São Paulo – Começar de Novo, a autobiografia de Waldey Sanchez, que se aposentou há pouco mais de quatro anos como chefão da MWM e que foi o responsável pela integração da International, subsidiária da Navistar, com a MWM, em 2005, traz duas epígrafes, a síntese aparente dos seus propósitos. Uma, estritamente profissional, é tão saborosa como fundamental: Você não tem uma segunda chance de causar a primeira boa impressão. Isso ele absorveu do amigo Al Ries, arguto profissional de marketing de Nova York. A outra é apenas humanista, de Antoine de Saint-Exupéry: O verdadeiro sentido de uma profissão é unir os homens.
Essa autobiografia é o perfeito reflexo do autor: caloroso e disciplinado, cartesiano e afiado, duro cobrador e educadíssimo apoiador. Um otimista desesperadamente necessário.
Atual presidente do Sindipeças o herdeiro do Grupo Ioschpe, Dan, escreve, no prefácio, que Sanchez “é um personagem. Um formador de gente por ser um líder completo. Motivador, inspirador, extremamente capaz e habilíssimo negociador. E, além, disso, um amigo de todos e grande companheiro. Tudo isso já bastaria para que ele fosse admirado e chegasse onde efetivamente chegou, com uma carreira espetacular, que se desenvolve em uma empresa multinacional, que passa a ser brasileira e que desemboca, novamente, em uma multinacional dos Estados Unidos, que se funde, por obra dele, a uma multinacional alemã!”.
É a história de um especialista, em informática, em uma época em que computador era conhecido como cérebro eletrônico, que se tornou administrador de empresas pela Fundação Getúlio Vargas e que esteve, afinal, tantas vezes, no lugar certo e na hora certa, pronto para sair correndo para fazer bem feita a sua tarefa. Ele diz que, muitas vezes, “o universo conspirou a favor”.
Essa é, talvez, a singularidade marcante da sua persona profissional: ele conseguiu, sempre, fazer tudo certo, inclusive as tarefas que ninguém desejava para si – como estabelecer o quadro diretivo e gerencial definitivo durante a integração da Navistar com a MWM. Teve a ventura de conviver com muitos mestres anônimos por onde passou, a quem ele agradece, e de quem bebeu ensinamentos preciosos, e de ter dois orientadores que ainda são os Mestres dos Mestres no setor de veículos, André Beer e Wolfgang Sauer.
Isso não é coisa pouca, principalmente para o Menino nascido à luz de bateria de avião, como conta, no Campo de Marte, pequeno aeroporto que o crescimento da cidade de São Paulo transformou em quase central, em 13 de julho de 1950.
Sua mãe era uma Bermudes e seu pai um Sánchez, de Jaú, SP, primeira geração de filhos de imigrantes espanhóis que, afinal, aportaram ao Campo de Marte quando Manuel conseguiu emprego de guarda, zelador e faz tudo no Hangar Camargo.
Até Waldey sair de casa, em 1974, foi ali, na porta de entrada da Zona Norte da cidade, que ele cresceu, brincou, fez arte, estudou, aprendeu a tocar violão e guitarra e pensou em ser oficial da Aeronáutica, claro, e foi barrado pelo daltonismo.
Ali também começou a tomar as primeiras decisões que deram rumo à sua vida. Uma delas conheci de relato seu muitos anos atrás, ao fim de uma entrevista. Depois de muitas noitadas como músico e de uma reprovação escolar chegou em casa numa madrugada e encontrou o pai à espera: “Se você quiser continuar nessa vida o problema é seu, mas não mais aqui em casa. Aqui é lugar de gente séria, responsável, que quer trabalhar e ser alguém na vida”.
Decidiu abandonar a jovem carreira: “Creio que o AI-5 do meu pai naquela noite foi muito duro para ele, mas certamente definiu uma nova etapa do que seria minha vida no futuro”.
Dias depois esta nova etapa surgia no horizonte de Waldey Sanchez na forma de emprego do Banco Lar Brasileiro, o Chase Manhattan, na avenida Ipiranga, no Centro Novo da cidade. Depois veio a Prodesp, a estatal paulista de processamento de dados, até entrar, em 1975, como analista de planejamento, na Massey Ferguson, que se tornou Massey Perkins e depois Maxion, International Engines, International Indústria Automotiva do Mercosul…
Os grandes desafios surgiriam, sempre, ligados a essas empresas. Todas elas sofreram algum padrão de evolução identificado pelas digitais de Waldey Sanchez, inclusive fora do Brasil, tantas foram as alegres caravanas de negócios de que participou, Iraque, Grécia, China, Egito, e os novos e inesperados locais de moradia, Argentina e Rio Grande do Sul.
Enfim é, a desta autobiografia, uma história exemplar, como a poderia chamar Saavedra. De um Menino que realizou, tem discípulos, tem admiradores. De um Menino que elaborou uma obra. Mas, principalmente, de um Menino que, depois disso tudo, mantém infinidade de amigos.
(Começar de Novo, de Waldey Sanchez, publicado pela Reino Editoral em São Paulo, em 2020, 198 páginas. Informaremos aos leitores assim que suas estrutura de distribuição, e seu preço, estiverem definidos.)
Foto: AutoData.