São Paulo – Até 2030 de 9% a 13% da frota brasileira de veículos novos deverá ser composta por modelos 100% elétricos. Essa é a projeção de Felipe Fava, chefe da área de mobilidade do futuro da McKinsey & Company. Para efeito de comparação: países europeus terão de 30% a 50% de sua frota elétrica nos próximos oito anos, ou seja, pelo menos três vezes mais.
“Vemos o veículo elétrico como parte importante do que será a frota brasileira. Haverá curva de adoção mais lenta com relação a outros países até porque no Brasil há tecnologias que competem com a eletromobilidade, como os biocombustíveis.”
O executivo pontuou que existe, ainda, desafio de investimento muito importante, pois o momento da indústria no País, segundo ele, é complicado para fazer aportes da ordem de milhões e bilhões a fim de conseguir nacionalizar o produto: “Então vai demorar mais tempo até ter o mesmo nível de penetração dos outros países. Entretanto isso vem. Defasado mas vem. Esse é o ponto”.
A projeção de Fava compreende apenas modelos 100% movidos à bateria e não inclui híbridos puros ou plug-in. Para ele existem temas que empurrarão o veículo elétrico: um deles é o panorama regulatório, pois não adianta ter uma tecnologia que não está madura o suficiente, outro é a tecnologia e custo de uso, pois é preciso tornar seu acesso viável, o terceiro é a infraestrutura de recarga, o que inclui não somente pontos para recarregar o veículo como disponibilidade de energia elétrica na rede. E há o consumidor, que é quem puxa a tendência, até porque de nada valem os itens anteriores se o consumidor não quiser a tecnologia.
Se o país quer descarbonizar primeiro é preciso identificar onde estão as maiores emissões. No Brasil a descarbonização passa pelos transportes, que respondem por 9% delas, segundo estudo da McKinsey.
O diesel é a principal fonte de demanda de combustível para o transporte, respondendo por 37%, mas o etanol e a gasolina também pesam, correspondendo a 24% e 22% cada, respectivamente: “Mesmo no processo de fabricação de baterias, por exemplo, emissões são geradas. Ou seja, é preciso mapear as fontes”.
Ainda de acordo com o levantamento as emissões de gases de efeito estufa no País atingiram 1,7 tonelada em 2009 e, em 2019, chegaram a 2,1 toneladas. Ou seja, houve incremento de 2% ao ano em uma década.
Os dados sugerem a necessidade de mudanças na matriz energética dos transportes e também propõem, até 2030, o aumento do uso de outras fontes de energia, disponíveis em abundância pelo Brasil, como eólica, solar, biocombustíveis e gás natural.
O estudo indica que diferentes iniciativas buscam reduzir emissões uma vez que o Brasil ainda não tem visão consolidada de longo prazo. O Rota 2030, no entanto, ao propor metas de eficiência energética às montadoras e recompensá-las com menor IPI, já implica caminho rumo à eletrificação.
“O consumo energético de veículos novos, pequenos e médios diminuiu 4% ao ano de 2015 a 2020. Em utilitários houve queda de 2% ao ano. Uma redução dessa ordem significa, para os compactos e médios, melhora de consumo de 1 quilômetro por litro.”
De acordo com Fava, passo importante está sendo dado por prefeituras que querem se comprometer com a descarbonização ao demandar ônibus elétricos a partir deste ano. As iniciativas estão, por enquanto, concentradas em São Paulo, Rio de Janeiro, RJ, Salvador, BA, e Curitiba, PR, cidades com boa representatividade da frota nacional.
O estímulo para veículos de passageiros também é muito importante e uma das saídas adotadas pode estar na redução ou isenção da cobrança de IPVA.
Prós e contras – Fava ponderou, entretanto, que mudanças para veículos elétricos geram significativas alterações nos fornecedores de suprimentos. Hoje, dois terços da cadeia produtiva é fabricante de itens tradicionais, como motor, câmbio etc.
“O custo de operação elétrico é muito mais atrativo do que o custo de operação a combustão. Essa diferença é o que compensa o investimento inicial num veículo elétrico. E todos os custos de manutenção estão nessa conta, inclusive os impostos.”
O analista apresentou comparativo do preço de combustíveis versus eletricidade. Se considerarmos o valor cheio, com impostos, o da energia elétrica é maior, uma vez que o governo reduziu tributos dos combustíveis até o fim do ano. Porém se o custo total for ajustado pela eficiência da fonte energética por 1 mil quilômetros rodados o elétrico é mais competitivo, chegando à metade de veículos movidos a gasolina e etanol.
Se forem retirados os impostos dessa conta a eletricidade fica quase três vezes mais interessante do que a gasolina e o etanol: “Para cada 1 mil quilômetros eu gero R$ 15 a mais de receita na eletricidade do que na gasolina. Se fosse uma única conta corrente faria sentido migrar. Mas é preciso avaliar o uso. Por exemplo: para aplicações urbanas, de até 100 quilômetros por dia, já está quase lá. Especialmente se se tratar de uma empresa”.