Seminário em Brasília debateu os rumos do setor, que pede, mais do que tudo, previsibilidade
Brasília, DF – Representantes da indústria, montadoras e fornecedores, e do governo participaram na quarta-feira, 14, do evento Conduzindo o Futuro da Eletrificação no Brasil, organizado pela Anfavea na Capital Federal. Além de chamar para si a discussão a respeito dos carros elétricos, uma das intenções ao organizar o seminário, a entidade teve como objetivo colocar na mesa todas as opções disponíveis para o futuro da indústria no Brasil e, ainda que internamente existam arestas a serem aparadas, mostrar que há um consenso: nenhuma tecnologia deve, ainda, ser descartada. Como o presidente Márcio de Lima Leite disse, parafraseando Christopher Podgorski, CEO da Scania Latin America, “o futuro é eclético”.
Pelo discurso no encerramento do evento o vice-presidente, e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, compreendeu o recado. Ele adiantou que a segunda fase do Rota 2030, em desenvolvimento em seu ministério – mas que, prevista para junho, ficou para mais adiante por causa, segundo a reportagem apurou, das discussões em torno do programa que concede descontos nas compras dos veículos de entrada –, deverá abranger todas as rotas tecnológicas propostas no seminário, dando os caminhos para que as montadoras, e o consumidor, definam qual será o destino da indústria nacional.
Portanto é de se esperar que a nova fase da política industrial traga regras para produção de híbridos flex, de 100% elétricos, da adoção de outros combustíveis alternativos como o biometano, o HVO e até um pouco do hidrogênio verde. Que dê a previsibilidade que a indústria tanto espera.
“Previsibilidade e segurança jurídica: é tudo o que o setor quer”, disse o presidente da Anfavea na abertura do seminário. “A indústria está passando pela sua maior transformação, o momento mais desafiador desde que a primeira montadora se instalou no Brasil. Precisamos, e queremos, localizar mais. Temos que tomar cuidado para não ficarmos para trás”.
No palco montado diante de uma plateia que manteve a plenária cheia por todos os cinco painéis passaram pessoas com visões e opiniões distintas. De Santiago Chamorro, presidente da General Motors, que propõe a passagem direta para o 100% elétrico, aproveitando os benefícios que a matriz energética brasileira oferece, a Ricardo Gondo, presidente da Renault do Brasil, que acredita que o processo de transição do híbrido ao elétrico no mercado nacional será mais lento do que na Europa, podendo durar mais vinte anos: “Até 2040 metade do mundo ainda utilizará motores a combustão”.
As oportunidades, portanto, são muitas: desde aproveitar a transformação do Hemisfério Norte em uma indústria de 100% elétricos para tornar nosso parque industrial uma referência em fornecimento de soluções a combustão, para atender a esta metade do mundo colocada por Gondo, à possibilidade de usar os recursos minerais para a produção de baterias que existem em abundância no País para tornar um hub produtor do componente que hoje é ainda o calcanhar de Aquiles do elétrico, responsável pelo seu maior custo. E, por que não, os dois?
O que a Anfavea apresentou ao governo na quarta-feira, 14, foi todo este cenário ainda indefinido, embora bem promissor. Agora é esperar que venham as políticas que deverão agradar mais a um do que a outro, mas que, de certa forma, colocarão todas as cartas na mesa e trarão a previsibilidade que todos desejam.
Exposição
No andar de baixo do Centro de Convenções Ulysses Guimarães, onde o evento foi organizado em Brasília, DF, mais de quarenta veículos 100% elétricos foram expostos, em uma espécie de revival do Salão do Automóvel. A reportagem, entretanto, escutou críticas porque mais de 90% dos modelos expostos são produzidos fora do País.
De toda forma a exposição agradou a quem compareceu ao evento. Carros ainda inéditos no País como o Ford Mustang Mach-E, Renault Mégane E-Tech, Volkswagen ID-Buzz e o ainda não lançado, nem nos Estados Unidos, Chevrolet Blazer EV dividiram espaço com modelos já conhecidos, como Nissan Leaf e o caminhão nacional VW e-Delivery.