São Paulo – Atentas às tendências de inovação e descarbonização do setor as fabricantes de autopeças Dana, que fornece sistemas de transmissão e propulsão, e Schulz Automotiva, que atua com fundição, usinagem, pintura e montagem, são otimistas quanto às oportunidades que já estão surgindo quando o assunto é eletrificação.
O bom humor se dá tanto por reunir condições de atender as novas tecnologias como por seguir abastecendo mercados em que a transição se dará de forma mais gradual, como o Brasil, diversos países da América Latina e Índia.
Foi o que avaliaram em consonância o presidente da Dana, Raul Germany, e o diretor de operações da Schulz Automotiva, Bruno Ferrari Salmeron, durante debate promovido no terceiro e último dia do Seminário Compras Automotivas 2022, realizado de forma online pela AutoData Editora.
Germany afirmou que descarbonização e localização são pontos que estão crescendo muito, sem perder a chance de se apoiar nas tecnologias que sustentam suas atividades até hoje:
“Temos uma oportunidade única pela frente de nos desenvolver, investir e crescer com possibilidades de negócio sem perder capacidade de geração de receita e resultado com a tecnologia que se tem hoje. Esperamos que o empresariado brasileiro acredite nisso também”.
Raul Germany
A estadunidense Dana, que completa 75 anos de atuação no Brasil em 2022, tem no País maior parcela de produção, 80%, direcionada a veículos comerciais, o que inclui o segmento de agronegócio. Apenas 20% são para leves, enquanto que, globalmente, esse percentual sobe para 50%.
Para Germany, a próxima grande onda está nos veículos comerciais, que de três a cinco anos deverão se tornar o principal canal de fabricação de componentes que atendam a eletrificação.
Ele citou que atualmente no País é possível trabalhar em drivetrain eletrificados, como motor central e inversores, e componentes que dão suporte a eles. “A direção hidráulica deixará de existir ou se tornará eletricamente assistida, o sistema de ar-condicionado é agora eletricamente acionado e há uma série de outros controles que combinamos em um mesmo conjunto para simplificar para as montadoras.”
E disse também que há componentes que não são serão afetados pela nova tecnologia, como eixo dianteiro, eixo cardan e suporte de carga do eixo traseiro. “Há apenas uma mudança de perfil. Portanto temos oportunidade tanto localmente quanto para exportação.”
A Schulz, multinacional brasileira presente em montadoras de veículos industriais na linha de caminhões, tratores e equipamentos de produção, vê muitas chances no segmento de agronegócio que, segundo Salmeron, tem trazido excelentes oportunidades de nacionalização, inclusive. Para ele, fornecedoras relacionadas ao powertrain acabarão sendo mais afetadas nesse movimento rumo à eletrificação.
“Hoje há linha completa de tratores sendo fabricada no Brasil e percebemos claramente essa mudança de mix. Aquele tratorzinho pequeno está deixando de ter espaço na agricultura familiar e vemos cooperativas se profissionalizando em termos de gestão e governança e mostrando importância em ter um agro mais mecanizado e conectado. Ou seja, estamos diante do sonho de que o Brasil passe a ser plataforma de exportação de inovação.”
Bruno Ferrari Salmeron
O diretor de operações da Shulz, sediada em Joinville, SC, contou que como estão em um Estado em que há um grande fabricante de motores elétricos, a empresa está sempre conectada a ele para fornecer o que estiver relacionado à área de mobilidade industrial com eletrificação.
“Fazemos parte de plataforma de ecossistema chamada Ágora Tech Park, que reúne dez grandes empresas, e com isso estamos próximos à eletrificação. Também criamos um grupo de inovação para eletrificação veicular que une academia e indústria. Acreditamos que ninguém faz nada sozinho.”