Encontro na Camex foi agendado para quarta-feira, 18. Presidente da Anip defende a criação de linha de financiamento dedicada a caminhoneiros autônomos para a compra de pneus via BNDES
“Estamos em compasso de espera, na expectativa de que essa demanda seja atendida. Hoje o setor retornou ao patamar da pandemia, ou está ainda pior do que naquela época, em que o mercado havia encolhido porque havia restrições de circulação”, disse o presidente da Anip, Klaus Curt Müller. “Hoje o motivo é a concorrência desleal: quase 60% dos pneus no mercado de reposição são importados”.
Dados da entidade apontam que o volume importado pelo segmento de reposição dobrou de 2017 a 2024, passando de média mensal de 2,1 milhões em maio daquele ano para 4,2 milhões em janeiro. Neste mesmo intervalo a participação do produto de fora no mercado brasileiro passou de 36% para 57%.
A principal origem é a China, respondendo por 73% do total que ingressa no País – no ano passado esse porcentual era de 67%. Do restante, 8% vem do Vietnã, 4% da Índia, 2% da Malásia, 2% do México e 11% de outras origens.
Sobre a audiência pública realizada na Câmara dos Deputados na terça-feira, 10, promovida pela Comissão de Viação e Transportes com o objetivo de discutir a taxa de importação para pneus de carga, o dirigente avaliou o evento como marcado por discursos inflamados e pouco práticos, em que foi externada a possibilidade de greve por parte dos caminhoneiros.
“Entendemos que a situação desses profissionais envolve muito mais do que óleo diesel e pneu, entram nesta conta também a tabela de frete e a idade da frota”, listou. “O que o governo poderia fazer para os caminhoneiros seria a criação de uma linha de financiamento para a aquisição de pneus com conteúdo nacional, via BNDES. Solução que poderia ser avaliada no próprio Congresso.”
Custo para manter a atividade dos caminhoneiros é o principal ponto de desacordo quanto ao aumento da taxação do pneu importado e, por isso, categoria ameaça entrar em greve. Foto: Fotos Públicas
Müller complementou que esta opção seria pertinente ao justificar que o caminhoneiro, diante das dificuldades financeiras, faz o cálculo da aquisição e não do custo de operação. E que deveria ser válida, principalmente, para os profissionais autônomos.
“A saída não está em se opor à produção nacional, que gera emprego e renda. Senão corremos o risco de nos tornarmos como a indústria de lâmpadas, uma vez que hoje não há mais fábricas locais, apenas produtos importados, e a qualidade despencou. Eu mesmo nunca comprei tantas lâmpadas na minha vida.”
ANTT se posiciona contra o aumento do imposto de importação
Presente na audiência a ANTT, Agência Nacional de Transportes, manifestou-se contra a possibilidade de aumento da alíquota do imposto importação de pneus de 16% para 35%. O superintendente de Serviços de Transporte Rodoviária da agência, José Aires Amaral Filho, avaliou que a medida poderia causar sucateamento do setor.
“Quando a gente olha a realidade da categoria, vemos que eles vêm sofrendo com o aumento dos custos dos insumos. O principal fator da greve em 2018 foi insumos, o óleo diesel.”
Everaldo Bastos, representante da Fetrabens, Federação dos Caminhoneiros Autônomos de Cargas em Geral do Estado de São Paulo, afirmou que o caminhoneiro só consegue comprar pneus novos porque os valores estão mais baixos com a concorrência dos importados:
“Aumentar o custo para o caminhoneiro é pedir uma nova greve. Os caminhoneiros pararam por causa de R$ 0,20 no óleo diesel e nossos associados já estão pressionando para não haver aumento dos pneus”.
De acordo com a ANTT 94% dos 747 mil transportadores registrados no País possuem até três veículos e não conseguiriam transferir os custos de um eventual aumento dos preços dos pneus para o frete.
Também presente na audiência o assessor técnico da NTC&Logística, Lauro Valdívia, avaliou que a maior taxação pode trazer prejuízos significativos ao setor, estimados em R$ 2 bilhões por ano, apenas com as unidades de reposição. Defendeu que o aumento da taxação não só afetaria o custo dos pneus, mas também exerceria impacto negativo com o possível aumento de até 4,5% na cesta básica.