Rio de Janeiro, RJ – Pouco antes de entregar os troféus aos melhores fornecedores da Volkswagen no Brasil e na Argentina, na noite de quinta-feira, 14, Alexander Seitz, chairman executivo da empresa na América Latina, contou que tem vivido uma extenuante rotina de viagens no eixo China, Argentina e Brasil: “É cansativo, semana passada estive em Xangai, depois fui a Buenos Aires, com diferença de fuso-horário de onze horas. Não faço isto porque gosto, mas faço questão de ver de perto este projeto que é muito importante para nosso desenvolvimento na região”.
Ele se refere ao investimento de US$ 580 milhões, anunciado em abril, que dará origem à produção da Amarok totalmente nova na fábrica argentina de Pacheco a partir de 2027.
E por que tantas viagens à China? Seitz confirmou que a nova picape média terá versões híbridas com tecnologia que está sendo compartilhada com a SAIC, sócia da Volkswagen na China – onde, aliás, o executivo trabalhou de 2013 a 2017 como vice-presidente comercial da joint venture, daí sua facilidade em negociar a parceria para produzir um novo veículo com tecnologia chinesa na Argentina.
Segundo já noticiou a imprensa especializada a nova Amarok será produzida com base no modelo da SAIC Maxus Starcraft X.
“Mas não será um copia-e-cola”, adianta-se Seitz. “Usaremos a tecnologia mas estamos desenvolvendo tudo no Brasil, desde o design até a calibração do motor, suspensão, altura do solo e infotainment. A nova Amarok será um veículo projetado para os clientes brasileiros, que são os maiores compradores de picapes na região da América do Sul.”
Segundo ele há diversas vantagens em utilizar a parceria com o sócio chinês e a primeira delas é o custo e variação cambial mais amistosa: “Hoje temos 50% de localização da Amarok na Argentina e dependemos da relação euro e peso, o maior custo é do powertrain [motor 3.0 V6 e transmissão], todo ele importado da Alemanha em euros. Importar da China é mais barato e o governo chinês controla o câmbio para ajudar nas exportações”.
Mas a ideia não é importar tudo pronto da China, diz Seitz: “Poderemos agregar componentes do motor e sistema híbrido e assim aumentaremos a localização”.
Ampliação do mercado da Amarok
Lançada originalmente em 2010 recheada de novas tecnologias como uma das mais modernas picape médias do mundo, a primeira da Volkswagen, a Amarok atualmente produzida na Argentina está fora de dois terços do mercado da categoria, pois é vendida somente com motor turbodiesel V6 de 258 cv, o que a coloca em nível de preço superior ao das concorrentes com motores menores.
O novo projeto prevê a oferta de uma linha mais ampla com opções mais baratas, incluindo motor de quatro cilindros e a opção de sistema híbrido. Seitz aposta: “Com isto conseguiremos atingir um maior número de clientes e as vendas crescerão”.
Justamente por isto a Volkswagen foi buscar opções junto ao sócio chinês, pois a empresa não tem na Alemanha outras opções além do motor turbodiesel V6 atualmente utilizado pela Amarok. A opção com motor 2.0 de quatro cilindros, com o qual a picape foi originalmente lançada, foi retirada de produção no início de 2022, pois não atendia às normas de emissões do Proconve L7, que entrou em vigor naquele ano.
A solução chinesa surgiu como opção após a Volkwagen desistir de produzir a nova Amarok com base na nova Ford Ranger, também produzida na Argentina e lançada há dois anos, em uma colaboração global anunciada em 2019 pelas duas empresas para o desenvolvimento conjunto de picapes e vans. Contudo as duas fabricantes não estenderam a parceria para a América do Sul e decidiram seguir caminhos com identidade própria.
Como um relógio
Seitz afirma que o projeto da nova Amarok está andando “muito bem”, cumprindo todo o cronograma nos prazos que foram estipulados. A fábrica de Pacheco já parou de produzir o SUV Taos, que agora será importado pelo Brasil exclusivamente do México, e só a Amarok V6 está em linha, em ritmo de trabalho que foi reduzido de dois para um turno. Deverá continuar assim enquanto a unidade é preparada para montar a nova picape.
O projeto da nova Amarok prevê a produção de 80 mil unidades/ano com 50% do volume exportado para o Brasil, segundo Marcellus Puig, presidente da Volkswagen Argentina: “Tenho certeza que será um sucesso. Nosso sonho é transformar Pacheco em um centro de referência mundial para produção de picapes, com muito conteúdo regional”.
Puig afirma que o ambiente de negócios na Argentina está melhorando rapidamente. A inflação, que chegou a 25% ao mês, caiu para 1,5% a 2% e segue regredindo. Com o fim do cerco cambial, em abril, mais de US$ 16 bilhões em investimentos no país já foram anunciados. O mercado local de veículos, que caiu para 380 mil unidades em 2023, cresceu para 420 mil em 2024 e este ano caminha para chegar a 700 mil.
A Volkswagen aproveita o bom momento e retomou a liderança de vendas no país, o que aconteceu pela última vez em 2021: “Aproveitamos o momento de crise para fazer a virada e hoje a produção funciona como um relógio”, assinalouPuig. “Fizemos a lição de casa.”