Empresas pedem prioridade na destinação de produtos para ônibus em vez de caminhões
São Paulo – Um dos maiores desafios enfrentado por encarroçadores de ônibus este ano, passado o período mais crítico da pandemia que retraiu fortemente a demanda, é a falta de insumos, incluídos os semicondutores, para compor os chassis. Diante da consequente demora para entregar o produto por parte das montadoras, que inclusive têm adotado férias coletivas e pausas na produção, as empresas fabricantes de carrocerias temem não dispor de oferta quando a procura for totalmente restabelecida.
Essa preocupação foi partilhada por Ruben Bisi, presidente da Fabus, Paulo Corso, diretor comercial da Caio, e James Bellini, presidente da Marcopolo, durante o segundo dia do Fórum AutoData de Veículos Comerciais, realizado de forma online pela AutoData Editora até quarta-feira, 27.
Para Bisi, o fornecimento de chassis é o maior desafio:
“Temos a líder nacional, Mercedes-Benz, com dificuldade de entregas em função de chips e controladores de motores, o que esperamos que se regularize nos próximos meses. Como outros fabricantes ainda têm disponibilidade, poderemos chegar ao fim do ano com recuperação de 20% a 25% do que foi 2021. Nosso mercado parou de cair, teve recuperação, mas esperamos que ela seja constante para que possamos voltar ao pré-pandemia e, quem sabe, a 2011, com 32 mil ônibus vendidos, nosso recorde histórico.”
Ruben Bisi, presidente da Fabus
Outro ponto em comum que tem tirado o sono dos encarroçadores é a dificuldade de acesso a financiamento por parte dos clientes, que ainda estão debilitados pela crise trazida pela covid-19. Adicionalmente, com a guerra na Ucrânia, houve disparada dos preços de matérias-primas em até 20%, como aço, cobre e plástico.
Corso relatou que o custo dos insumos e também da mão de obra vêm aumentando a galope:
“Todos os dias refazemos as planilhas de custos, que aumentaram de forma descontrolada. Isso vale tanto para o rodoviário como para o urbano”.
Paulo Corso, diretor comercial da Caio
Quando se atrasa a entrega de um produto a clientes tradicionais, ponderou o diretor comercial da Caio, o valor acordado é o de dois ou três meses atrás, enquanto que o da matéria-prima é o de hoje, o que causa desequilíbrio.
Esse aumento acelerado de custos, concordou Bellini, tem provocado negociações difíceis devido à necessidade inerente do repasse de preços.
Isso sem falar no preço dos combustíveis, que, por um lado, atormenta quem opera frotas urbanas pelo impasse diante do custo das passagens, mas, por outro, beneficia os que atuam no segmento rodoviário, que se tornou mais vantajoso para viajar de ônibus do que de carro ou avião, uma vez que o querosene não passou ileso dos aumentos e as estradas têm cada vez mais pedágios, o que eleva a qualidade e a segurança ao mesmo tempo em que os custos para quem viaja por meio delas.
Não fossem suficientes os problemas, os executivos apontaram a existência de tendência de que as fabricantes de chassis destinem os componentes que forem recebendo aos caminhões em detrimento dos ônibus.
O presidente da Marcopolo afirmou que os encarroçadores entendem que tudo é reflexo de problema mundial.
“Gostaria de pedir aos parceiros da indústria uma certa prioridade na produção de chassis, em vista do impacto que nosso setor teve na pandemia e da consequente redução de participação dos ônibus em comparação a dos caminhões.”
James Bellini, presidente da Marcopolo
Incertezas – O maior receio é o de que no segundo semestre, naturalmente mais aquecido para o setor, seja marcado por acúmulo de pedidos e dificuldade de entrega. Principalmente porque, com o início do Euro 6 a partir de 2023, haverá antecipação de compras de Euro 5, a fim de conseguir veículo 0 KM com preço mais acessível que o do modelo com a tecnologia de redução de emissões mais atualizada.
Bisi contou que foi pleiteada a mudança para a entrada em vigor do Euro 6, o que não foi possível. Corso complementou que “nem todo mundo está preparado para despejar veículo Euro 6 no mercado”, apesar de a solução ser benéfica ao meio ambiente.
Se houver ajuda das montadoras e melhora do cenário global, avaliou Bellini, o mercado brasileiro poderá absorver até 20 mil unidades neste ano.