São Paulo – Dizia parte do comunicado publicado pela Fiat em seu perfil @fiatbr no Instagram, na tarde da terça-feira, 26. “A Fiat declarou seu repúdio a toda e qualquer expressão de cunho homofóbico, considerando inaceitáveis as manifestações movidas por preconceito, ímpeto desrespeitoso ou excludente”.
Uma das maiores patrocinadoras do time de vôlei Fiat Minas Gerdau, a montadora falou ao público e sua postura foi, também, uma forma de pressionar a direção do clube a tomar, ou cobrar, outra atitude do jogador Mauricio Souza, que dias antes, na mesma rede, publicou declarações homofóbicas e atacou a população LGBT, tendo como pano de fundo uma história em quadrinhos do Super-Homem.
A posição da Fiat teve algum efeito: no dia seguinte o jogador foi demitido do clube, após usar, mais uma vez, o Instagram para pedir desculpas sem, de fato, demonstrar arrependimento ou vontade de se desculpar. O famoso “me desculpe quem se sentiu ofendido”.
O posicionamento da marca, e aqui cabe um parênteses para parabenizarmos por ele, chama a atenção pelo seu contexto, em uma indústria historicamente machista. Que vem tentando se desvencilhar deste paradigma, adotando práticas internas para reduzir os comentários homofóbicos no chão de fábrica e nos escritórios mas que, nós sabemos, é algo que demanda um certo tempo e, por que não dizer?, mais vontade dos líderes.
A Fiat não está sozinha. Há algumas semanas, no mesmo Instagram, a Volkswagen do Brasil publicou no @vwbrasil uma foto com um casal gay se abraçando. Não fez barulho: postou a foto, como se fosse algo corriqueiro – não que não possa ser, mas no mundo do marketing, em especial o automotivo, ainda é considerado tabu. Manteve o post, mesmo com algumas vozes reclamantes inundando a caixa de comentários de chorume.
Na Alemanha, no fim de agosto, a Ford rebateu um destes comentários preconceituosos com uma resposta divertida: ao receber de um internauta a classificação de “muito gay” para a picape Ranger Raptor azul, a montadora simplesmente a pintou de dourado brilhante e estampou arco-íris e corações rosas na carroceria. “Na verdade seria assim uma Raptor muito gay”.
O modelo saiu do papel e foi exibido, junto a um Ka também estampado com as cores do arco-íris, no centro de Colonia, em celebração à parada LGBTQI+ que ocorreu lá.
Ainda é muito pouco diante de diversas manifestações machistas do passado e presente dentro das organizações, mas já é um primeiro passo. Não podemos negar que, talvez, muito desse novo discurso seja por causa do pink money, como é chamado o dinheiro da população LGBTQI+. Ninguém em um conselho de administração seria maluco de abrir mão dessa receita para manter sua posição de machão.
É preciso valorizar as novas posturas e seguir cobrando. ESG não são apenas três letras.
Segundo turno. A Nissan iniciou a contratação de 578 metalúrgicos para abrir um segundo turno de produção em Resende, RJ.
Terceiro turno. A Toyota começa, no fim do novembro, a produzir em três turnos em Sorocaba, SP. 550 contratações.
Lay off. General Motors, em São José dos Campos, SP, Renault, em São José dos Pinhais, PR, Stellantis, em Betim, MG, e Volkswagen, em São Bernardo do Campo, SP, são algumas que suspenderam provisoriamente o contrato de trabalho ou abriram PDV para contornar a crise dos semicondutores.
Loucura. A indústria automotiva brasileira passa por uma crise de identidade. Pudemos conferir no Congresso AutoData Perspectivas 2021: enquanto uns falam em mercado de, talvez, 2 milhões de unidades neste ano, outros apostam em volumes até 15% maiores.
Lustrar a bola de cristal. AutoData cumpriu seu papel de buscar clarear o horizonte do setor debatendo com mais de vinte líderes da indústria, que apresentaram suas perspectivas para 2022. Mas ainda há muita, muita neblina, especialmente no curto prazo.
Este texto foi originalmente publicado na coluna que AutoData mantém no portal UOL, publicada todas as sextas-feiras.
Foto: Reprodução/Instagram.