São Paulo – A Nissan desistiu da fusão com a Honda e começou a por em prática plano interno de reestruturação em busca de recuperar consecutivas perdas financeiras. Estão nos planos fechar três fábricas nos próximos dois anos, diminuir turnos em operações dos Estados Unidos, cortar cargos executivos em 20% e buscar novos parceiros.
Três unidades produtivas estão na mira, já no primeiro trimestre do novo ano fiscal, que se inicia em 1º de abril: Smyrna e Canton, nos Estados Unidos, e a fábrica da Tailândia. A estimativa é que sejam demitidos ao menos 5,3 mil profissionais do chão de fábrica e, no ano que vem, outros 1,2 mil, totalizando 6,5 mil postos de trabalho.
Durante entrevista coletiva à imprensa realizada na quinta-feira, 13, para a divulgação do balanço financeiro, o CEO da Nissan, Makoto Uchida, afirmou que a primeira fábrica a ser fechada será a da Tailândia. Ele não abriu os nomes das outras duas, apenas disse que uma encerrará as operações de outubro a dezembro e, a outra, no ano fiscal encerrado em 31 de março de 2027.
De acordo com reportagem da Automotive News, que acompanhou a entrevista, as unidades de Smyrna, Tennessee, e Canton, Mississipi, sofrerão reduções de emprego por meio de enxugamentos de turno, o que já era aguardado no fim do ano passado. Em comunicado a Nissan informou que eliminará outros 2,5 mil postos nas divisões de vendas e administração em todo o mundo, o que deverá ser acelerado por meio de PDVs.
Lucro operacional despenca quase 80%
Os anúncios ocorrem em meio à queda de 78% no lucro operacional e à revelação de prejuízo líquido no último trimestre, o terceiro do ano fiscal da Nissan, contextualizados em cenário de estoque inflado, vendas fracas e queima contínua de caixa. O lucro operacional caiu para 31,1 bilhões de ienes, ou US$ 197,5 milhões, contra resultado, um ano antes, de 141,6 bilhões de ienes, ou US$ 899,2 milhões. Quanto ao lucro líquido caiu para prejuízo de 14,1 bilhões de ienes, ou US$ 89,5 milhões, frente a 29,1 bilhões de ienes, ou US$ 184,8 milhões, nos doze meses anteriores.
As vendas no varejo, em todo o mundo caíram, 2,2%, para 801 mil veículos no período de outubro a dezembro.
As medidas terão reflexo na produção de 1 milhão de unidades, das atuais 5 milhões, nos próximos dois anos fiscais. A montadora pormenorizou em nota que planeja reduzir sua capacidade de produção global em 20% e otimizar sua força de trabalho de fabricação até o ano fiscal de 2026. Isso inclui redução de capacidade já implantada na China de 1,5 milhão de unidades para 1 milhão de unidades.
“Isto se combinará com esforços contínuos que reduzirão a capacidade de 3,5 milhões de unidades para 3 milhões de unidades para fábricas fora da China e aumentarão a taxa de utilização da unidade de 70% no ano fiscal de 2024 para 85% no ano fiscal de 2026.”
Nissan contra-ataca com lançamentos e segue aberta a parcerias
Em contraponto, para aprimorar suas ofertas, apresentará novos modelos híbridos plug-in nos próximos dois anos e atualizará seus premiados miniveículos e grandes minivans. A Nissan também fortalecerá sua linha de veículos elétricos com o novo Leaf, com um compacto totalmente novo e com um novo NEV, veículo de nova energia, dedicado ao mercado chinês.
A Nissan reafirmou sua disposição por novas parcerias. Com a Honda não deu certo porque uma das propostas previa o estabelecimento de holding em que ela nomearia a maioria dos diretores e o CEO com base em uma transferência de ações conjunta, para estrutura em que Honda seria a empresa-mãe e a Nissan a subsidiária por meio de uma troca de ações.
No futuro, porém, Nissan e Honda colaborarão dentro da estrutura de parceria estratégica dedicada à era da inteligência e dos veículos eletrificados.
Este é o terceiro plano de reestruturação anunciado por Uchida desde que assumiu o cargo em dezembro de 2019, após a prisão e demissão do presidente Carlos Ghosn.