São Paulo – A operação brasileira da Scania foi duramente afetada nos últimos dois trimestres pela falta de componentes eletrônicos, levando a interrupções na produção de caminhões que somam cerca de trinta dias. Agora o fornecimento de semicondutores está sendo reestabelecido e o objetivo é compensar as paralisações ajustando a linha para produzir acima da capacidade nominal da fábrica de São Bernardo do Campo, SP.
“Teremos de produzir em sete meses o que normalmente fazemos em doze, para poder atender à robusta carteira de pedidos que felizmente ainda temos pela nova geração de caminhões.”
Foi o que disse Cristopher Podgorski, presidente da Scania América Latina, em sua participação na quarta-feira, 27, no Fórum AutoData de Veículos Comerciais. De acordo com ele, com a aceleração da produção, o objetivo é repetir o mesmo volume produzido no ano passado, 25,4 mil veículos, mas em menos tempo – a capacidade máxima da fábrica de de São Bernardo é de 30 mil unidades/ano. Podgorski contou que a Scania foi mais afetada pela falta de componentes do que seus concorrentes, especialmente por causa da nevasca que interrompeu a produção de semicondutores em uma fábrica no Texas, Estados Unidos, e do incêndio que reduziu a cinzas uma unidade da Renesas no Japão:
“Mas o pior já passou. Estamos há seis semanas produzindo dentro do planejamento: conseguimos reestabelecer a confiança na cadeia de suprimentos.”
O presidente da Scania também confirmou que algumas paradas ainda terão de ser feitas em maio, em três segundas-feiras, segundo fontes revelaram à reportagem de AutoData: “Existem alguns motivos para essas paralisações, principalmente porque precisamos ajustar a fábrica para acelerar a produção sem paradas a partir de junho até o fim do ano”.
Rússia e as exportações – A fábrica brasileira da Scania é polo de produção global para algumas linhas de produtos. Em 2021 as exportações consumiram pouco mais de um terço da produção, 37%. E a Rússia é um dos mercados atendidos pela operação de São Bernardo.
Com as sanções impostas pela União Europeia após a invasão da Ucrânia “as exportações daqui para a Rússia foram suspensas e não têm prazo para ser retomadas”, disse Podgorski: “Mas isso não é um problema no momento, pois temos como redirecionar a produção para atender aos pedidos que temos”.
Para o executivo 2022 será um ano de muita volatilidade, incluindo fatores internos e externos, como a instabilidade no Leste Europeu provocada pela guerra e pelo repique da pandemia de covid-19 na China, que volta a desestabilizar as cadeias de suprimentos e a mostrar a fragilidade da estratégia de globalização.
“Vivemos a implosão da jornada de globalização, que deixa de existir com guerra na Ucrânia e da volta da covid à China. Essa crise deve servir de aprendizado, soluções globais precisam de redundâncias, com mais de uma fonte de fornecimento de componentes.”
O próprio Podgorski revelou que está em fase final de recuperação após contrair a doença e perder 6 quilos, “o que mostra que a covid ainda não é um assunto completamente resolvido”:
“No Brasil os indicadores macroeconômicos de inflação, juros e PIB não são em nada animadores, mas os segmentos que puxam o nosso negócio felizmente continuam em alta, como agricultura e mineração, o que deve garantir nossos objetivos este ano. O que mais nos afetou até agora foram os distúrbios da cadeia de fornecedores”.