São Paulo – A Meritor suspendeu investimento de R$ 200 milhões reservados para a construção de uma nova fábrica, em Roseira, SP, anunciada em janeiro, e onde estaria localizada a produção de novos produtos para veículos comerciais, como eixos trativos elétricos. A construção estava agendada para começar em abril, mas a pandemia acabou levando a matriz a reavaliar a ação.
O projeto de uma nova unidade é antigo e remonta a meados da década passada. Na ocasião a crise que derrubou as vendas de veículos comerciais no Brasil adiou os planos. Com a retomada a partir de 2018 a ideia voltou a ganhar forma e neste ano sairia do papel – não fosse a covid-19, segundo o diretor de marketing e vendas, Kleber Assanti: “Estávamos finalizando os trâmites para começar a construir quando surgiu a pandemia e, com ela, a paralisação das atividades”.
A pandemia, inclusive, não permitiu que a empresa finalizasse o processo de compra do terreno de 160 mil m² às margens da Via Dutra. A Meritor, que assentaria ali pedra fundamental em março, estabeleceu uma espécie de acordo com os proprietários do espaço no sentido de mantê-lo reservado. Segundo Assanti por ora não há risco de que o terreno volte a estar disponível para o mercado, mas existe um prazo:
“Ainda temos, por um ou dois meses, assegurada a compra do terreno. Por enquanto não há risco de perder a oportunidade. Se a Meritor começar a demorar pode ser que aumente o risco", afirmou o executivo à Agência AutoData. "O contrato está pronto, só falta assinar e comprar. Isso vai acontecer porque independe da construção ou não da fábrica”.
Na quinta-feira, 9, representantes da subsidiária tiveram reunião com integrantes do board da companhia, cuja casa-matriz está sediada em Troy, MI, para analisar o atual cenário do mercado brasileiro e a partir do parecer apresentado pelos executivos da fábrica de Osasco, SP, buscar ajustes ao investimento anunciado em março – o qual, segundo Assanti, não deverá ser o mesmo.
“Para resumir a Meritor tem dois cenários. Primeiro, avaliar quando começarão as obras de construção. E, num segundo momento, avaliar quanto cabe de investimento porque já não é mais o mesmo cenário de antes. Estamos vendo como realocar esse investimento dentre todos outros. Estamos reavaliando como adequar o investimento à nova realidade, não sua possibilidade de acontecer ou não.”
Independente do cenário a empresa descarta a possibilidade de que algo seja erguido em Roseira antes de abril de 2021, data que a nova fábrica estaria concluída segundo planejamento inicial pré-pandemia: “Construir antes disso seria perder tempo, uma vez que o fim do ano é marcado por chuvas que podem atrasar a obra”.
O empreendimento, que teve apoio da Investe SP para sair do papel, seria construído no modelo built to suit, conceito que estabelece a execução da obra por uma construtora que, depois de terminada a obra, aluga o espaço ao contratante por meio de contratos de longo-prazo. A modalidade, em tese, reduz os custos de quem encomenda o projeto e geralmente as construções são modulares de acordo com a necessidade da empresa que pretende se instalar.
O projeto de uma nova fábrica é considerado estratégico pela Meritor porque será nela que serão desenvolvidos os produtos que a empresa pretende lançar no médio prazo. Dentre eles o eixo elétrico que deverá equipar uma segunda versão do caminhão elétrico Volkswagen e-Delivery, que será produzido em aliança, o e-Consórcio – uma alusão ao consórcio modular que rege a montagem de caminhões e ônibus na unidade de Resende, RJ, e da qual a Meritor faz parte.
À primeira versão do e-Delivery, com lançamento projetado para o primeiro semestre do ano que vem, será fornecido o eixo trativo de acionamento mecânico MS-120, produzido em Osasco e já consolidado no OEM de caminhões e ônibus.
A suspensão do investimento na fábrica de Roseira não chegou a afetar os negócios da Meritor na região e nem deverá impactar, uma vez que, segundo Kleber Assanti, há capacidade ociosa na unidade de Osasco. Ele disse que em março, antes do aparecimento dos primeiros reflexos da pandemia, a unidade produzia cerca de 8 mil eixos/mês– 4 mil a menos do que a capacidade total da fábrica.
A partir de abril a companhia reduziu a jornada de trabalho na unidade em 25% e a produção caiu pela metade, chegando a 4 mil eixos/mês. Em julho a empresa pretender chegar a 15% de redução da jornada, com estimativa de voltar a produzir algo próximo aos 8 mil eixos até outubro.
Anima a empresa possível aquecimento do mercado de caminhões pesados na esteira das demandas do agronegócio. As projeções revisadas da Anfavea indicam produção de 82 mil unidades de veículos pesados este ano, volume que representará, caso confirmado, retração de 42% ante o desempenho registrado em 2019.
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