São Paulo – O cenário pós-crise do novo coronavírus na Argentina se apresenta, na melhor das hipóteses, como uma catástrofe. A opinião bastante pessimista é de Federico Servideo, presidente da Camarbra, a Câmara de Comércio Argentino Brasileira: “O ano passado já foi complicado em termos econômicos. O país estava melhorando um pouco, mas ainda longe de resolver uma situação bastante deteriorada.”
Ele estima que o PIB argentino termine o ano em retração de 8% a 10% – antes da pandemia o cenário previa estabilidade ante 2019.
Servideo afirmou que os portos brasileiros e argentinos estão abertos às trocas de mercadoria, ao contrário de pessoas, mas que diante do cenário tudo está economicamente paralisado: “No domingo [29 de março] o governo estendeu a quarentena em todo o país até 13 de abril, ou seja, por mais duas semanas” – a data inicial prevista para o término da ação era a segunda-feira, 30 de março.
Ele contou que a restrição é bem maior do que a observada no Brasil, e se estende ao país como um todo: “Na Argentina as ações estão bem mais centralizadas e coordenadas do que no Brasil. O novo governo conta com apoio da maioria para tomar as medidas necessárias, inclusive da oposição. Para sair de casa as pessoas têm que fazer um pedido pela internet, e os acessos às cidades estão fechados”.
Pelos cálculos da Camarbra cerca de 45% do movimento econômico gerador do PIB estão totalmente paralisados, hoje, na Argentina.
“A crise pegou a Argentina em um momento muito complexo. Não há reservas, não há BNDES, como no Brasil, a margem para tomar medidas é mais estreita.”
Ainda assim ele relata iniciativas federais, como repasse para os trabalhadores informais de 10 mil pesos e fomento ao crédito, “mas o limite para esse tipo de socorro federal é baixo”.
Estão praticamente paralisadas também, disse Servideo, as conversas do governo argentino com seus credores internacionais: “Diante do cenário os descontos que estavam sendo pedidos deixaram de ser relevantes, pois o montante da dívida cresceu”.
O impacto sobre o câmbio, pelo menos, foi um pouco menor do que no Brasil, na faixa de 10%.
Servideo relatou grande preocupação com a retomada: “Para a Argentina deverá ser em U mas com uma base bastante alargada. No Brasil acredito que acontecerá em V, de uma forma semelhante à que temos visto na China agora. Do ponto de vista macroeconômico entendo que o Brasil está em uma situação muito melhor do que a Argentina”.
Com isso, calculou, em 2021 a Argentina também não deverá crescer, ainda que, espera, vá parar de cair.
A crise fez as consultas à Camarbra dispararem, ele relatou: “Todos em busca de informações sobre o cenário, mas neste momento é praticamente impossível saber”. A câmara até ajudou na repatriação de alguns executivos do lado de lá e de cá da fronteira, até onde foi possível – no momento os acessos de pessoas aos dois países estão fechados.
Foto: Christian Castanho.
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