O vice-presidente da Ford para América Latina, Rogélio Golfarb, é taxativo ao afirmar que a indústria automotiva ainda não fez todo o ajuste necessário nos volumes de produção. “Apesar de todo o esforço e da adoção de mecanismos como lay-off, férias coletivas, licença remunerada e PPE, o resultado não foi o bastante. Os estoques ainda permanecem muito altos”, disse. O executivo foi um dos palestrantes do segundo dia do Congresso AutoData Perspectivas 2016, a quarta-feira, 21, na sede da Fecomércio, em São Paulo.
Golfarb afirmou que as vendas estão caindo sistematicamente, forçando os estoques. “Apesar dos cortes dramáticos, eles não foram suficientes. O setor automotivo ainda produz mais do que deveria. Temos espaço para mais cortes de produção.”
.O executivo acrescentou que os custos para manter os estoques são altos, tanto para montadoras quanto distribuidores. “Os estoques de produtos acabados são especialmente caros. Há muitas empresas tomando empréstimos no mercado, mesmo com juros altíssimos, porque precisam fazer caixa para pagar custos fixos enquanto convivem com os pátios cheios.”
No caso específico da Ford, segundo Golfarb, a situação é um pouco melhor do que a média do mercado. “Somos cautelosos com a questão de capacidade. Nos momentos positivos até sofremos pelo conservadorismo.” Ele afirmou ainda que a companhia fez ajustes na produção e tem parte do processo realizado apenas com pedidos fechados. “Monitoramos o volume de estoques dos distribuidores constantemente. Mas não podemos afirmar que não teremos de fazer novos ajustes.”
Durante sua apresentação o VP considerou como atípico o quadro atual, onde as montadoras devem perder 1,1 milhão de unidades em relação ao volume vendido em 2014 – e encerrar o ano com cerca de 2,5 milhões de veículos comercializados. “A produção deve encolher em um milhão de unidades, para 2,4 milhões neste ano. Estamos em um novo patamar.”
Por seus cálculos o faturamento da indústria automotiva cairá 26,7% neste ano, na comparação com 2014. “Iremos de R$ 156,7 bilhões para R$ 114,8 bilhões” – e com isso as remessas de lucro das montadoras também serão afetadas: “No ano passado foram US$ 3,7 bilhões e neste ano não passará de US$ 100 milhões”.
Ao passo que caem as remessas aumentam os empréstimos das matrizes: neste ano, segundo Golfarb, serão cerca de US$ 3,3 bilhões enviados ao País para ajudar as empresas a fechar as contas. “No ano passado foram US$ 700 mil, ou seja: a alta é de 371%. Não é uma questão apenas de queda no lucro, é mais grave. Falta dinheiro para cumprir os custos fixos.”
Ele também apresentou o que chama de “nova realidade do mercado”: das 2,5 milhões de unidades projetadas para 2015 as montadoras de maior volume, calcula, serão responsáveis por 1 milhão 187 mil unidades, as emergentes – basicamente as asiáticas –, por 787 mil e as demais 551 mil. “As duas extremidades perderão mercado.”
A explicação, argumenta, é que montadoras como Honda, Toyota e Hyundai “não carregam problemas do passado, como questões trabalhistas antigas. Além disso têm fábricas mais novas e um mix de veículos com margens maiores. O nível de competição interno aumentou dramaticamente e isso veio para ficar”.
Em sua visão, complementou, as dificuldades econômicas e políticas enfrentadas pelo País são passageiras. “Isso que estamos vivendo não é o Brasil de verdade. O Brasil está condenado a crescer e vamos voltar para esse momento.”
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