São Paulo – As principais fabricantes independentes de motores que mantêm produção no Brasil, Cummins, FPT e MWM, pouco se arriscaram, na segunda-feira, 29, durante o Seminário AutoData Megatendências do Setor Automotivo – a Revisão das Perspectivas 2020, a projetar um cenário para o mercado no segundo semestre, período do qual se espera dias melhores em termos de negócios.
“Estamos dirigindo na neblina”, disse Luis Pasquotto, presidente da Cummins, enquanto ilustrava o planejamento da empresa que tem fábrica instalada em Guarulhos, SP, para os próximos meses. “Nossa visão é no próximo quilômetro nestas condições. Postergamos investimentos que não eram urgentes, como reformas na fábrica, e mantivemos aqueles considerados essenciais.”
O executivo disse, ainda, que conta no momento com suporte financeiro de sua matriz para manter a liquidez da operação brasileira. Também pudera: a empresa vinha, nos últimos anos, empregando suas forças na ocupação da fábrica após anos de retração, até 2017, quando o mercado de caminhões começou a sair da crise.
Nos últimos anos, no entanto, a saída da Ford Caminhões do mercado, um importante cliente dos motores Cummins, se mostrou como mais um entrave no caminho da fabricante que, nos últimos meses, passou a usinar na fábrica de Guarulhos componentes para exportações intracompany. A companhia concedeu férias em março aos funcionários da unidade, e deverá retomar 80% da capacidade nesta semana.
No caso da MWM, segundo seu presidente José Eduardo Luzzi, a operação se manteve líquida com recursos próprios nesses últimos meses e a situação deverá seguir inalterada até o fim do ano: “Não precisamos recorrer ainda aos financiamentos bancários nem aos recursos da [controladora] Navistar. O processo de diversificação dos nossos negócios tornou viáveis contratos em outras áreas, o que tem nos ajudado”.
Luzzi se refere, neste caso, aos negócios que a empresa mantém em diversos setores com o fornecimento de motores para grupos geradores de energia. O movimento ganhou força em fevereiro deste ano, quando a companhia expandiu em 20% a produtividade da linha de geradores da fábrica de Santo Amaro, em São Paulo – a operação na unidade passou a ser em dois turnos.
Afora as oportunidades no mercado de energia a MWM espera neste ano manter a fábrica ocupada com as demandas das exportações. Luzzi disse, durante a apresentação online, que a unidade no segundo semestre passará a produzir motores Euro 6 para fábrica da Navistar instalada no México, algo que antes não acontecia. Os motores serão aplicados, segundo o executivo, em chassis de ônibus.
Sobre a aplicação da tecnologia que reduz emissões no Brasil, Luzzi disse que, por ora, o assunto é algo a ser pensado melhor. Isso porque, sob sua ótica, “os investimentos feitos para o Euro 5 não se pagaram ainda e há outras tecnologias viáveis que podem surtir o mesmo efeito que a adoção do Euro 6 em termos de redução de emissões”.
Ele citou como exemplo os motores a gás e a etanol, tecnologias que já estão sendo empregadas em veículos comerciais no País. A FPT, por exemplo, explorou bastante a aplicação dos dois combustíveis durante sua participação na última edição da Fenatran, ocorrida em 2019.
“Apesar da situação de pandemia não paramos os investimentos em novas tecnologias, ao contrário. Temos muitas oportunidades no Brasil e na Argentina, demandas que podem nos ajudar a sair dessa situação de vendas menores”, disse Marco Rangel, presidente da FPT. “De cada quatro retroescavadeiras vendidas duas têm motor FPT. O mercado agrícola é uma vertical importante no momento.”
Foto: Reprodução.