Locadoras já respondem por cerca de 12% a 13% das compras de veículos pesados de carga. Vamos e Addiante registram crescimento meteórico.
São Paulo – O aluguel de veículos pesados de carga é negócio em crescimento pleno no Brasil, com expansão meteórica de locadoras especializadas em bens de capital, que só este ano devem ampliar de 10% para 12% a 13% sua participação na compra de caminhões novos no País, o que deverá corresponder, ao fim de 2024, em 15 mil a 16 mil unidades acrescentadas à frota de locação, que ainda tem bastante espaço para crescer.
“Este mercado ainda tem muito terreno para crescer no Brasil, pois da frota estimada de 3,8 milhões de caminhões em circulação somente 2% são alugados”, aponta Fábio Leite, CEO da Addiante, locadora de veículos pesados criada em uma associação dos grupos Randoncorp e Gerdau.
Lançada na Fenatran de 2022 em um pequeno espaço do estande da Randon Implementos, a rápida expansão da Addiante em apenas dois anos de operação comprova o crescimento do negócio: a empresa partiu de 1 mil ativos locados, em 2023, para 3,2 mil este ano de 89 marcas diferentes – 60% são caminhões, 35% são carretas e o restante são equipamentos correlatos –e estima ultrapassar os 5 mil em 2025.
A empresa foi financiada com aporte inicial dos sócios de R$ 250 milhões que já avançou para investimento de R$ 1,5 bilhão no último ano para compra de mais veículos, com injeções de capital, captações em mercado aberto e dívidas bancárias.
Na Fenatran deste ano a Addiante já alça voo solo de seus controladores com estande próprio, como relata Leite: “A Gerdau é um grande consumidor de locação de veículos e a Randon via no negócio um canal de vendas de carretas. O negócio fez sentido para ambas, em apenas seis meses a empresa estava aberta, mas não se limita aos sócios. Hoje atendemos com independência clientes com caminhões e implementos de todas as marcas”.
A maior, com 56 mil ativos
Neste novo mercado em ascensão nada ainda se equipara à Vamos, uma das oito empresas controladas pelo gigante Grupo Simpar, que atua na área de transporte de cargas com a JSL, produção de carretas e implementos com a Truckvan, administração de concessões de portos, coleta e gestão de resíduos, banco digital BBC e concessionárias e locadoras de veículos. A Vamos tem atualmente nada menos do que 56 mil ativos locados, dos quais 80% são caminhões e o restante carretas, máquinas agrícolas e de construção e outros bens de capital.
A locação de veículos pesados já era explorada como um departamento da transportadora JSL até a criação da Vamos, em 2015. A expansão foi meteórica desde 2021, quando a locadora abriu o capital em bolsa, como relata o CEO Gustavo Couto: “Em cinco anos frota e receita foram multiplicados por nove. Investimos R$ 15 bilhões em novos ativos nos últimos três anos, hoje respondemos por 6% das vendas de caminhões novos no País [equivalente a cerca de 7 mil unidades este ano] e temos participação de 80% no mercado de locação de veículos pesados, no qual o segundo colocado é cerca de dez vezes menor”.
Este domínio de mercado está bastante ligado à amplitude do ecossistema do Grupo Simpar ligado ao transporte de cargas, que garante muitas sinergias vantajosas, desde a negociação favorável de preços de caminhões pela transportadora e grupos concessionários associados, fabricante de carretas pertencente à companhia, oferta de financiamento com banco próprio, até a revenda de usados em dezoito lojas próprias e trinta de parceiros – com frota tão numerosa as desmobilizações são constantes e só nos últimos doze meses a Vamos já vendeu 3 mil veículos usados.
Pela segunda vez posicionada com um amplo estande situado na rua principal da Fenatran, bem ao lado da controlada Truckvan, o movimento intenso de clientes reflete a expansão acelerada do mercado de locação de veículos pesados, uma “opção que veio para ficar e crescer bem mais”, diz Couto: “É uma alternativa mais do que necessária para um país como o Brasil, que precisa renovar sua frota de caminhões, mas enfrenta o problema de custo muito alto dos ativos, juros altos e restrição de crédito”.
