Plataforma de marketing e vendas que adiciona inteligência artificial a fim de otimizar compra de veículos fez três aquisições em oito meses
São Paulo — Nove meses atrás nascia a Dealerspace, empresa da Bolt Software que propõe a integração dos principais sistemas de gestão da concessionária em plataforma única, a fim de facilitar todo o processo de compra e venda de automóveis. De lá para cá foram realizadas três aquisições, sendo que para iniciar a operação promoveu a fusão da DealerSites com a Followize e, recentemente, adquiriu a F&I Brasil.
Com aporte inicial de US$ 5 milhões da L4 Venture Builder, cujo único cotista é a B3, operadora do Sistema Nacional de Gravames, que possui acesso a dados de vendas financiadas de veículos novos e usados, nos últimos três meses a companhia cresceu 30% e, para 2025, o plano é encerrar o ano com faturamento de R$ 60 milhões, contou à Agência AutoData Vinicius Vazquez, fundador e CEO da Bolt Software e da Dealerspace.
“Em 2024 geramos EBITDA de 18% incluindo investimento em P&D, que normalmente é excluído deste cálculo, o que nos permite investir mais em novos produtos e tecnologia. Precisamos inovar e comprar empresas ao mesmo tempo.”
A expectativa é de pelo menos mais uma aquisição neste trimestre, na área de marketing e vendas, de ferramentas que realizam a gestão da concessionária.
No último ano e meio, antes de a história da Dealerspace começar, foram mapeadas 66 empresas que atuam no setor automotivo. Dentre elas a DealerSites, então número 1 em sistemas de CMS, de sites automotivos, e a Followize, número 2: “Nós as unimos para iniciarmos numa posição de liderança na participação de mercado, com 3,5 mil pontos de venda e, hoje, somamos quase 4 mil”.
Considerando que no País existem hoje 7,2 mil concessionários a empresa está presente em 55% delas. Mas o plano de Vazquez, ao consolidar as ferramentas de softwares dos concessionários em um só lugar enquanto traz dados proprietários de potenciais compradores e os integra à inteligência artificial, não é, em um primeiro momento, ampliar a penetração da rede e, sim, crescer dentro dos seus clientes.
“Inicialmente tínhamos dois produtos, na fusão duplicamos nosso tíquete e, desde então, quase multiplicamos por cinco, pois criamos novos itens como o CRM pós-vendas e agora temos os F&I, que são financiamentos e seguros. A tendência é lançar mais serviços e ampliar leque de soluções para que possamos transformar o dia a dia da gestão do concessionário ainda ancorado em sistemas obsoletos.”
O empresário acredita que sem esta unificação o dono da revenda fica sem saber o retorno obtido sobre os investimentos em marketing: “É uma experiência muito quebrada. Por causa disto se tem perda de eficiência operacional muito relevante”.
Ferramenta customiza campanha de marketing para vendas mais assertivas
Para Vazquez hoje o mercado é cego quanto à atratividade e à propensão de compra, ao atacar campanhas de marketing com base em fotografia do passado, quando a revenda entra em contato com todos os potenciais clientes que foram à loja mas não compraram, enquanto que a pessoa pode ter adquirido o veículo em outro lugar, ou melhorado seu poder aquisitivo e optado por modelo mais caro.
“Somos capazes de personalizar campanha de marketing com base nos dados para elevar a conversão de vendas. Em vez de ligar de um por um é melhor saber, antes, como cada um está em sua jornada e qual a probabilidade de fecharem negócio, focando em quem está mais quente. Porque se houver uma base de 15 mil pessoas, por exemplo, não dá para ligar para todos.”
Segundo Vinicius Vazquez, sistema da Dealerspace propicia o aumento das vendas em 10% a 20% nos primeiros meses. Foto: Freepik.
Ao entender melhor o poder de compra do cliente Vazquez ressaltou que, com o auxílio da inteligência artificial, as chances aumentam mesmo diante de quem faz sua cotação pelo site. Há casos de quem escolhe um modelo de veículo, busca financiamento e larga o carrinho de compras ao ver que não tem como arcar com aquela parcela.
“Antes tudo era estático. O site era apenas uma passagem e a CRM era uma caixa de registro. Agora, com IA, tudo muda, pois ela é customizada para aquele concessionário e aquela marca, a partir de dados proprietários do cliente. Então é possível avaliar o estoque, indicar um carro alternativo ao que está procurando, fazer simulações de como a parcela caberá no bolso ou indicar consórcio e, só então, passar para o vendedor fechar a venda.”
A aquisição da F&I Brasil foi estratégica neste sentido, uma vez que a empresa de soluções de financiamentos e seguros, que faturou R$ 6 milhões em 2024, movimentou quase R$ 10 bilhões em crédito. E esta é justamente uma das dores para quem trabalha com a venda veículos: ter opções de financiamento. Outra é a gestão e a escala de processos de pessoas, e a ferramenta pode ser importante aliada no processo.
Objetivo é elevar vendas em até 20% nos primeiros meses
Segundo Vazquez foi realizado teste durante um mês em um concessionário em que sua conversão quase dobrou. Sua expectativa, porém, é de elevar em pelo menos de 10% a 20% este desempenho nos primeiros meses de utilização.
Sobre a disposição da revenda para investir em tecnologia a maior encrenca, de acordo com o CEO da Dealerspace, é cultural e não de caixa: “Se ele não tiver cinto e suspensórios com os custos ele pode fechar uma concessionária. Mas não dá para adquirir tecnologia como se fosse um saco de cimento”.
Ele citou que a margem operacional bruta desta atividade é de um dígito, e que a líquida gira em torno de 2% a 4% de EBITDA, diante do aumento do custo do carro e da maior concorrência – inclusive de marcas chinesas, oportunidade para as grandes redes que expandem sua operação, mas temor para as revendas menores.
“Por isto qualquer proposta que faça com que ele trabalhe de forma mais fluida e com mais governança, com maior acesso a dados, pode mudar o resultado daquela loja no fim do dia.”