentos passam pela tecnologia
Um dos maiores desafios para promover essa transição, além do custo elevado dos produtos, é a adaptação da cadeia de suprimentos local. São demandados componentes mais avançados tecnologicamente, o que hoje é concentrado em poucos fornecedores.
Serafim destacou que para evitar a saia justa provocada pela mais recente crise do setor, de semicondutores, atualmente as empresas estão comprando o mesmo produto de cinco ou seis fornecedores. “Há uma complexidade muito maior, porque é preciso que todos eles sejam muito qualificados, que adotem métodos de fabricação que a empresa entenda que são aceitos dentro do que preserva com relação à comunicação para o mercado.”
O investimento em tecnologia, que permite às companhias fazer mais com menos, é cara, muitas vezes, mas, ao menos, hoje é factível, avaliou o executivo: “É algo escalável. Algumas montadoras têm subsidiado seus sistemistas. Porque todo o setor está preocupado”.
Estão incluídos tecnologia de digitalização de processos, como rastreabilidade de produtos sem fio, por rádio frequência a partir de etiquetagem eletrônica, por exemplo, a fim de evitar retrabalho, o que também pode ser feito por meio de câmeras distribuídas na fábrica em pontos estratégicos que podem identificar produto fora do padrão, e robôs autônomos para auxiliar a mão de obra que já existe.
“Nas empresas menores geralmente é o dono que vai atrás de tudo. Não tem setor de TI. Mas existe a preocupação de, por exemplo, como implantar a rastreabilidade do processo, saber onde estão as peças, que horas chegarão. Não dá para a montadora ficar uma hora parada porque não recebeu determinado material.”
Serafim apontou que essas são preocupações compartilhadas por todos, e que vão ditar o ritmo das transformações na América Latina e no Brasil. Pois, segundo ele, esse cenário não é mais uma tendência, mas uma realidade.
“Nós atendemos montadoras no Brasil e no mundo e uma grande preocupação delas é a rastreabilidade desde o momento que eles recebem os materiais para fabricarem seus produtos e consigam fornecer o tempo real de fabricação.”
O executivo assinalou que isso inclui até mesmo o momento do pós-venda do veículo. Que quando o cliente chega na concessionária para fazer manutenção preventiva é preciso que o estabelecimento já tenha acesso às informações do carro, como qual a quilometragem, quais os últimos itens verificados e ajustados e os que precisam de revisão naquele momento. “Isso tudo demanda muita tecnologia nos processos. E trará impacto grande no ecossistema automotivo.”