Feito no México na mesma plataforma do sedã, que deixou de ser produzido no Brasil, SUV maior que o HR-V aposta na dirigibilidade herdada do seu irmão mais famoso
São Roque, SP – O inédito SUV médio da Honda, produzido no México e vendido nos Estados Unidos como HR-V, recebeu no Brasil a mesma nomenclatura adotada na Europa e na Ásia. Chega com a ousada missão de se colocar como dos mais vendidos do segmento: a Honda espera vender 1 mil unidades/mês do ZR-V já a partir de novembro e buscará, inicialmente, seus clientes que não encontram opções no mercado que ofereçam a dirigibilidade do Civic, que deixou de ser fabricado aqui.
Mesmo sendo quase um contra-senso atribuir a mesma dirigibilidade de um SUV, tradicionalmente com centro de gravidade mais elevado do que o de um sedã, é exatamente com essa virtude que o ZR-V quer se destacar por utilizar a mesma plataforma da nova geração no Civic.
“O foco, a partir do início das vendas em 31 de outubro, é trazer os clientes do Civic geração 10, que ficaram órfãos”, contou o diretor comercial Diego Fernandes. “Faremos uma comunicação de lançamento específica para eles.”
Aos interessados é recomendado primeiramente conhecer outros predicados, como seus 4m568mm de comprimento, quase 10 centímetros maior do que todos os principais concorrentes. Com entre eixos de 2m655mm o espaço interno é generoso e bem distribuído tanto para motorista e passageiro na frente quanto na segunda fileira. O acabamento é primoroso e na única versão a ser ofertada no Brasil, a Touring, vem com tudo o que a Honda pode oferecer como itens de segurança, conforto e conveniência.
Este é outro ponto que dá um pouco de vantagem ao ZR-V frente ao Jeep Compass, ao Toyota Corolla Cross e ao Volkswagen Taos, os principais rivais do inédito Honda mexicano. Dentre alguns itens a mais destaque para o Honda Sensing, pacote de tecnologias de segurança e conforto como o sistema adaptativo de aceleração e frenagem.
Com preço de R$ 214,5 mil ele só é mais barato que o Jeep Compass, sempre considerando as versões a gasolina mais equipadas dos respectivos SUVs nacionais e do Volkswagen argentino. Nesta faixa de preços, que começa em pouco mais de R$ 200 mil e vai até superar os R$ 215 mil, outros modelos ocuparão a lista de desejos do consumidor, como o novo GWM Haval H6, híbrido, e até mesmo opções com mais espaço como Jeep Commander e a linha Tiggo 8 da Caoa Chery.
Mas a Honda aposta na dirigibilidade diferenciada do ZR-V, classificada como um exemplar de “dinâmica extremamente refinada, com a perfeita relação de conforto com desempenho, o modelo apresenta comportamento dinâmico e dirigibilidade típicos de um sedã”.
Esta característica é exclusiva do ZR-V no segmento de SUVs e segundo a Honda ocorre porque diversos itens dos sistemas de direção e suspensão são herdados do Civic. O ZR-V tem suspensão dianteira do tipo MacPherson e traseira multilink. O subframe dianteiro e os amortecedores traseiros são os do Civic, enquanto o subframe traseiro e as pinças de freio frontais são herdadas do CR-V.
De fato o ZR-V tem uma dinâmica bem equilibrada na cidade e na estrada e, durante os mais de 150 quilômetros num percurso ida e volta de São Paulo a São Roque, no Interior de São Paulo, a proposta SUV de dirigibilidade se sobrepôs ao comportamento de um sedã, notadamente mais esportivo. O ZR-V enfrenta muito bem lombadas e buracos, estradas mal conservadas, é muito confortável para todos os ocupantes em todas estas situações, mas quando se trata de uma ultrapassagem não reproduz o comportamento e a eficiência do Civic de que herda a carroceria. E isso não é um demérito, apenas uma condição intrínseca de um veículo utilitário-esportivo.
Além disso o motor a gasolina 2.0 16V DOHC i-VTEC de 161 cv e 19,1 kgfm de torque, está acoplado a transmissão automática do tipo CVT que traz muito ruído para a cabine durante as acelerações mais fortes e ainda não permite que o SUV tenha um comportamento esportivo. Ele é lento nas retomadas e demora para elevar a rotação quando o motorista pisa com vontade no acelerador.
Não é só na posição de dirigir mais elevada que o ZR-V não traz o DNA do Civic. O comportamento dinâmico, mesmo com um motor aspirado 11 cv mais potente, não reproduz a esportividade ao dirigir pela qual o ex-sedã nacional ficou famoso. Por tudo isto os órfãos da décima geração do Civic talvez não encontrem no ZR-V aquilo que este novo Honda promete oferecer.
Mas o visual pode ser um atributo que traga de volta novos e antigos clientes. Realmente o ZR-V é muito mais bonito ao vivo do que nas fotos. As linhas discretas na lateral conferem um porte diferente dos SUVs da Honda que rodam por aqui. Seu design é sóbrio e elegante, mesmo reproduzindo um recurso já bem utilizado como o desenho da grade frontal dos modelos Ford da década passada. Os faróis e as lanternas traseiras são elementos mais autorais que conformam um visual diferenciado ao modelo.
O interior não foge muito do que já é tradicional neste segmento: cluster analógico com uma telinha de TFT no centro para o motorista, algo já prestes a ser eliminado da preferência do consumidor mais moderno, aquela multimídia tradicional com tela de 9 polegadas, volante com múltiplas funções e umas saídas de ar com desenho de colmeia bem interessantes. A Honda ressalta tecnologia aplicada nos bancos, que oferece conforto extra para os ocupantes, sobretudo o motorista. Mas não deu tempo de verificar se faz ou não a diferença. Nas mais de duas horas ao volante do ZR-V tive a mesma sensação de conforto de quando dirigi por nove horas um Jeep Compass.
A competição neste segmento, com o Jeep Compass – com muitas versões para todos os gostos e bolsos, diga-se –, está cada vez mais acirrada e chama a atenção o apetite da Honda em tornar-se uma das líderes com o seu inédito ZR-V. Segundo Fernandes está garantido o fornecimento a partir do México das unidades necessárias para atender à demanda.
Ele vai além e afirma que tampouco espera que clientes do HR-V, mesmo na sua versão mais sofisticada, com motor turbo, passem a migrar para o ZR-V. E, na contramão, potenciais clientes do maior SUV da Honda, o CR-V, que volta ao Brasil a partir de janeiro, também venham a desejar o novíssimo Honda mexicano: “Não mexeremos nos preços dos outros produtos para acomodar o ZR-V porque entendemos que são propostas e clientes um tanto diferentes”.