São Paulo – Um meteoro que veio acabar com os dinossauros. Com esta metáfora a BYD sintetizou o que está acontecendo na indústria automotiva brasileira, que tem seus ânimos acirrados com a possibilidade de apreciação do pleito da montadora chinesa para reduzir de forma temporária o imposto de importação de kits CKD e SKD, o que facilitaria seus planos na primeira etapa da fábrica de Camaçari, BA.
A previsão é que o Gecex, o comitê gestor da Camex, Câmara de Comércio Exterior, avalie o pedido na reunião agendada para a quarta-feira, 30. Nos últimos dias a Anfavea aumentou a pressão, nos corredores e junto à opinião pública, para que fosse rejeitado.
Em carta enviada à imprensa, intitulada Por que a BYD Incomoda Tanto?, a BYD se considera o meteoro, que os dinossauros, as empresas associadas à Anfavea, nominalmente Stellantis, Toyota, General Motors e Volkswagen – que enviaram uma carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva pedindo a rejeição do pedido alegando concorrência desleal – enxergam no céu.
“Assinada por representantes da Toyota, Stellantis, Volkswagen e General Motors, a carta tem o tom dramático de quem acaba de ver um meteoro no céu”, diz a carta. “O problema não é o meteoro, claro. O problema é que ele está sendo bem recebido pelos consumidores — aqueles mesmos que, por décadas, foram obrigados a pagar caro por tecnologia velha e design preguiçoso”.
A BYD lembrou que alguns fabricantes reduziram drasticamente os preços dos seus modelos elétricos após a sua chegada. “Não foi por acaso que uma concorrente reduziu o valor de um modelo elétrico em mais de 100 mil reais depois da chegada da BYD. Por que antes custava tanto?”
E disse que seu pleito, de reduzir impostos de forma temporária, não é nenhuma novidade e foi usado pelas empresas no passado: “A redução temporária de imposto que a BYD pleiteia segue uma lógica simples e razoável: não faz sentido aplicar o mesmo nível de tributação sobre veículos 100% prontos trazidos do Exterior e sobre veículos que são montados no Brasil, com geração de empregos locais, movimentação da cadeia logística e pagamento de encargos. Isso não é nenhuma novidade, outras montadoras já adotaram a mesma prática antes de ter a produção completa local”.
Sobre a pressão feita pela Anfavea, que diz que os investimentos programados na ordem de R$ 180 bilhões poderão ser revistos caso os impostos sejam reduzidos, a BYD diz tratar-se de um velho roteiro:
“Diante de qualquer sinal de abertura de mercado ou inovação, surgem as ameaças de demissões em massa, fechamento de fábricas e o fim do mundo como conhecemos. É uma espécie de chantagem emocional com verniz corporativo, repetida há décadas pelos barões da indústria para proteger um modelo de negócio que deixou o consumidor brasileiro como último da fila da modernidade”.
Por fim, a montadora chinesa diz ter se comprometido com o governo do Estado da Bahia, onde está sediada a sua fábrica, de ter a produção completa após a fase de SKD e CKD. Quando a reportagem da Agência AutoData esteve em Camaçari, no início do mês, o vice-presidente sênior Alexandre Baldy mencionou os contratos assinados e disse que abriria os prazos e porcentual de conteúdo local acordados, mas até agora isto não foi feito.
Governadores pedem mais prazo
Em outra carta, esta endereçada ao vice-presidente e titular do MDIC, Geraldo Alckmin, governadores de Santa Catarina, São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Paraná e Rio Grande do Sul, manifestam preocupação com relação à possível redução nos impostos e pedem mais tempo para discussão.
A sugestão é que o tema não seja debatido na reunião da Camex da quarta-feira, 30, e que um canal de diálogo seja aberto antes da tomada de decisão, para que sejam avaliados os impactos regionais e setoriais.