São Paulo – 88,5 mil caminhões saíram das linhas de produção de janeiro a agosto, leve recuo de 1% em comparação a igual período em 2024, em que foram fabricadas 89,4 mil unidades. Foi a primeira queda do segmento no acumulado do ano, de acordo com dados divulgados pela Anfavea na terça-feira, 9. De acordo com o presidente executivo da entidade, Igor Calvet, já havia uma tendência de crescimento cada vez menor ao longo do ano e “agora cruzamos um ponto que não queríamos e a produção está menor do que a de 2024”.
Calvet chamou atenção ao fato de que geralmente a indústria de caminhões acompanha o desempenho do PIB, que no segundo trimestre avançou 0,4%: “Não há razão mais forte que explique isto do que os juros altos. A instabilidade nos machuca, mas os juros altos podem nos matar. E a Selic, ao que tudo indica, continuará no patamar de 15% ao ano”.
O reflexo já está sendo visto no emprego em fabricantes de veículos pesados, uma vez que houve o fechamento de 148 postos de trabalho em agosto, a despeito da abertura de 874 vagas no segmento de leves.
“A taxa de juros vem em uma tendência de deprimir ainda mais o setor de pesados, e nos preocupamos com o efeito em cadeia, no impacto que haverá nos fornecedores.”
O presidente da Anfavea reforçou que a produção só não caiu de forma mais acentuada, até o momento, por causa do crescimento de 89,6% das exportações no acumulado do ano, totalizando 19 mil unidades. Somente para a Argentina, que representa o destino de 45% dos embarques de caminhões, o volume triplicou de 4 mil veículos de janeiro a agosto do ano passado para 11 mil nos primeiros oito meses de 2025.
Vendas de pesados recuam 19%
Nos oito meses de 2025 foram vendidos 74,3 mil caminhões, 6,7% abaixo do mesmo período do ano passado, 79,6 mil. Calvet acrescentou que o movimento foi puxado pelos pesados, que representam quase a metade do mercado, 45% do total, e cujas vendas encolheram 19%.
Em agosto foram emplacados 8,9 mil caminhões, 22,6% abaixo dos 11,5 mil do mesmo mês em 2024 e 15,9% aquém dos 10,6 mil registrados em julho. E, até o momento, segundo o dirigente, ainda não há nada previsto relacionado ao programa de renovação de frota, o que impulsionaria em definitivo este ramo.
Ele contou que a Anfavea tem trabalhado com o governo propostas para melhorar as condições do Finame, que não tem a incidência de IOF, “mas que está ficando caro”, e também com relação à dupla penalidade deste imposto no mercado, no floor plan, que é o financiamento de estoque de veículos usado por concessionárias para adquirir veículos das montadoras e no CDC.
“Da maneira como está sendo cobrado o IOF está 10% maior neste segmento. Por isto protocolaremos junto ao governo uma carta expondo que estas condições prejudicam as operações de caminhões em busca de mudanças.”