Foi o que apontou Orlando Merluzzi, gestor do MBCB, Acordo de Cooperação Mobilidade de Baixo Carbono para o Brasil, durante o Seminário Brasil Elétrico 2024
São Paulo – O biometano é a opção viável e menos poluente no processo de descarbonização da frota circulante de veículos pesados no Brasil, segundo Orlando Merluzzi, gestor do MBCB, Acordo de Cooperação Mobilidade de Baixo Carbono para o Brasil. Ele participou do Seminário Brasil Elétrico 2024, realizado por AutoData.
“Cada município possui, no mínimo, uma fonte de biogás a partir dos lixões. Basta alinhar as políticas públicas, atrair os investimentos corretos e fazer os processos de purificação do biogás para o biometano. O caminhão a gás é fundamental para o Brasil.”
Merluzzi lembrou de quando, em 2008, esteve em Madri, Espanha, para conhecer frota de caminhões a gás “e, já naquela época, quase 70% dos caminhões de lixo da cidade usavam esta forma de propulsão. E veja quanto tempo já se passou de lá para cá”.
Em sua avaliação a demora no avanço das fontes alternativas se dá pelo ceticismo em torno da questão de segurança energética. “Mas tudo é uma questão de comunicação, alinhamento e letramento. Não podemos ficar dando tiro para tudo que é lado no sentido de colocar emoção à frente da razão. Tem que tirar o viés. Porque o Brasil tem essa opção à disposição, basta escolher”.
Merluzzi apresentou estudo feito pela LCA a pedido do MBCB que aponta que a frota brasileira de pesados representa quase 5% do total de veículos em circulação, de 47 milhões de unidades, mas emite 53% do CO2 lançado pela mobilidade no País.
O levantamento, que considera a intensidade do carbono dentro da emissão do energético, e não a utilização do veículo pesado, demonstra, segundo ele, a grande oportunidade de negócios que o Brasil pode ter com os biocombustíveis gerados aqui.
O biometano é o combustível de menor intensidade energética, com 9,3 gramas de CO2 por megajaule. Na sequência vem o hidrogênio verde, com 10,5 gramas de CO2 por megajaule, o biodiesel a ser produzido em 2032, com 21,1 gramas de CO2 por megajaule, e o biodiesel fabricado desde 2019, com 24,2 gramas de CO2 por megajaule.
Só então aparecem os elétricos, sendo 26,6 gramas de CO2 por megajaule para o veículo a ser produzido em 2032, e de 34,2 gramas de CO2 por megajaule para o fabricado desde 2019. As métricas do estudo consideram a composição da matriz energética brasileira, no caso dos carros a bateria, e para o biodiesel, levam em conta a evolução da certificação da intensidade de carbono dos insumos empregados em seu processo produtivo.
Para efeito de comparação o elétrico na Europa emite 70,3 gramas de CO2 por megajaule, o gás natural, 74 gramas de CO2 por megajaule, o diesel A, 86,5 gramas de CO2 por megajaule e o hidrogênio cinza 126 gramas de CO2 por megajaule.
Merluzzi compartilhou também levantamento realizado pela MWM focado em descarbonização que avalia cada um dos combustíveis disponíveis para serem aplicados nos ônibus. E, mais uma vez, o biometano apareceu como a melhor alternativa ao demonstrar-se como opção menos poluente em comparativo que analisou a pegada de carbono e considerou vida útil de 700 mil km para os veículos.
Partindo da opção mais disseminada e poluente, o diesel, e considerando a pegada de carbono em sua produção, origem dos materiais, fabricação do energético, eficiência do propulsor, emissão, manutenção, custo de aquisição e a vida útil, a pegada de carbono total é de 700 tCO2e.
Nestas mesmas condições o biometano apresenta pegada de 211 tCO2e. Na sequência vem o híbrido etanol, com 221 tCO2e. Ambos, vale ressaltar, classificados como melhores opções do que o 100% elétrico, com pegada de 267 tCO2e. Na sequência vem o B100, com 100% de biodiesel, e pegada de carbono de 430 tCO2e.
“O biometano é tecnologia já existente e não traz riscos à economia. Precisamos colocar as opções nos trilhos para que não tenhamos miopia de análise. Buscar solução para descarbonizar os 47 milhões de veículos existentes, o que já temos. Porque se consideramos somente a venda de novos, daqui para a frente, serão necessários setenta anos.”
Para o gestor do MBCB é importante, ao mesmo tempo, entender as novas tecnologias que trazem oportunidades ao País, que possui matriz econômica muito apoiada no agronegócio, e desenvolver a neoindustrialização. O impacto na geração de empregos, estimou, ao se combinar solução combinada de eletrificação com biocombustíveis, é de ganho projetado de 1 milhão de postos de trabalho.