São Paulo – Palavras recentes de presidentes de empresas produtoras de veículos no Brasil, colocando em dúvida sua capacidade de reterem, até dezembro, o padrão atual de empregos não podem, nem devem, ser interpretadas como palavras ao vento: Antonio Filosa, da FCA, Carlos Zarlenga, da GM, e Pablo di Si, da Volkswagen, estavam falando muito seriamente. A situação projetada é tal que outro executivo de primeiro time, que falou a AutoData em off the record, considerou-se “cautelosamente pessimista” com as perspectivas até 2025.
E por que 2025? Porque, de acordo com a projeção da Anfavea, será o ano em que, finalmente, o padrão de produção da indústria automotiva voltará ao patamar de 2019. Haverá ganhos ano a ano, é certo – mas o que fazer com a capacidade instalada ociosa, coisa de 65% neste instante e que voltará aos… 40% no fim de 2025?, perguntou o profissional.
É, essa, uma pergunta instigante. Mas há outras. Como pagar a dívida acumulada pelas montadoras com mercado tão em baixa?, ele perguntou. É dívida respeitável: eram US$ 3 bilhões até março, gerados por empréstimos intercompany, e mais R$ 37 bilhões obtidos depois de abril no sistema financeiro nacional e do Exterior, dinheiro que somente pode ser pago via produção e venda de veículos. Ah!: este valor continua a crescer.
E o que fazer, num instante como o atual, em que o crédito ao consumidor, em operações de compra de veículos, implica taxas crescentes? – e sem sinais de regressão.
“Como gerar PIB que garanta a evolução dos negócios visando ao desenvolvimento do País, à geração de empregos tão necessários e, no nosso caso, ao pagamento dessas dívidas? É um desafio e tanto.”
A taxa de crescimento, em 2021, dependerá em muito boa parte de ajuste fiscal promovido pelo governo, o que significa que o governo deveria reduzir em bom bocado os seus custos. O ano que vem carrega outra particularidade, que é ser véspera de ano de eleição para a Presidência da República, na qual “todos” já estão empenhados: o PIB teria de crescer de qualquer jeito até para impedir efeito maléfico, na forma de voto contrário, daqueles que integram o contingente de cidadãos sem emprego e sem renda.
O governo acena com reforma tributária, com a simplificação de alguns processos, mas para carregar aquela areia toda faltam, a ele, governo, muitos caminhõezinhos.
A impressão que tem o executivo é a de que, aparentemente, este governo não pretende deixar, à Nação, legado de crescimento econômico que possa chamar de seu. É conhecida sua indiferença à atividade industrial, ao incentivo à atividade privada com potencial de gerar PIB e emprego.
O executivo elenca, também, a situação atual do câmbio e a atitude dos bancos públicos, BNDES incluído, no que diz respeito à concessão de financiamentos, nas dificuldades que tem o governo no seu esforço de mudar a percepção das pessoas a respeito da realidade.
“Nesse quadro a margem de manobra deste quase teatro de guerra torna-se muito pequena. E, com muito pouco dinheiro para trabalhar, as expectativas baixam exponencialmente, assim como as possibilidades e as contingências.”
Resta uma certeza: do governo não virá nenhuma resposta a tantas perguntas. Se vier será acompanhada de sucessivos não.
Foto: Pedro Ventura/Agência Brasília.