São Paulo – Diante do impasse em torno do preço do pneu nacional versus o do produto importado a Anip, Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos, afirmou que as fabricantes começarão a promover demissões caso o imposto de importação não seja elevado de 16% para 35%. Atualmente existem em torno de 2,5 mil profissionais em layoff no Brasil, em um universo de 32 mil empregos diretos das fabricantes, e de acordo com o presidente da Anip, Klaus Curt Müller, a retração de vendas do produto local ao mesmo tempo em que é observado crescimento das importações têm deixado lotados os estoques das empresas.
“O próximo passo serão paradas na produção, redução de turnos e a dispensa de profissionais que já estão em casa em layoff”, avaliou Müller, ao relembrar que fábricas de pneus costumam operar de forma ininterrupta, sete dias por semana, 24 horas por dia, em três turnos.
Por enquanto o ritmo de produção ainda não chegou a engolir um turno, mas está perto de acontecer. Vice-presidente do Sintrabor, Sindicato dos Borracheiros da Grande São Paulo e Região, Samuel Alves, o Ferrinho, relatou que o cenário já reduziu em torno de 25% o volume fabricado em território nacional. E que a ociosidade tem alcançado até 30% da capacidade produtiva das pneumáticas.
Na Bridgestone em Santo André, SP, há 1,8 mil profissionais em layoff, com suspensão temporária de contrato, sendo quatro turmas por um período de cinco meses cada, medida que expira em dezembro. “Por ora ainda não temos notícias de demissões, enquanto as empresas lançam mão de layoff e férias coletivas. Mas, se continuar assim até o fim do ano, talvez os cortes sejam inevitáveis.”
Josué da Purificação Pereira, presidente do Sindborracha, Sindicato dos Borracheiros do Estado da Bahia que abrange Salvador, Camaçari e Região Metropolitana, complementou que no ano passado, durante abertura de PDV, Programa de Demissão Voluntária, quase seiscentos profissionais desligaram-se da empresa no ABC Paulista.
Durante audiência pública realizada na Câmara dos Deputados na terça-feira, 10, promovida pela Comissão de Viação e Transportes com o objetivo de discutir a taxa de importação para pneus de carga, Pereira contou também que as 21 fábricas de pneus instaladas no Brasil alugaram onze galpões adicionais porque o volume de produtos a ser estocado não cabe mais em seus espaços próprios.
“A unidade de Santo André antes produzia seiscentos pneus de caminhão por dia e, hoje, faz 120. O mesmo ocorreu com os pneus para tratores, em que o volume diário baixou de oitocentos para duzentos. A vizinha Prometeon está em situação semelhante, com redução de 20% de sua produção. A Goodyear vai deixar de fabricar pneus de mineração e sua produção em Americana, SP, baixou de 6 mil pneus de caminhão por dia para 4 mil e, quanto aos de passeio, caiu de 26 mil para 21 mil.”
Pereira prosseguiu relatando que a unidade da Pirelli em Feira de Santana, BA, há 280 trabalhadores em layoff. “Não sabem o que farão com eles quando voltarem.”
No mesmo município, a Vipal baixou sua produção de pneus para motocicletas de 14 mil para 12 mil por dia, conforme o sindicalista. “A banda de rodagem para recauchutagem de pneu, muito usada por caminhoneiros, também foi impactada.”
O sindicalista rememorou investimento de quase R$ 1 bilhão da Bridgestone em Camaçari, BA, em 2022. “Um dos setores ampliados com o aporte, que geraria 260 empregos, contratou apenas cem profissionais. A unidade, que produziria 14,5 mil unidades por dia está fazendo 11,8 mil, pois parte da fábrica está ociosa.”
Na mesma cidade a Continental, que produzia 23 mil pneus por dia, sendo 3 mil para caminhão, hoje passou a 18 mil, segundo o presidente do Sindborracha, ao complementar que a Dunlop, em Fazenda Rio Grande, PR, e a Prometeon, em Gravataí, RS, também têm fábricas ociosas.
“O que vamos fazer com esses trabalhadores que têm seus empregos colocados em risco devido ao aumento da entrada de pneus importados?”, questionou Pereira. “A questão aqui não é que somos contra esses produtos, mas contra a concorrência desleal que eles trazem, que está colocando a indústria nacional em risco, o que inclui o trabalhador dos setores da borracha, têxtil, químico e petroquímico e metalúrgico. Temos toda uma cadeia produtiva em risco.”