São Paulo – Passado julho, em que as vendas de veículos leves dispararam e as médias diárias giraram em torno de 10 mil a 11 mil unidades emplacadas puxadas pelo programa do governo que ofereceu descontos de R$ 2 mil a R$ 8 mil para estimular a aquisição de carros 0 KM, em agosto os volumes estão retornando ao patamar dos meses anteriores. Em dezesseis dias úteis deste mês foram emplacadas 7,7 mil unidades por dia, média similar a maio, que contou com média de 8 mil veículos diários, segundo dados divulgados pela Fenabrave na quarta-feira, 23.
Embora o vice-presidente da República e ministro do MDIC, Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, tenha ressaltado o volume de vendas do programa em vídeo gravado durante visita ao 31º Congresso & Expo Fenabrave, no São Paulo Expo, antes da abertura oficial, nenhuma outra medida para o setor foi anunciada.
Alckmin colocou-se à disposição para ouvir propostas futuras para esse setor mas, no dia anterior, em que disse que o governo quer prorrogar o prazo do programa para pesados, que consumiram apenas R$ 270 milhões de R$ 1 bilhão, até que os recursos se esgotem, ele descartou, por ora, outra remessa de incentivos sob a forma de desconto.
José Maurício Andreta Jr., presidente da Fenabrave, mais uma vez disse que a entidade está trabalhando em plano para apresentar ao governo a fim de estimular novamente o comércio de 0 KM. Ele, no entanto, não pormenorizou que propostas estariam endereçando à União e nem o prazo. Afirmou apenas que será “em breve”, sem estimar se poderá ocorrer ainda este ano: “O que está claro é que precisamos de escala, o que facilitará a aprovação de crédito e a redução de juros”.
Andreta Jr. apontou que a extensão de medidas que facilitem a venda de usados terá reflexo no comércio de novos, o que pode ocorrer, por exemplo, se o Renave, Registro Nacional de Veículos em Estoque, passe a ser aplicado também aos usados, o que trará maior segurança às transações e aos bancos que, de acordo com ele, estão tomando muito calote nas operações de compra e venda.
Outro ponto mencionado pelo dirigente é a aprovação pelo Congresso de lei que permite a retomada do veículo, em até noventa dias, diante da falta de pagamento, o que, segundo ele, dará mais segurança às instituições financeiras: “Se o risco do empréstimo diminuir será possível diminuir os juros cobrados e ampliar a oferta de crédito”.
Andreta Jr. lembrou, ainda, que é possível pensar em saída que mantenha ou até eleve a arrecadação do governo com a redução de impostos de qualquer uma das três esferas: “Se diminuir a alíquota é possível ganhar escala”.
Disse que, em paralelo, aguarda pela aprovação da reforma tributária, que pode solucionar diversas dores do setor. Para ele também é fundamental que haja redução do preço de carros de entrada para reaquecer vendas.
Durante a abertura do congresso o dirigente cobrou o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, a respeito do que ele poderia fazer pelo setor: “Precisamos de previsibilidade. De um plano de longo prazo. De escala em todos os setores automotivos para tratar de reduzir tributos sem a perda de arrecadação”.
Ele fez analogia do setor como um paciente na UTI e que, com o programa do governo, obteve melhora, mas que ainda requer cuidados para a plena recuperação.
“E buscamos, também, isonomia de impostos, pois as concessionárias recolhem mais do que outros setores. Isso não está certo e precisa ser reparado.”
Queda da Selic pouco impactou financiamentos até o momento
Tereza Fernandes, economista da consultoria MB Associados, que elabora cenários econômicos para a Fenabrave, avaliou que a baixa da taxa Selic, no início do mês, de 13,75% ao ano para 13,25% ao ano por enquanto ainda não refletiu na ponta, nos custos dos financiamentos.
Ela justificou que, a despeito da pequena redução, de 0,5 ponto porcentual, contou contra nesse cenário o fato de o preço da gasolina ter aumentado: “Acredito que demorará dois ou três meses para que os financiamentos sintam o impacto da queda da Selic. O que poderá ser refletido, também, na ampliação do prazo”.