De olho na mudança de motorização com opção de híbridos a companhia injetará R$ 8 milhões em pesquisa e desenvolvimento nos próximos três anos
São Paulo – Com a premissa de até 2025 fornecer peças para todos os motores a combustão fabricados no Brasil a Rio-Riosulense, do alto de seus 78 anos, mantém rotina de investimentos anuais para melhorar sua produtividade, renovar maquinário, injetar tecnologia em seus processos, expandir volumes, ampliar portfólio para, então, crescer dois dígitos.
“É quase que proibido expandir o faturamento em menos de dois dígitos aqui na Rio”, falou de forma descontraída, mas com fundo de seriedade, seu CEO, Ornelio Kleber, em entrevista a Agência AutoData, ao sustentar que este objetivo vem sendo alcançado desde 2021. Este ano a lição de casa está sendo concluída com sucesso: mesmo com ano tido como desafiador pela empresa, devido a incertezas por parte das montadoras, que contribuem significativamente com a receita, a empresa injetou R$ 20 milhões até o momento e vai encerrar o ano com R$ 30 milhões investidos.
O aporte se dá essencialmente para a aquisição de máquinas mais modernas e para a construção de novos galpões para abrigar estoques dentro do terreno de 1 milhão de m² em Rio do Sul, SC, que tem apenas 20% do total ocupado.
“A meta é investir, de forma contínua, em torno de 10% do nosso faturamento. Este ano ficará um pouco abaixo, nem sempre o que está aprovado a gente executa, pois também temos de ter o cuidado de manter o caixa saudável”, disse Kleber. “A maior parte dos aportes é feita com capital próprio, o que nos permite ter mais os pés no chão, com a certeza do que estamos fazendo.”
Nos próximos três anos a Rio investirá R$ 8 milhões apenas em pesquisa e desenvolvimento, sendo R$ 1 milhão já no ano que vem. De olho também em uma eventual nova janela do Mover, Programa Mobilidade Verde e Inovação, a empresa planeja pleitear incentivos para reforçar a inovação em sua linha de produção e, em paralelo, está em conversas com a Finep.
“Até pouco tempo atrás se falava muito em eletrificação, mas notamos que no Brasil a maior demanda virá dos híbridos, com umas seis ou sete configurações diferentes, e nós já estamos começando a buscar parceiros de desenvolvimentos para estarmos preparados para esta nova geração de motores também, além de nos mantermos presentes nos motores a combustão.”
Embora a projeção de alta na produção do setor automotivo seja de 4,9%, de acordo com a Anfavea, a expectativa da companhia é alcançar incremento de 15% a 20% sobre o faturamento de R$ 420 milhões, aproximando-se dos R$ 500 milhões até dezembro. Segundo Kleber o desempenho já está muito próximo do planejado.
“Esperamos expandir além porque temos novos projetos com clientes, então não dependemos só de pedidos correntes para alavancar as vendas. Estamos ingressando em novos negócios, por exemplo, desenvolvendo novas famílias produtos para a reposição e apostando fichas no segmento agrícola.”
O CEO da Rio, Ornélio Kleber, planeja dobrar a participação do setor de agronegócio no faturamento da empresa de Rio do Sul, SC. Foto: Divulgação.
Esta diversificação se faz importante para manter o ritmo de crescimento de dois dígitos para a companhia. E também porque os projetos com montadoras possuem tempo maior de maturação, de doze a dezoito meses: parcerias firmadas no ano passado, então, refletirão no faturamento a partir de 2025 – o lado bom é que já eleva a régua para o ano que vem.
No aftermarket um dos focos da Rio é ampliar linha de componentes para motores de três cilindros turbo, já presente no portfólio, e em novos segmentos identificados após a realização de pesquisas de mercado para entender o panorama e desenvolver itens demandados.
Metade dos investimentos de 2024 foi para desenvolver peças para o setor agrícola
No caso das máquinas agrícolas a perspectiva é que o segmento dobre sua participação de 7% para 14% no faturamento da empresa até 2026. Somente este ano 50% do que foi desenvolvido pela Rio em termos de novos itens para montadoras foi para este segmento. Ou seja: metade do investimento de R$ 30 milhões está indo para o desenvolvimento de peças para o setor agrícola.
“Acreditamos muito no crescimento deste setor. Começamos com uma montadora, o que desperta a atenção de outra. Porque quando se fornece para montadora é preciso ter qualidade. E isso nós temos. Temos usinagem, fundição, laboratórios de ponta, excelente equipe de engenharia, e quando um comprador vem até nós ele puxa outros. É algo que acontece mais no boca a boca. Isso porque não estamos em São Paulo: se estivéssemos, teria acontecido antes.”
Na esteira das máquinas agrícolas a empresa tem notado também procura por produtos da linha amarela, uma vez que maioria dessas fabricantes também fornece para construção civil e mineração.
Parte do investimento injetado na fábrica este ano foi para a aquisição de novos e mais modernos maquinários. Foto: Divulgação.
Aos 78 anos Rio ainda tem muito fôlego – e espaço para crescer
A Rio possui capacidade instalada para processar 3 mil toneladas de metal por mês e, deste total, de 70% a 80% estão ocupados. Para o ano que vem a projeção é ficar de 80% a 85%. Além de peças para motor a Rio fabrica componentes estruturais, o que inclui desde peças de suspensão, freios, chassi, longarina de pequeno tamanho até peças em ferro fundido, aço e ligas especiais.
Gerente técnico da Rio, Clebson Ferreira, contou que como o sistema é modular o maquinário pode fazer qualquer tipo de componente, seja para uma moto até para um caminhão: o que importa é estar dentro das dimensões dos limites do processo. Então não necessariamente os novos equipamentos, por exemplo, trabalharão as três linhas de produção para um segmento.
“E se houver uma necessidade extra estas três facilmente poderão chegar a mais. Se preciso ter capacidade de fusão eu troco um forno, por exemplo, aumento o cadinho dele, e já ganho de 20% a 30% de capacidade de produção de metal líquido. Aqui conseguimos fundir qualquer geometria, qualquer volume, qualquer liga. O grande diferencial da Rio é a flexibilidade.”
O portfólio da companhia reúne 8 mil códigos de peças, ou seja, desenhos de itens que já foram produzidos em algum momento. Não necessariamente todo mês acontece este giro, mas se o cliente requerer está disponível, assegurou Ferreira: “Em tonelada consigo por no estoque 2,2 toneladas de peças produzidas por mês”.
Ao estimar que um motor dure trinta anos lembrou que a empresa se preocupa em fabricar componentes para carros que nem são mais fabricados, como Opala e Fusca.
Não à toa em torno de 65% do faturamento da Rio vêm da reposição, que atende todo tipo de veículo com foco nos leves e motos. Outros 30% são gerados pelo segmento original, dedicado a caminhões, ônibus e máquinas agrícolas. O restante cabe ao ferroviário, mineração e até elevadores.
Presente em mais de 25 países a fatia das exportações deverá representar, este ano, 7,9% das receitas. E o plano é elevar o porcentual de participação a 10% no ano que vem. Quase 90% do volume é dirigido ao mercado de reposição e, o restante, a montadoras. Importantes clientes são Argentina, Paraguai e Uruguai, Peru, Chile, Bolívia, Estados Unidos, Alemanha e Oriente Médio.