As intensas chuvas que têm atingido a cidade de São Paulo, causando um tremendo estrago, estão intimamente conectadas com as condições climáticas de Vancouver, no Canadá. Por aqui as últimas semanas foram um desastre climático experimentado pela última vez há noventa anos. Em janeiro a expectativa dos meteorologistas era de 22 dias com chuva e precipitação em torno de 162 mm. Hoje é o vigésimo-oitavo dia que estou em Vancouver e em apenas cinco deles choveu. Foram 30 mm de água até agora.
Desde 1º de janeiro fomos obrigados pelos eventos extremos a apreciar o céu azul e o sol iluminando a cidade pouco antes das 8 da manhã. Aqui no Hemisfério Norte, especificamente na ilha de Vancouver, ele se põe de forma exuberante em dois pontos: no píer da Granville Island e na English Bay Beach, minutos antes das 5 da tarde.
Faz calor. Órgãos especializados em condições meteorológicas informam que já ocorreram picos de 14,3º C, mas agora as expectativas de máximas e mínimas oscilam de 0º C na madrugada para 6º C boa parte do dia. Nesta quarta-feira, 29, a previsão do tempo de sol o dia todo era máxima de 8º C e mínima de 2º C, o que, convenhamos, para um canadense, dá para sair na rua de bermuda e camiseta. Este é o cenário do extremo climático que uma cidade que está a apenas 4 mil quilômetros do Círculo Polar Ártico enfrenta neste inverno: todo mundo nas ruas, tomando sol no rosto às 2 da tarde, frequentando os muitos bares e restaurantes ou ainda promovendo encontros ao ar livre durante o dia como se estivéssemos no verão.
Mas assim como pouco se tem feito na cidade de São Paulo para enfrentar as surpresas dos extremos climáticos Vancouver não está nem aí para o Global Warming. O governo da Columbia Britânica encaminhou projetos para a expansão do setor de combustíveis fósseis, mesmo tendo o compromisso de reduzir as emissões na província do litoral Oeste do Canadá em 40% até 2030 e em 80% até 2050. Algumas poucas notícias nas mídias do Canadá dão importância para o registro do aumento das emissões na Província da Columbia Britânica desde o fim da pandemia. Quanto tempo para o extremo climático ocorrido em Los Angeles, Califórnia, chegar aqui, distante apenas 2 mil quilômetros?
Diante desses acontecimentos e a reação que deveria ser imediata mas que quase nunca acontece, parece que a vida em 2025 reproduz o filme da Netflix Não Olhe para Cima, uma sátira ao negacionismo.
Esta é uma reflexão para lembrar que a indústria automotiva, especialmente a indústria nacional, tem muitas oportunidades de apresentar alternativas que diminuirão o impacto que a humanidade tem feito na biosfera. O aquecimento global, que produz eventos extremos, não vai deixar de existir de uma hora para outra, mas com ônibus elétricos circulando nas grandes cidades, veículos mais novos, movidos a etanol, e uma frota de caminhões que utilize combustíveis renováveis, já estaríamos dando um grande passo.
A segunda grande oportunidade para o Brasil seria tornar viável o hidrogênio verde como combustível. A matriz energética é tão importante quanto os produtos com tecnologias limpas, pois é a partir dessa eficiência em termos de emissões que será possível descarbonizar de fato a atmosfera
2025 está aí. Só é preciso ter coragem para assumir que a emergência climática é, de fato, algo emergencial e lutar para que as coisas certas realmente aconteçam. Já.