Foi o que afirmou o presidente da Abla, Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis, Marco Aurélio Nazaré, durante entrevista coletiva de imprensa na terça-feira, 25:
“Existe um forte potencial no negócio de aluguel de carros apesar do momento em que vivemos. A questão é que a atividade demanda muito capital intensivo e com custo muito alto, com o maior juro real do mundo. Ao mesmo tempo temos procura por nossos produtos e serviços, o que faz com que tenhamos de seguir investindo. E nos obriga a ajustar as tarifas para termos a sustentabilidade do nosso negócio”.
O dirigente relatou, ainda, que nos últimos dois anos foi observada forte depreciação dos seminovos, o que fez com que o intervalo da compra do 0 KM para a venda do usado aumentasse, o que coincidiu com o aumento do custo do capital:
“Temos nos perguntado: como conviver com esses problemas? Precisamos ser resilientes o suficiente para nos adaptarmos e ajustarmos nossa gestão para manter a capacidade de geração de caixa. Por este motivo comparemos o mesmo número de carros de 2024, cerca de 650 mil, ou até um pouco menos, o que dependerá do quão agressivas as montadoras serão com suas políticas comerciais, cientes de que compramos de 25% a 30% da produção nacional”.
Nazaré afirmou que se a Selic subir mais – o que é aguardado, uma vez que a projeção do Boletim Focus é que a taxa encerre 2025 a 15% ao ano – o volume de emplacamentos deverá diminuir. Ele reconheceu, contudo, que o potencial de crescimento deste mercado “é muito grande, podendo duplicar ou triplicar”.
O reflexo na redução da rentabilidade das locadoras foi mostrado no ano passado com a renovação de frota em detrimento da ampliação do volume, que aumentou 3%, para 1,6 milhão de unidades. Com isto a idade média da frota baixou de 18,3 meses para 17,5 meses.
Aquisição de veículos para locação é focada em modelos de entrada
Outro ponto é que os veículos adquiridos tiveram seu tíquete médio reduzido de R$ 112,6 mil em 2023 para R$ 105,9 mil em 2024, o que deverá seguir baixando este ano, segundo Paulo Miguel Júnior, vice-presidente da Abla.
Os modelos mais adquiridos no ano passado foram veículos de entrada, como hatches e sedãs pequenos que, somados, representaram 50% das compras. Os SUVs ainda têm participação relevante na frota, de 22,4%, decorrente de aquisições de anos anteriores, mas a tendência é que a aquisição diminua.
“Trata-se de mix de veículos mais baratos que se enquadram ao perfil atual do usuário brasileiro, que não tem tanta renda disponível para a locação de veículos”, disse Miguel Júnior. “Por isto tivemos de baixar o tíquete médio, o que não quer dizer que o custo do carro diminuiu. E esta é tendência explicitada por empresas de mercado aberto.”
Dados da Abla mostram que o Volkswagen Polo Track foi o modelo mais emplacado pelas locadoras no ano passado, com quase 65 mil unidades. Junto com a Fiat, as fabricantes representaram mais da metade das aquisições das locadoras, tendo a GM na terceira colocação, com 14,8% de participação.
Quanto aos eletrificados foram emplacadas 7,9 mil unidades, alta de 108,5%, sendo a maioria híbridos leves e plug-ins, o que compõe frota de 14,9 mil unidades, que avançou 77,4% no ano passado. Segundo o vice-presidente modelos 100% elétricos têm mais saída em carros por assinatura e logística.
Em 2024 foram investidos R$ 68,7 bilhões para a compra dos automóveis e comerciais leves novos, alta de 17,8%. Sobre a destinação dos veículos alugados 54% foram de longo prazo, em contratos feitos por empresas ou clientes de carro por assinatura. Enquanto que o de curto prazo, dedicado ao turismo de lazer e negócios e para motoristas de aplicativo, respondeu por 46%.
Nazaré acredita que, dadas as condições econômicas, a procura pela locação de longo prazo aumentará em maior escala do que a de curto prazo, que sofre mais com capacidade de pagamento limitada: não raro as empresas parcelam em até dez vezes valores a partir de duas diárias.
“Neste cenário de crédito caro e escasso e de preços dos carros ainda elevados a locação torna-se mais vantajosa do que a compra de veículos, que implica, principalmente, custos de aquisição, manutenção e depreciação.”