São Paulo – Muito se discute sobre a necessidade da nacionalização, ainda mais após a crise do coronavírus e a guerra da Ucrânia, que escancararam as deficiências em apostar as fichas em fornecedores de uma só região. Mas o que, de fato, vem sendo feito neste sentido no Brasil, além de estudos e conversas de montadoras com empresas de autopeças?
Um plano concreto, com possibilidades reais de projetos saírem do papel até o fim do ano, foi apresentado por Erwin Franieck, diretor presidente da SAE4Mobilty e integrante do MiBi, Made in Brazil Ilimitado, que desde o ano passado busca identificar oportunidades de localização de itens automotivos, no painel que encerrou o Seminário Compras Automotivas 2022, organizado pela AutoData Editora, na quarta-feira, 25. Segundo o executivo em quatro grupos de trabalho, de oitos atualmente ativos, a meta é localizar componentes do fim deste ano ao começo de 2023.
São estes os quatro grupos mais avançados, por já terem, por aqui, uma cadeia estabelecida: componentes metálicos, componentes eletroeletrônicos, componentes plásticos e conjuntos mecânicos. Um exemplo apresentado por Franieck foi os imãs de terra rara, pequenos componentes capazes de levantar mais de 1 mil vezes o seu próprio peso. Segundo ele o projeto está bem avançado, integrando uma cadeia que nunca existiu por aqui, que deverá começar a produzir em breve.
Os grupos que demandarão mais tempo, de três a cinco anos, são transmissão automática, semicondutores, baterias de lítio e sistema de hidrogênio – este último ainda está em formação. Os semicondutores e baterias de lítio foram demandas que surgiram após a elaboração do MiBi, e a transmissão automática foi uma surpresa negativa.
“Acabamos descobrindo no meio do caminho que há muitos problemas, como a presença de muitos ex-tarifários, projetos integrados a plataformas difíceis de serem alterados. Talvez precisemos ir atrás de outras soluções, a partir dos próprios fornecedores.”
Também participante do painel Flavia Spadafora, líder do segmento automotivo na KPMG, acredita que o Brasil esteja vivendo “um momento único: saímos do campo da vontade para a ação, com endosso do governo”. O MiBi é um plano federal, com presença de integrante do ministério da Economia – no caso uma conhecida do setor, Margarete Gandini, coordenadora geral de fiscalização de regimes automotivos.
A consultora ressaltou, também, que não se trata de um processo de desglobalização do mundo, mas de readequação das cadeias que, segundo ela, ocorreria mesmo sem os eventos gerados pelo coronavírus e pela guerra, mas que foram acelerados por eles: “A indústria global está repensando as cadeias, colocando núcleos produtivos em cada região”.
Franieck concluiu: “Antes os fornecedores eram selecionados por CNPJs diferentes, e agora precisamos buscar em dois canais distintos”.