Fabricante estadunidense entrou em acordo para reversão de seu complexo ao estado da Bahia. Receberá compensação do próprio estado e após esse processo local será da BYD.
São Paulo – O governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues, esteve em São Paulo na quinta-feira, 17, em evento organizado pela BYD, para falar sobre o projeto de reindustrialização do País e da indústria automotiva que passará pelo seu Estado. A empresa chinesa confirmou que será protagonista neste processo e seu CEO Tyler Li disse que trará ao Brasil engenheiros para desenvolver tecnologia utilizando o etanol como energia para seus veículos feitos aqui. Mas para dar início a este novo capítulo da indústria nacional com investimento de R$ 3 bilhões coube a Rodrigues destravar o que impedia o primeiro passo: a reversão da fábrica da Ford para o Estado da Bahia.
Mesmo sem confirmação oficial de ambas as partes, BYD e Ford tiveram conversas para definir um preço pelas benfeitorias realizadas pela estadunidense em espaço no polo petroquímico de Camaçari cedido pelo Estado. Segundo Rodrigues estas tratativas não avançaram e, então, “nós provocamos a Ford e eles reagiram positivamente à proposta de reversão, para que o Estado da Bahia assumisse todo o complexo”.
De acordo com o governador a Ford tinha uma espécie de concessão para operar naquele terreno em Camaçari cedido pelo Estado: “Eles [Ford] fizeram uma série de benfeitorias e agora faremos uma avaliação do patrimônio que investiram para o Estado ressarcir esses valores à Ford antes de repassar estes ativos para a BYD”.
Rodrigues enfatizou que “a Ford não deve nada para o Estado da Bahia”. E que o Estado tem um compromisso com a Ford porque a área de inteligência dela, por meio do Senai-Cimatec, continua na Bahia: “Temos interesse em que continue onde estão. São entre 1 mil a 1,5 mil postos de trabalho de alto valor agregado que trabalham nessa área de inteligência da Ford”.
A Bahia contratou a Caixa Econômica Federal para fazer a avaliação do valor devido à Ford e, segundo o governador, o ponto de partida é justamente a conversa das duas empresas: “Houve uma negociação um tanto sigilosa da Ford com a BYD e soubemos que os valores do patrimônio da Ford giravam em mais de R$ 100 milhões, no máximo R$ 150 milhões. A BYD adquiriria da Ford toda a estrutura lá montada e é a partir desses valores que a Caixa inicia as suas avaliações”.
Este processo deve ser rápido e a expectativa do governador é a de que nos próximos dias a avaliação da Caixa esteja na sua mesa para dar sequência ao que ele chamou de segunda fase, “pois já temos provisionado no orçamento os valores para ressarcir a Ford”. A BYD planeja para outubro a vinda do chefão global Wang Chuanfu para confirmar os investimentos e dar início formal à ocupação das instalações na Bahia.
A informação da vinda de Chuanfu foi atribuída a jornalistas brasileiros que estão na China com a BYD. Os executivos presentes no encontro com o governador da Bahia em São Paulo não confirmaram oficialmente esta agenda mas Alexandre Baldy, que é conselheiro para a BYD no Brasil e um dos porta-vozes da empresa, disse à reportagem que “da nossa parte temos que fazer acontecer este momento”. A expectativa, segundo comentou Jerônimo Rodrigues, é de que em outubro ou novembro de 2024 tenha início a produção nacional da BYD.
A BYD recebeu sinal verde do governo da Bahia com relação aos aspectos necessários à instalação na área. Baldy disse que as partes já estão de acordo de que no início poderão operar a importação de veículos, peças e insumos, que terão apoio do governo do Estado para ajudar na atração de fornecedores, que serão concedidos incentivos fiscais para que haja a compensação competitiva da logística para levar os produtos aos maiores mercados consumidores do País, dentre outros pontos que serão apresentados na formalização dos investimentos na Bahia: “Estes aspectos são essenciais para tornar o projeto competitivo. E a posição do governo foi muito clara e transparente. Inclusive pública”.
Além da BYD a Bahia pretende atrair ainda durante o mandato de Jerônimo Rodrigues outras empresas para o Estado. Ele disse que há conversas para que a Embraer possa produzir lá peças para seus produtos: “Estou chegando de São José dos Campos [SP] neste momento. As conversas preliminares estão ocorrendo de forma muito produtiva”.
O governador quer levar para seu Estado uma grande fabricante de ônibus elétrico chinesa, que não é a BYD, e também empresa que produzirá pás para os enormes sistemas de captação de energia do vento. Além disto a BYD negocia com o governo a construção de um moderno trem de superfície e um protocolo de intenções para realizar investimentos na cadeia industrial da saúde: “Queremos que a Bahia possa se credenciar a ser o Vale do Silício brasileiro”.