Em setembro embarques foram afetados por medidas que restringem importados
São Paulo – Com papel fundamental para as exportações de veículos brasileiros a Argentina, que estabeleceu novas regras para produtos importados, acendeu luz amarela para as empresas fabricantes. Com restrições na liberação de licenças para exportação e maior elasticidade no prazo de pagamento, de até um ano, os volumes embarcados ao país diminuíram, e consequentemente, o desempenho das vendas externas do segmento.
A despeito dessa situação ao longo do ano as exportações, que somam 364 mil unidades, superam em 31,2% o total embarcado no mesmo período em 2021, 277 mil veículos. O volume também é maior do que os 207 mil enviados em 2020 e os 343 mil em 2019.
A situação com a Argentina é sentida somente no último trimestre, apontou o presidente da Anfavea, Márcio de Lima Leite, durante coletiva de imprensa online na sexta-feira, 7: “Se ela não acelerar e liberar o Simes, que são as cotas para importação, as exportações sofrerão alteração em relação ao ritmo de crescimento apresentado em 2022”.
Considerando o desempenho por trimestre o terceiro registrou 117 mil unidades, o segundo 138 mil e o primeiro 108 mil. O desempenho do período compreendido de julho a setembro foi prejudicada pelo último mês, em que foram embarcadas 28,5 mil unidades, enquanto que em agosto e julho foram 46,8 mil e 42 mil respectivamente.
Na comparação mensal, portanto, houve recuo de 39%, ainda que na anual tenha havido crescimento de 20,7% ante o volume embarcado no nono mês de 2021, de 23,6%.
“Temos de ter um olhar mais atento ao analisar o que houve em setembro, pois o setor veio com crescimento muito bom ao longo do ano, com destaque para o desempenho excepcional de agosto. No mês passado, porém, houve queda. Poderíamos dizer que isso aconteceu para colocar mais produto no mercado interno, mas o que está por trás desse movimento? A Argentina.”
Essa restrição na liberação de licenças para exportação, inclusive, é o principal ponto, destacou Leite, para a retomada do mercado e para as exportações brasileiras, tanto que autoridades locais estão em tratativas com as argentinas para tentar solucionar o impasse.
“Estamos digerindo as medidas e analisando esse comportamento. Mas o problema é que, na ótica dos acionistas e investidores, Brasil e Argentina são um mercado único. Não se faz distinção de Rio de Janeiro e São Paulo assim como com Brasil e Argentina. E quando falamos de investimentos nossas fábricas têm aportes de complementariedade. Essa restrição de liberação de licenças para importação tem reduzido esse fluxo e isso precisa ter uma solução.”
Outros fatores – Além da questão com a Argentina, principal parceiro comercial do Brasil, o presidente da Anfavea apontou que o acordo comercial bilateral com a Colômbia impõe limite de 50 mil unidades vendidas sem imposto de importação e este volume já foi alcançado: “Então é natural que o produto comece a perder competitividade e que a exportação para a Colômbia seja reduzida”.
Adicionalmente em setembro houve fenômenos que contribuíram para acender luz amarela com relação às questões logísticas. De acordo com Leite algumas montadoras relataram que possuíam embarques programados que não ocorreram devido ao atraso na chegada dos navios ao País, o que pode acontecer pela própria retomada da economia, até que tenha sido arranjado pela cadeia de suprimentos e pela logística mundial.
“Quando esse atraso acontece durante o mês o problema não é tão sentido: se um navio sairia no dia 22 e acaba saindo dia 26 para fins dos nossos números isso não é um problema, mas se estava previsto para os dias 28, 29 e 30 e sai em 1º, 2 e 3 impacta diretamente. E tivemos pelo menos três navios que deixaram de seguir sua rota por atrasos, o que ficou para o mês seguinte.”
Em valores – De janeiro a setembro o valor exportado rendeu às montadoras US$ 7,6 bilhões, incremento de 37,3% com relação a 2021, quando rendeu US$ 5,5 bilhões. Supera também 2020, com US$ 3,7 bilhões, e 2019, com US$ 5,4 bilhões.
Em setembro, assim como ocorreu com o volume embarcado, houve redução nos valores. Os US$ 767 milhões faturados estão 26,5% aquém dos US$ 1 bilhão 44 milhões obtidos em agosto. Frente ao mesmo mês em 2021, com US$ 635 milhões, porém, há alta de 20,9%.
Leite apontou que a valorização do dólar ajudou os resultados, assim como o desempenho das exportações, segundo ele muito superior aos anos anteriores.