Pandemia acelerou o desenvolvimento de veículos sem emissão e de serviços
Hannover, Alemanha – Após quatro anos o retorno da maior e mais tradicional feira de transportes do mundo, o IAA, Salão Internacional de Veículos Comerciais, trouxe uma série de novidades que, para muitos, nem são tão novidades assim. Desde antes de 2020 já sabemos que a eletrificação era o futuro do transporte, mas foi em Hannover que ela se tornou presente com a apresentação, ou o lançamento, de diversos produtos, de vans a caminhões extrapesados sem emissões, movidos a eletricidade. Foi na feira também que as ferramentas para gestão operacional das frotas atingiram um outro patamar. Quase não se falou de outra coisa: eletrificação e gestão, as palavras-chave do IAA 2022.
A Mercedes-Benz iniciou o primeiro dia destinado à imprensa mostrando seu eActros, caminhão extrapesado para longas distâncias, com autonomia de 500 quilômetros. Segundo a fabricante 60% dos transportes na Europa não superam essa distância. Assim, a escolha de três conjuntos de baterias de células de fosfato de ferro-lítio, LFP, com capacidade total instalada de mais de 600 kW/h, tornou viável a utilização de propulsor elétrico com potência contínua de 400 kW ou mais de 530 cavalos para esse tipo de operação.
Apesar da primeira aparição global, com a cabine quase igual ao Actros – apenas a dianteira perdeu a grade – a versão elétrica do extrapesado para longas distâncias terá a produção em série iniciada na Europa apenas em 2024.
Mas a Mercedes-Benz mostrou outras novidades com propulsão neutra de CO2, como o cavalo-mecânico eActros 300 com autonomia de até 220 quilômetros que já está mais adiantado: sua produção começa no segundo semestre de 2023.
Para Martin Daum, CEO da Daimler Truck, a fabricante enfrentou dificuldades na pandemia e “avançou a toda velocidade com a transição para o transporte neutro em CO2. Este ano, já contamos com oito veículos de produção em série totalmente elétricos à bateria em nosso portfólio”.
Já para Christian Levin, CEO global da Scania, está ocorrendo neste IAA “uma passagem definitiva para um transporte mais sustentável e eficiente”. Além de quatro modelos 100% elétricos disponíveis para o mercado europeu a Scania apresentou na feira alemã dois motores de 13 litros movidos a biogás/biometano, tecnologia bastante conhecida e comercializada no Brasil.
“Temos o compromisso no curto prazo para atender os objetivos firmados no Acordo de Paris oferecendo 50% do nosso portfólio de modelos movidos a eletricidade e 50% de opções com combustíveis renováveis”.
Uma das maiores expectativas do IAA este ano estava na revelação dos caminhões da novata Nikola, marca parceira da tradicional Iveco. Foi a primeira aparição do Nikola Ter FCEV – sigla em inglês para célula de combustível –, um caminhão para longas distâncias que será lançado no segundo semestre nos Estados Unidos e em 2024 na Europa.
Os executivos acreditam que este modelo vai mudar radicalmente o transporte sobre rodas porque além da tecnologia inovadora produzida em série acoplado a um motor elétrico com 645 cavalos de potência, o interior do Nikola Ter foi concebido como se fosse o de um automóvel sedan de luxo: “Hoje estamos fazendo história com os primeiros produtos para o mercado europeu da poderosa parceria da Iveco com a Nikola Corporation”, disse Luca Sra, presidente da unidade de negócios de caminhões do Grupo Iveco.
A Volvo também mostrou no IAA seu modelo movido a célula de combustível, que roda em testes e deve começar a ser produzido em série em 2025. Mas o destaque foram os elétricos com que utilizam baterias recarregáveis: teve início a produção dos modelos FH, FM e FMX extrapesados para longa distâncias, sem emissões e com capacidade de carga de 44 toneladas.
Gestão, o futuro da rentabilidade – Mais do que nunca o IAA está mudando o foco dos produtos para os serviços. Em muitos estandes as apresentações das ofertas de serviços para o transporte ocupam espaços generosos, quando não são as protagonistas. Percorrendo os imensos pavilhões encontra-se startups especializadas somente na gestão dos ativos dos transportadores, novidade que têm chamado a atenção, inclusive, de executivos das fabricantes de caminhões. É a concorrência encontrando novos modelos de negócios num setor tão tradicional como o transporte sobre rodas.
Na Europa há espaço para startups totalmente desconhecidas porque esses conceitos já estão mais maduros para os operadores logísticos, que buscam melhorar seus resultados apostando na tecnologia para uma gestão mais apurada de toda a sua atividade.
Desde o transporte urbano de curta distância com vans elétricas, como são os serviços oferecidos pela Ford Pro na Europa. Ted Cannis, CEO da Ford Pro disse que o faturamento dessa modalidade vem crescendo 60% nos últimos dois trimestres consecutivos.
Além da gestão das atividades de transporte com o uso da telemetria para monitoramento constante, a Ford também oferece gestão dos financiamentos dos clientes para sua frota. “Além de atingirmos índices de redução de custos que vão de 10% a 20% oferecemos essa possibilidade da gestão do financiamento, que é muito importante para o futuro do nosso cliente”.
A Scania, uma das pioneiras nesse segmento da gestão de frota e serviços conectados dedicou a parte central do seu estande para mostrar o My Scania e o aplicativo Scania Driver que, segundo a fabricante, vão permitir o aumento da eficiência e da lucratividade do cliente.
A Volvo e a Iveco também mostraram suas ferramentas para a gestão da operação e acreditam que este é o caminho para contribuir para melhores resultados dos seus clientes, assim como desenvolver novos modelos de negócios baseados na tecnologia da informação que gerem receitas para suas organizações.
A Mercedes-Benz, que como já foi dito esteve um passo atrás na eletrificação nos últimos quatro anos, também acelerou na gestão lançando uma nova plataforma digital, a My TruckPoint, que oferece às empresas de transporte uma visão 360 graus das ofertas, encomendas de veículos e peças de reposição, inspeções, manutenção, contratos de serviço e serviços Fleetboard para seus caminhões. Tem ainda a plataforma TruckLive, que fornece acesso a serviços úteis, como gestão dos atendimentos e informações de trânsito atualizadas e o eConsulting para os clientes dos caminhões elétricos com informações sobre a integração dessa frota, infraestrutura de recarga e conexão em rede para garantir eficiência ainda maior ao usar caminhões sem emissões de poluentes.
Essas iniciativas são apenas algumas das que estão distribuídas pelos imensos pavilhões do IAA. Realmente a feira evoluiu bastante no que as empresas têm denominado de serviços conectados. E isso é só o começo dessa transformação. Alguns executivos apostam que até 2030 os caminhões serão os coadjuvantes desta feira. Apenas gadgets, ou aparelhos equipados com tecnologias abrangentes que gerenciam todas as operações do transporte sobre rodas. Inclusive o volante e o acelerador do caminhão.