São Paulo – No terceiro trimestre do ano a Empresas Randon, de Caxias do Sul, RS, ampliou seu faturamento líquido consolidado em 64%, para R$ 2,5 bilhões. Há quinze meses, de acordo com o CEO Daniel Randon, os resultados têm sido históricos. Em 2020 e 2021 o grupo adquiriu a Nakata Automotiva, por meio da Fras-le, Fundituba, CNCS e os ativos da Menfund pela Castertech, Ferrari Metalúrgica pela Master e Auttom e Randon Corretora de Seguros pela holding controladora.
Em cenário marcado por adversidades como a escalada da inflação e a escassez de semicondutores e matérias-primas, resíduos da pandemia, a Randon manteve investimento em tecnologia para ampliar sua capacidade produtiva a partir da digitalização de processos e da maior presença da automação ao colocar em prática seu mantra: fazer mais com menos. E continuou apostando na aquisição de empresas a fim de pulverizar seus ativos e expandir sua área de atuação. Hoje, a empresa, fundada em 1949, congrega quarenta CNPJs, emprega 15 mil funcionários e está presente em 120 países. Acaba de atingir o marco de produção de 500 mil semirreboques e detém 32% de market share, o que está aquém do desejado, pelo menos 35%.
Com esta receita o conglomerado de empresas diluiu o aumento dos custos, ao ganhar em escala, e conseguiu ampliar seus resultados.
Do total da receita líquida 52,3% foram gerados pelo segmento de autopeças, na carona da forte demanda das OEM e do mercado de reposição, além da adição das receitas de empresas adquiridas recentemente. Em torno de 45% provêm da divisão de montadoras, puxados pela venda recorde de implementos e vagões. O restante, 2,7% correspondem a serviços financeiros e digitais.
Durante reunião na Apimec para apresentar os resultados na sexta-feira, 12, Randon afirmou que quem olha a companhia de cinco anos atrás e a compara com a dos dias atuais vê algo bem diferente: “Além do crescimento orgânico das nossas operações realizamos inúmeros movimentos de aquisições, parcerias e constituições de novas empresas. Todas elas agregaram aspectos relevantes aos nossos negócios”.
Neste ano se encerra ciclo de investimento de R$ 1,8 bilhão iniciado em 2017.
De julho a setembro o lucro líquido foi ampliado em 149% ante o mesmo período de um ano atrás, totalizando R$ 288 milhões. Todas as linhas de produtos apresentaram aumento nas vendas tanto no mercado doméstico como internacional, este favorecido pelo câmbio na casa dos R$ 5,50, pela valorização das commodities e pelo avanço da vacinação contra covid. Segundo o CFO da Empresas Randon, Paulo Prignolato, neste período os países em que a companhia atua voltaram a ampliar suas compras, o que ajudou na diluição dos custos fixos e da manutenção das margens em bom patamar.
Contribuiu para o bom resultado também o reconhecimento do crédito no processo de exclusão do ICMS da base de cálculo do PIS/Cofins na unidade produtiva de São Paulo. E o reconhecimento de créditos tributários com a decisão no Supremo Tribunal Federal a respeito da não incidência de IR e CSSL sobre a correção da Selic, pagos por repetição de indébito tributário.
O futuro é agora – O vice-presidente executivo da Empresas Randon e CEO da Fras-le, Sérgio Carvalho, ressaltou ações recentes da área de inovação e tecnologia. Lembrou que há pouco mais de um ano foram adquiridos 260 robôs e que houve a criação de nova unidade de negócios, a RTS Industry, com o objetivo de acelerar a transformação industrial ao desenvolver equipamentos que se traduzem em mais produtividade, segurança e qualidade automação: “Gostamos tanto desse campo que adquirimos a Auttom em abril”.
Ele avaliou que a companhia "tem criado muita coisa boa no que se refere à inovação de produto: em 2019 desenvolvemos nossa carreta elétrica, anunciada na Fenatran, que agora está em testes com frotistas. Esse produto tem que ser regulamentado pelo Denatran para que possamos iniciar a comercialização”. A expectativa é a de que no ano que vem isso deva acontecer.
Destaque também para a divisão de smart composites da Fras-le, que em agosto iniciou a fabricação do seu primeiro produto com materiais específicos que substituem o aço e pesam 65% menos do que o metal: “Ambos têm a mesma durabilidade e ele é extremamente competitivo em termos de custo. Os veículos passam a ficar mais leves e precisam de menos combustível e menos energia para rodar. A equação fica muito mais favorável ao transportador”.
Outra novidade, divulgada há cerca de um mês, é o semirreboque Concept Trailer, desenvolvido em parceria com a Volvo. A carreta-conceito possui 1 mil quilos a menos, com lonamento automático usando adesivos estruturais para o ligamento do produto e muita eletrônica embarcada.
Carvalho citou também o trabalho do Centro Tecnológico Randon em parceria com o Instituto Hercílio Randon, que em agosto anunciou a descoberta de novo método para obtenção de nanopartículas de nióbio em larga escala: “Trata-se de mineral raro e caro que melhora as propriedades mecânicas do aço de dos fundidos. Criamos e patenteamos processo de transformar o nióbio em nanopartícula. A sua criação já existia, mas ela não era comercialmente viável”.
As aplicações ainda estão sendo descobertas, mas se aplicadas na pintura, por exemplo, ela passa a durar de três a quatro vezes mais.
De julho a setembro a Empresas Randon investiram R$ 179,9 milhões. Deste valor a maior parte, R$ 52,2 milhões, foi destinada à integralização de capital para a constituição da Castertech Schroeder. R$ 23,9 milhões foram direcionados à aquisição de máquinas e equipamentos, R$ 4,9 milhões à automação industrial e R$ 2,4 milhões à ampliação de estruturas físicas. A ampliação da unidade de Araraquara, SP, que terá nova linha de basculante, siders e vagões – a partir de 2023, o espaço receberá ramal ferroviário – consumirá aporte total de R$ 40 milhões, mas nesse trimestre gerou desembolso de R$ 4,1 milhões.
Para 2022 a perspectiva do grupo é positiva, uma vez que boa parte da demanda provém do agronegócio, que tem projeção de safras recorde – e 68% da receita da divisão montadora são geradas pelo setor. O otimismo também advém das novas tecnologias e produtos e pelo fato de a crise dos semicondutores não atingir os pesados da forma como afeta os leves. Sinal de alerta apenas para a taxa básica de juros, hoje em 7,75% ao ano, principalmente se chegar aos dois dígitos, o que aumenta o custo de captação e reduz a margem bruta e pode estar mais perto do que se imagina, pois há expectativa de que em dezembro avance aos 10%.
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