São Paulo — O custo logístico para a importação de peças e componentes subiu de oito a doze vezes na comparação com o período pré-pandemia, afetando diretamente as operações das empresas instaladas no Brasil, que ainda dependem de alto porcentual de itens estrangeiros para manter sua produção local. O encarecimento dos fretes marítimos e aéreos, a falta de contêineres e os atrasos nas entregas deverão prosseguir a curto e médio prazos.
“Cenários sempre podem mudar, mas não acho que teremos grandes recuos nos custos logísticos”, disse Cláudio Henrique Bretz Brizon, diretor de compras da CNH para América do Sul. “Podem até recuar um pouco, mas não voltam mais ao patamar de antes”.
Tarcísio Costa, vice-presidente de gestão de materiais da ZF para a América do Sul, acredita que esses problemas perdurarão e aposta no fim do modelo de globalização que era discutido e desenvolvido antes da pandemia. Ele também lembrou outro ponto que agravou a crise logística: “Ainda temos a guerra na Europa que, se acabasse hoje, ainda causaria impactos em toda a cadeia global até 2025 ou 2030”.
O vice-presidente de compras da Bosch para América Latina, Giulianno Ampudia, não tem esperança de uma solução rápida para todos os entraves logísticos, mas mostrou uma visão de oportunidades para a cadeia de fornecimento nacional:
“Esses problemas trouxeram um novo olhar do mundo para o Brasil e região, pois não temos conflitos religiosos ou grandes desastres naturais, além de contar com uma indústria automotiva altamente capacitada e que está ganhando competitividade internacional”.
Com a logística global cada vez mais cara e com diversos entraves para superar, junto com a valorização cambial, os três executivos concordaram que é a hora de a cadeia de fornecimento investir em localização. O momento é considerado oportuno e Bosch, CNH Industrial e ZF estão com a atenção voltada para a nacionalização de novos itens, buscando reduzir a exposição aos possíveis impactos externos.
Todos esses fatores se somam ao fato de a Europa estar migrando 100% para eletrificação, movimento que no futuro poderá gerar oportunidade de o Brasil e região tornarem-se base exportadora para atender demandas de motores a combustão. Para isso a cadeia de fornecimento também deverá estar mais desenvolvida, com índice de localização maior, para disputar a concorrência pelos novos negócios com outros países.