São Paulo – As novas projeções macroeconômicas de altas nos juros para este ano assustam mas abrem oportunidades para ampliar a exportação local com dólar que alcançou níveis recordes e deverá persistir na casa dos R$ 6. Conforme o mais recente Boletim Focus, do Banco Central, o mercado financeiro conjectura que a Selic, dos atuais 12,25%, salte para 15% durante o ano, a fim de combater o maior avanço do IPCA, que espera que conclua 2024 aos 4,9% e 2025 beirando os 5% – acima, portanto, da meta de 4,5%.
Para Ricardo Balistiero, coordenador do curso de administração do Instituto Mauá de Tecnologia, a favor dos índices projetados há o fato de que a taxa de desemprego está em baixa, 6,1% da população economicamente ativa, o que contribui para a maior atividade econômica e, portanto, para a continuidade no movimento crescente de intenção de compras, o que inclui carros 0 KM.
Demonstração é o próprio PIB, Produto Interno Bruto, que embora chegue perto dos 3,5% de incremento esperado para 2024 deverá, de acordo com o Focus, avançar 2% este ano: “O desafio maior ao setor automotivo é a taxa Selic. Ela está muito alta, deverá continuar subindo e chegará na ponta. No entanto este maior reflexo deverá acontecer apenas no segundo semestre, o que pode segurar um pouco a expansão do mercado, que talvez não crescerá na intensidade de 2024”.
A despeito das perspectivas do Focus Balistiero acredita que a mudança na direção do Banco Central, que agora tem à frente Gabriel Galípolo, abre a possibilidade do uso de outros instrumentos prudenciais que possam auxiliar que a inflação chegue à meta sem estrangular a demanda “Embora a Selic seja um remédio para combater a inflação não precisa ser a única ferramenta, a fim de que não seja o freio da economia”.
Caso chegue aos 15% ao ano será a maior taxa desde 2006 e, de acordo com as expectativas do Focus, neste ritmo apenas em 2027 os juros atingirão patamar inferior ao de hoje, ao recuar a 10% ao ano.
Quanto ao dólar, ainda que o economista estime que o pico de 18 de dezembro, quando a moeda estadunidense chegou a R$ 6,26, não se repita, acredita que o câmbio não voltará, por ora, à casa dos R$ 5 e deverá gravitar em torno de R$ 6 ao longo do ano.
“Isso causa problemas à indústria por causa do encarecimento de componentes importados, mas abre possibilidade interessante para a substituição de peças de fora. É possível estimular a inovação e o desenvolvimento de tecnologia local quando fica difícil importar. E cria-se uma oportunidade com o câmbio neste patamar.”
Na avaliação de Sílvio Paixão, professor da Fipecafi e do Pecege, o combo de juros e dólar nas alturas ocasionado por política fiscal expansionista sem contrapartida de arrecadação fará o mercado automotivo sofrer e, possivelmente, andar de lado, ficando no zero a zero com o ano passado, com promoções e financiamentos facilitados pelos bancos das montadoras.
“Acredito que os automóveis para particulares, de menor valor, e comerciais leves, sofrerão menos, podendo apresentar crescimento de 2% neste ano. As empresas de transporte, por sua vez, potencialmente adiarão ou cortarão parcialmente a renovação das frotas. Enquanto que o segmento de ônibus tem pouca ou baixa expectativa em ano não eleitoral e apenas veículos direcionados ao setor agro manterão os níveis de 2024.”
E todo este contexto se dá em meio a um ano relevante para o setor, em que novos veículos híbridos made in Brazil começarão a sair das linhas de produção locais e o Mover, Programa Mobilidade e Inovação Verde, – que ainda carece de algumas regulamentações –, deverá propulsionar o investimento de R$ 130 bilhões por parte das montadoras e R$ 50 bilhões na cadeia de suprimentos.
Paixão lembrou que a injeção de recursos em P&D tem grandes possibilidades de dar passos mais largos do que o programado no ano passado. “E, considerando que os investimentos se pautam pelo fluxo de caixa disponível, que pode ser afetado por maiores estoques, caso as vendas não apresentem o desempenho desejado, e o faturamento das montadoras se mostrar menos alvissareiro, é factível imaginar que os investimentos em P&D serão desacelerados”.