São Paulo – “A indústria automotiva encarou seu terceiro ano consecutivo sem recuperação de volumes.” A afirmação foi extraída de estudo das consultorias Roland Berger e Lazard que sugere que só depois de 2025, considerando cenário global positivo, é que o setor deverá retomar os níveis pré-pandemia. Confirmada a recessão global este ano, porém, este patamar só será alcançado novamente na próxima década.
A pesquisa tomou por base cesta de balanços de montadoras com receita anual de € 500 milhões e € 10 bilhões, incluídas BMW, Mercedes-Benz, Volkswagen, Ford, GM, Toyota e Hyundai. Considerou também dados de empresas de importantes segmentos da cadeia de fabricantes de autopeças, semicondutores e transporte marítimo.
O balanço de 2022 deverá atingir 80,6 milhões de veículos – os dados do quarto trimestre ainda não foram consolidados – e a projeção para este ano aponta a venda de 84,9 milhões de unidades. Em 2018, contudo, foram comercializados 94,2 milhões de veículos.
A análise da Roland Berger e da Lazard aponta que reveses como manutenção do custo elevado de insumos, componentes e energia deverão manter deterioradas as margens da indústria, que seguirá com negociações mais duras. Ao mesmo tempo em que os juros e a inflação em patamares elevados continuarão afastando das concessionárias o consumidor que depende do crédito para financiar seu veículo.
Essa equação resulta em entraves adicionais às montadoras, que requererão investimento para eletrificar suas linhas. E não só isso, pois será necessário contratar mão de obra especializada para produzir carros elétricos, que obrigam à melhor qualificação por causa do grau de tecnologia embarcada.
Em meio ao cenário de pressão sobre margens as consultorias inferem que as empresas deverão manter o foco nos modelos de maior valor agregado, mais lucrativos, e provavelmente reduzirão descontos ao consumidor, diferentemente do que se tem visto.
O levantamento aponta ainda que as empresas fabricantes deverão buscar desglobalizar suas cadeias e, assim, blindando-as de disrupções, que deverão ser cada vez mais frequentes. É considerado o risco da continuidade da política de covid zero na China, que resulta em lockdowns e que poderá reduzir a produção global de veículos em pelo menos 1,5 milhão de unidades.
Outro ponto de atenção é a possibilidade de guerra que envolva China e Taiwan, que responde por metade da produção global de chips e por 70% dos microcontroladores automotivos. O efeito colateral derrubaria a produção global de veículos em até 90%.