Preços na ponta, entretanto, continuam altos devido aos lançamentos
São Paulo – 2023 começou com uma boa notícia para a indústria, incluída a cadeia automotiva: a inflação para o produtor desacelerou e um dos pontos que mais contribuiu para alta menos intensa foi o preço do minério de ferro, matéria-prima do aço, superfaturado até pouco tempo atrás.
Entretanto, frente a uma margem reprimida por parte dos fabricantes nos últimos anos, e diante do aumento de preços intrínseco aos lançamentos, que vêm repaginados e com maior embarque de tecnologia e itens de segurança de série, o valor na ponta segue elevado.
De acordo com dados da Fundação Getulio Vargas divulgados na segunda-feira, 30, o IPA, Índice de Preços ao Produtor, responsável por 60% do IGP-M, Índice Geral de Preços Mercado, variou 0,10% em janeiro e, no acumulado de doze meses, atingiu 3%.
Para efeito de comparação em dezembro do ano passado o IPA avançou 0,47% no mês e 5,27% no ano. E, em janeiro de 2022, acelerou 2,30% no mês e 19,32% no ano. Em maio de 2021 chegou a acumular alta de 50,21%.
Coordenador dos índices de preços da FGV, André Braz, assinalou que “entre os componentes do IGP-M o índice ao produtor segue registrando arrefecimento das pressões inflacionárias”.
Contribuiu para o movimento o preço das matérias-primas brutas, que de dezembro para janeiro desacelerou de 2,09% para 1,55%. Destaque para o minério de ferro, cuja alta caiu quase que pela metade, de 16,32% para 9,26%. No mesmo período os custos para a indústria de transformação deflacionaram 0,74%.
Economista especializado no setor automotivo Adriano Oliveira citou que no ápice da pandemia o preço internacional do minério de ferro, cuja tonelada chegou a US$ 225, em meados do ano passado, caiu para US$ 150, em outubro chegou a US$ 85 e, agora, está em US$ 125.
Mesmo movimento do aço, que na bolsa de valores chinesa atingiu 6 mil yuans, recuou quase que à metade, aos 3,5 mil yuans e, agora, já está cotada em 4,2 mil yuans.
“Com o relaxamento das medidas de restrição contra a covid-19 na China é esperada retomada da economia e consequente aumento da demanda. Diante dessa perspectiva, os preços do minério de ferro e do aço estão maiores: só o aço valorizou em torno de 30% de outubro até o fim de janeiro.”
Já o boletim Focus, do Banco Central, divulgado também na segunda-feira, 30, aponta para leve recuo da cotação do dólar, de R$ 5,28 para R$ 5,25, e manutenção em R$ 5,30 nos próximos três anos, o que acaba equilibrando a equação.
Além disso o movimento vai na contramão das demais commodities, que estão em movimento de acomodação, ressaltou Oliveira, a exemplo do petróleo, hoje vendido por US$ 85 o barril, mas que um ano atrás custava US$ 130.
O pior já passou – O especialista no setor automotivo acredita que o cenário deve trazer certo alívio ao caixa das montadoras, que tinham margem reduzida. O que vai ao encontro de contexto em que, embora a crise dos semicondutores perdure, a crise de abastecimento não é mais tão severa quanto no ano passado.
Na outra ponta, porém, o consumidor não deve esperar mudança nos preços, uma vez que estão previstos diversos lançamentos para 2023, o que puxa os valores para cima: “As novidades chegam pelo menos 25% mais caras do que versão antecessora. Por exemplo: o novo Honda Civic custa R$ 244,9 mil enquanto que o anterior era vendido por R$ 160 mil”.
O sedã, agora híbrido, é importado da Tailândia e não mais fabricado no Brasil.
Adicionalmente, se por um lado os estoques de veículos estão sendo repostos, o que dá sinais de que a oferta está aos poucos sendo normalizada, pontuou o especialista, por outro a demanda ainda segue um pouco contraída pelos juros altos – que encerram 2022 em 28,7% ao ano, motivado pelo aumento da inadimplência para 5,4% – justificados pelo cenário de inflação elevada, que reduz o poder de compra do consumidor.