Mudança de modelo
Couto define que o principal atrativo da locação é o custo, que ele garante ser 30% menor do que a aquisição por financiamento de um caminhão novo: “Quem sabe fazer contas opta pela locação, porque não requer tanto capital próprio”, ele diz, apesar de reconhecer que a cultura de grandes frotistas no País é a de aquisição para fazer dinheiro ao revender o bem usado. “Algumas transportadoras descuidam do cliente ao derivar sua atividade para negócios fora do foco. Mas isto está mudando aos poucos, muitas empresas já estão aplicando um sistema misto, combinando locação com aquisições, de acordo com disponibilidade de caixa e contratos com embarcadores.”
Os principais clientes de locação atualmente, diz Couto, são as empresas que mais investem em logística eficiente. Segundo o executivo os maiores clientes da Vamos atualmente estão no segmento sucroalcooleiro e distribuição de bebidas: “Atendemos quase 100% destes mercados”.
Além destes a Vamos também aluga 50% dos caminhões de coleta de lixo em São Paulo, tem boa participação na distribuição de combustíveis e o segmento de comércio eletrônico, com vans, está se expandindo rapidamente: “Cresce tanto que eles não têm frota disponível suficiente para atender todos os pedidos, aí a locação aparece como solução rápida”.
Cerca de 90% dos veículos locados pela Vamos são zero-quilômetro mas a locação de caminhões usados também está começando a ser melhor explorada. Este ano a locadora lançou o programa Sempre Novo: são veículos com baixa quilometragem e um a dois anos de uso, com garantia de procedência. “Com o aumento expressivo dos preços aconselhamos os clientes a fazer contratos de locação por prazo maior, cerca de cinco anos, mas alguns querem renovar a frota antes disso e então podemos encaminhar estes ativos para uma nova locação”, explica Couto.
Criação de diferencial competitivo
Na Addiante o foco é criar diferenciais para atrair novos clientes. O CEO Fábio Leite afirma que um deles é locar 100% dos veículos com telemática embarcada para rastreamento, incluindo uma central de controle própria para monitorar segurança e manutenção, com o objetivo de aumentar a produtividade do transportador: “Nossa proposta é crescer com qualidade e relação próxima com os clientes. Primeiro oferecemos a locação para que eles experimentem o nosso sistema. Nossa missão é mostrar que esta diversificação é interessante para manter o balanço mais saudável. Com ativos e crédito muito caros nos tornamos uma opção, pois o aluguel não compromete o caixa com formação de capital fixo”.
A locadora também se utiliza da sinergia dos sócios controladores, como a rede de oitenta concessionárias Randon, canais de distribuição do grupo e o banco Rands, com contratação de aluguel por via digital. “Mas não estamos presos a nenhuma marca, compramos implementos da Randon e de outros fornecedores e caminhões de todas as fabricantes”, garante Leite.
Assim como na Vamos os principais clientes de locação da Addiante são embarcadores e transportadores dos segmentos sucroalcooleiro, florestal e mineração e expansão mais recente nas entregas urbanas do comércio eletrônico, a chamada operação last mile. A média de tempo dos contratos ativos de locação é de 56 meses, com variação de 36 a 120 meses.
A Addiante vai começar a vender alguns ativos usados já em 2025, antes da previsão que seria só em 2026. Isto porque fechou contrato de leaseback com o Grupo Ambipar, operação financeira que consiste na venda de um ativo e, em seguida, na sua locação de volta ao vendedor. “A Addiante comprou 1,6 mil ativos para renovação em doze meses, então teremos estes veículos de sete a oito anos para vender no ano que vem”, explica o CEO.
Prosulsão alternativa para locação
Ainda em pequeno número mas com tendência crescente os veículos elétricos de carga estão aumentando presença nas frotas de locação de Vamos e Addiante.
Por serem produtos mais caros e pela desconfiança sobre durabilidade e manutenção que ainda despertam nos clientes, os veículos elétricos têm melhor encaixe com a locação. “Nossa frota locada de elétricos está aumentando, principalmente empilhadeiras que já representam 60% dos contratos. Para caminhões e furgões também vai acontecer esse crescimento mas o ritmo é mais lento”, afirma Gustavo Couto, da Vamos. “Já temos modelos elétricos JAC, BYD e Volkswagens alugados. Metade dos quatrocentos e-Delivery vendidos no País fomos nós que compramos.”
Na Addiante o passo é parecido, a locadora já tem alugados 35 caminhões pesados Scania a gás e mais trinta furgões elétricos Renault Kangoo. “A Locação é uma tendência para veículos de novas energias”, afirma o CEO Fábio Leite.