São Paulo – Mesmo com os juros altos, com a Selic a 13,25% ao ano e podendo encerrar 2025 a 15% ao ano, conforme as projeções do Boletim Focus, do Banco Central, o financiamento de caminhões usados deverá continuar aquecido. É o que avalia Jamil Ganan, superintendente de auto finance, solar e empréstimos no Banco BV. No ano passado a carteira que reúne veículos pesados e motos usados e veículos leves 0 KM, alcançou R$ 5,8 bilhões, sendo cerca de 40% referentes a pesados, ou R$ 2,3 bilhões – do total 90% referem-se a caminhões e o restante a ônibus.
Para efeito de comparação: em 2023 dos R$ 4,4 bilhões, os mesmos 40%, ou R$ 1,7 bilhão, referiram-se a pesados. Ou seja: o acréscimo de R$ 600 milhões ao volume financiado representou avanço de 35,3%, acima dos 30% apurados no valor total.
Ganan sustenta que o crédito para veículos pesados, o que inclui o profissional autônomo, possui a particularidade de estar relacionado a segmentos estratégicos da economia, o que o torna menos volátil: “Quando falamos do mercado de leves, especialmente de 0 KM, pode haver a influência de algum subsídio e, principalmente no caso dos usados, há certa volatilidade por estar ligado à massa salarial e ao nível de emprego”.
Mas, antes de conceder o crédito ao caminhoneiro, contou que é analisado qual o tipo de caminhão ele busca, assim como o material transportado, a qual setor está ligado e o frete obtido: “Assim, se o mercado de leves cai, não necessariamente o de pesados encolhe também. Varia muito menos”.
O tíquete dos financiamentos varia de R$ 100 mil a R$ 400 mil, podendo chegar a R$ 600 mil, uma vez que os modelos escolhidos normalmente têm de 7 a 15 anos de uso. E, segundo o executivo, por ser levado em conta o setor por trás de sua atividade – se for o agronegócio, por exemplo, a projeção é de safra recorde para 2025 – os valores podem ser maiores que os de leves, mas o cenário é mais estável.
“Por este motivo não temos a visão de que se a taxa de juros subir o mercado de pesados oscilará de maneira preocupante. Vemos que há muita demanda para o caminhoneiro. E nosso trabalho é entender os contextos e tomar as melhores decisões com carteira de crédito sólida para não gerar inadimplência nem acabar com a retomada do caminhão.”
Quanto à inadimplência Ganan não cravou um índice, mas assegurou que está abaixo dos 4,4% da carteira de varejo, que inclui o financiamento de leves 0 KM. Com relação à taxa de aprovação disse que pode variar bastante, principalmente o porcentual a ser parcelado, mas que não houve, do ano passado para cá, diminuição das propostas que chegaram nem dos deferimentos.
“Os economistas ressaltam que o aumento da inflação tende a corroer o poder de compra das famílias, mas que há um hiato até que se sinta este impacto sobre o não pagamento. Até o momento estamos com fluxo estável.”
Disse, também, que no último trimestre poderá haver algum reflexo.
Ele contou que, no fim de 2024, o banco projetava leve crescimento para este mercado, em linha com a perspectiva dos fabricantes de pesados. Sobre o receio das montadoras de encerrar o ano com queda de até 10% nas vendas cogitou que 2025 termine estável ou com pequeno decréscimo, semelhante ao que deverá ocorrer com os leves usados.
Metade do mercado de pesados usados é financiado
A despeito das oscilações do contexto econômico Ganan expôs o tamanho deste mercado: dos cerca de 40 mil veículos pesados, novos e usados, comercializados por mês no mercado brasileiro, de 40% a 50%, ou de 16 mil a 20 mil, são financiados.
A instituição não ofertava crédito para caminhões e ônibus usados até cinco anos atrás. Começou de forma incipiente, em lojas híbridas, que financiam um pouco de cada. Então passou a mapear revendas específicas de caminhões e ônibus e foi feito trabalho comercial para entender o perfil dos clientes, assim como as regiões em que havia maior potencial.
“Nos últimos três anos pisamos no acelerador. Hoje estamos presentes em todo o País, em 25 mil lojas híbridas. Este trabalho multiplicou por cinco nossa base mensal de financiamentos ao longo deste período. Ao entender as oportunidades identificamos que este mercado poderia ser mais bem servido em termos de crédito.”
O executivo contou que o plano de crescimento da capacidade geográfica é constante, “pois estamos sempre avaliando se estamos aproveitando bem o potencial em determinada região ou setor. Ainda vemos oportunidade onde nos posicionarmos melhor”.
Segundo Ganan nos últimos anos o banco dobrou sua participação de mercado, colocando o BV como um dos três principais financiadores de pesados usados. E o horizonte torna-se ainda mais promissor pelo fato de haver a expectativa, ainda que não no curto prazo, de que saia do papel programa de renovação da frota de pesados, o que coincide com os planos da instituição para este segmento: “No médio prazo buscamos a liderança na oferta de crédito para a compra de caminhões usados”.