São Paulo – O Mercosul tem assumido cada vez mais o papel de protagonista nas exportações de autopeças brasileiras. Nos últimos quatro anos o bloco formado, além do Brasil, por Argentina, Paraguai e Uruguai ampliou significativamente suas compras e, consequentemente, a representatividade nos embarques de fornecedores locais.
Em 2019, dos quase US$ 7 bilhões exportados por fabricantes de autopeças brasileiros, 22,8%, ou US$ 1,6 bilhão, tiveram como destino os países do Mercosul. Em 2020, ano em que a pandemia impôs as maiores restrições à economia, dos R$ 5,4 bilhões exportados parcela de 24,4%, ou US$ 1,3 bilhão, seguiu para os países do bloco.
No ano passado, quando as exportações totalizaram US$ 6,5 bilhões, 32,5%, ou US$ 2,1 bilhões, foram para Argentina, Paraguai e Uruguai. Este ano, até junho, quando a última estatística estava disponível, a fatia do bloco aumentou para 38,5%, ou quase US$ 1,5 bilhão, de um total de US$ 3,8 bilhões.
Este panorama, de acordo com o presidente do Sindipeças, Cláudio Sahad, reforça a vocação regional do setor automotivo brasileiro na América Latina.
O principal volume de vendas tem como destino a Argentina, que no ano passado respondeu por US$ 1,9 bilhão dos US$ 2,1 bilhões embarcados ao bloco, e que ampliou as compras em 36,7% de 2019 a 2021.
No ano passado o Paraguai desembolsou US$ 121,3 milhões e o Uruguai US$ 67,1 milhões.
No primeiro semestre deste ano do US$ 1,5 bilhão em encomendas do Mercosul, US$ 1,3 bilhão veio da Argentina, US$ 59,7 milhões do Paraguai e US$ 43,3 milhões do Uruguai.
Sahad acredita que a distribuição deva ficar semelhante à do ano passado, com a Argentina tendo comprado o equivalente a US$ 2 bilhões, mesmo com a restrição do governo local sobre o pagamento de itens importados em dólares, o que começou em julho e, portanto, ainda não refletiu nos dados.
Brasil está importando menos? – Com relação às importações o presidente do Sindipeças destacou que o Brasil está percorrendo caminho contrário ao reduzir a quantidade de compras de mercadorias produzidas nos países do bloco.
“No ano passado importamos 6,2% do Mercosul, sendo o maior volume da Argentina, com US$ 856,8 milhões de US$ 1 bilhão. Acreditamos também que em 2022 ficará no mesmo patamar.
Até junho, disse, a representatividade estava em 6%, de um total de US$ 579,5 milhões. Em 2019 os países vizinhos respondiam por 9,1% das importações e, em 2020, por 8,2%.
Isso não significa, entretanto, que o Brasil esteja importando menos. No ano passado as encomendas a outros países somaram US$ 17 bilhões, cifra 51,7% superior à de 2019, por exemplo, quando o total foi de US$ 11,2 bilhões, quase o volume desembolsado por fabricantes brasileiras ao longo deste primeiro semestre, US$ 9,6 bilhões.
“A participação maior das compras vem da China, Estados Unidos e Alemanha, que representam 38% das importações totais do Brasil. E isso está relacionado aos avanços tecnológicos dos veículos.”
Sahad lembrou que os maiores importadores do setor são as montadoras, que têm de trazer componentes de fora por causa das inovações embarcadas nas peças e também devido aos acordos intercompanies que as fabricantes possuem com as empresas sistemistas, que também são multinacionais.
“Daí vem a importância de realizarmos trabalho em prol da melhoria da competitividade para aproveitarmos esse momento de localização que estamos vivendo, juntando com investimentos em P&D e os acordos comerciais, a fim de que possamos melhorar capacidade tecnológica e produzir aqui esses componentes que hoje estão sendo importados.”
Do Mercosul para o mundo – A partir desses acordos, assinalou o dirigente, será possível conquistar maior volume e atingir o objetivo maior, que é integrar o Mercosul às cadeias de fornecimento mundiais:
“Temos aí oportunidade de ouro para o bloco, para que nós possamos nos tornar polos fabricantes não só de motores a combustão, mas também de veículos a combustão fornecidos para o mundo todo, principalmente os flex”.
A integração competitiva, segundo Sahad, deve ocorrer de forma gradual e transparente a partir dos acordos comerciais, que com ajustes necessários nos países de origem servirão de ponte para costurar outros acordos na América Latina e, posteriormente, em outros países do mundo, como visto recentemente no livre comércio firmado com Cingapura.