Levantamento da Bright Consulting aponta depreciação de até 15% para veículos de entrada eletrificados
São Paulo – Muito se especula mas pouco se sabe, na prática, como se dará a desvalorização de veículos elétricos, ainda em volume pequeno, embora crescente, no mercado brasileiro. Pensando nisso a Bright Consulting decidiu incluir o monitoramento de eletrificados em sua ferramenta baseada em anúncios de vendas chamada PRM, Preço de Referência de Mercado. Embora a coleta desses dados venha sendo feita desde novembro de 2022 a primeira divulgação de comparativo de preços foi cedida com exclusividade à Agência AutoData.
Os veículos elétricos com um ano de uso desvalorizaram, na média, 9%. Quando se analisa modelos abaixo de R$ 300 mil, no entanto, essa depreciação vai a 15%. Ou seja, os carros a bateria de entrada têm maior perda de valor de mercado. Considerados os que custam acima desse patamar o porcentual é de 8%.
E mais: é possível afirmar que a desvalorização é maior que a de veículos a combustão, podendo chegar ao dobro da média, que é de 6%. De acordo com Cássio Pagliarini, diretor de estratégia da Bright Consulting, “pressionados por fatores como preço mais alto, pequena disponibilidade de estações de recarga, expectativa de vida das baterias e autonomia de rodagem os veículos elétricos puros são aqueles com a maior depreciação”.
Segundo Pagliarini ainda não entram nessa conta fatores como o desempenho da bateria e redução da autonomia, até porque as fabricantes geralmente oferecem garantia de oito anos com a promessa de que, se a bateria não vier com algum defeito, não haverá perda significativa na autonomia, que em uma década deverá manter sua capacidade em 70% a 80%. Mas isto só o tempo dirá.
“O medo de não saber, na prática, como é ter um elétrico usado faz com que o cliente pague menos pelo veículo. A suposição de que pode haver problemas aliado ao fato de não saber como proceder com a manutenção e a garantia diretamente com a marca, na condição de segundo proprietário, desperta insegurança que puxa o preço para baixo.”
O consultor ponderou que é provável que daqui a dois ou três anos isso se equilibre e essa diferença diminua, aproximando-se do veículo a combustão, mas que hoje o receio ante o desconhecido provoca esse efeito no mercado.
Quanto a esta diferença na desvalorização do elétrico seminovo de acordo com seu preço Pagliarini aponta que o veículo premium, seja qual for sua forma de propulsão, e com um ano de uso, ainda é premium, e tem possibilidades elevadas de encontrar um comprador que o valorize.
O mais barato, por sua vez, diante da insegurança mencionada, faz com que o cliente não queira pagar essa diferença de preço e prefira um 0 KM. Ou então opte por um novo a combustão, uma vez que esteticamente as versões são iguais.
É diferente, portanto, a relação que o consumidor exerce hoje com um seminovo a combustão, em que ele sabe que aquela diferença, ainda que chegue a 10%, geralmente vale a pena. Ou seja: a questão cultural ainda pesa na hora de escolher qual carro comprar.
E com os híbridos é a mesma coisa. A depreciação, na média, é de 9% para os híbridos puros, o que pode chegar a 20% dependendo da marca – neste caso isto varia mais de acordo com o produto do que com sua faixa de preço. Se for considerado o mild hybrid, ou híbrido leve, a perda é de 8%, e no caso do plug-in hybrid, ou híbrido plug-in, de 7%.
O plug-in, em que a bateria permite autonomia de 80 quilômetros a 100 quilômetros, também apresenta diferenças expressivas dependendo do valor de venda. Enquanto modelos que custam acima de R$ 300 mil podem desvalorizar 6% para aqueles abaixo deste patamar o porcentual chega a 13%. Para Pagliarini “este cenário também decorre do baixo número de veículos nessa condição e deverá melhorar com o amadurecimento do segmento”.