São Paulo – A ponte que a indústria brasileira atravessará em direção aos 100% elétricos terá diversos caminhos. Em que pese a concordância dos principais executivos do setor, no sentido de que a adoção da mobilidade 100% elétrica terá uma velocidade diferente daquela assumida nos mercados maduros, onde existem legislações que determinam um ritmo mais acelerado, não será apenas uma a tecnologia adotada pelas fabricantes locais. Se somarão ao híbrido puro, aquele já presente em carros da Toyota, soluções diferentes, tendo no etanol a base do discurso de emissões limpas.
Estes são os planejamentos das empresas fabricantes de grandes volumes: as de veículos premium e até alguns modelos das marcas mais tradicionais tendem a chegar mais rápido aos 100% elétricos. O problema está na base do mercado, naquele consumidor que já sofre para adquirir um carro 0 KM hoje pelos preços elevados, que ficariam ainda mais altos caso houvesse uma migração súbita para a eletrificação pura.
A Toyota saiu na frente: até agora é a única a oferecer eletrificação nos veículos leves com produção nacional, apesar do conjunto híbrido ainda ser importado. Desde 2019 sai das linhas da Indaiatuba, SP, o Corolla híbrido flex, que já ganhou companhia do Corolla Cross. A junção do etanol com a tecnologia híbrida garantiu menos emissões e mais eficiência energética – com 1,27 MJ/km, o Corolla sedã é o veículo a combustão mais eficiente produzido no Brasil.
Confirmados, ainda, estão os modelos da Great Wall Motors híbridos, a princípio apenas a gasolina mas já com planos de dotá-los com a tecnologia flex fuel.
Estas seguirão com a tecnologia híbrida tradicional, junto com o flex. Outras empresas deverão adotar a mesma solução, mas ainda não há nenhuma confirmação. A Stellantis, porém, seguirá outra via: o mild hybrid.
Os mild hybrid são parecidos com o sistema híbrido convencional, mas mais leves. Uma bateria de 48 volts alimenta um pequeno motor elétrico que funciona como um gerador que dá força ao motor a combustão, consumindo menos combustível. Esta bateria é carregada na frenagem e ainda funciona sozinha em baixas velocidades, coisa de 20km/h, ou em desaceleração.
Segundo o presidente da Stellantis para a América do Sul, Antonio Filosa, a combinação deste sistema com o etanol é o melhor caminho para o Brasil avançar na eletrificação: “Tudo isso será valorizado e premiará o consumidor brasileiro com produtos com pouco impacto ambiental e mais competitivos”.
Até 2030 a Stellantis planeja que 20% dos veículos fabricados no Brasil sejam eletrificados: “Para as faixas mais altas do mercado haverá opções de carros premium elétricos puros e híbridos plug in. Mas a grande maioria da eletrificação no Brasil será de etanol combinado com motor elétrico”.
Filosa afirmou ainda que o passo seguinte será localizar tecnologias de mild hybrid no País. O atual índice de nacionalização da empresa gira em torno de 65% a 90%, dependendo da fábrica.
Foco na combustão – A General Motors não tem híbridos nos seus planos para a região. Rodrigo Fiocco, diretor de marketing de produto, disse que o foco da engenharia é tornar mais eficientes seus motores flex: “A eletrificação é inevitável mas os motores a combustão ainda terão bastante tempo de vida útil no Brasil”.
O grau de eficiência dos motores da GM são elevados: os Onix 1.0 aspirados alcançam 1,42 MJ/km, pouco acima dos Corolla híbrido flex.
A companhia tem planos robustos de eletrificação de seu portfólio em âmbito global e destina mais de US$ 35 bilhões para os desenvolvimentos, incluindo baterias com autonomia maior. Os elétricos começam a chegar no Brasil nos próximos meses, mas ainda mirando apenas as prateleiras mais altas do mercado.
Outras empresas têm seus planos, ainda ocultos sob o segredo corporativo ou, em alguns casos, ainda em discussão. Mas, de toda a forma, as decisões têm que sair agora, pois os projetos demoram um tempo para sair do papel.
O que resta saber é quais serão os planos do governo brasileiro para o futuro. A indústria fala muito no etanol mas o próprio governo não o trata com o mesmo entusiasmo: na recente discussão sobre redução do ICMS dos combustíveis o foco foi, sempre, a gasolina e o diesel. O etanol, que não é financeiramente vantajoso na maioria dos estados, ficou em segundo plano.