São Paulo – O desabastecimento de matérias-primas, que provoca o descompasso na cadeia de produção automotiva, e a falta de carros zero quilômetro para pronta entrega nas redes de concessionárias faz com que alguns consumidores migrem, ao menos temporariamente, para o mercado de seminovos. Segundo relatos de concessionários muitos compradores não querem esperar, em alguns casos até 120 dias, para receber o veículo e direcionam seus olhos para o estoque de seminovos.
Dário Monteiro, diretor presidente do Grupo Vecol, representante Volkswagen, já viu isso em suas lojas: “O brasileiro é imediatista, e quando se trata da compra de um carro zero quilômetro muitas vezes ele não quer esperar três ou quatro meses. Por isso vai para o seminovo, que pode ser retirado na hora".
As próprias equipes de vendas do Grupo Vecol foram treinadas para não perder negócio usando o estoque de seminovos: segundo Monteiro a instrução é oferecer um modelo similar, que esteja na área de seminovos para pronta entrega, ao cliente que tem como entrave o prazo de entrega na hora de fechar o negócio.
José Wilson, presidente do Grupo Canopus, que possui mais de quarenta revendas no Brasil, vê cenário semelhante: "Alguns clientes de zero quilômetro nós conseguimos reter, especialmente aqueles que demandam um modelo específico e podem esperar por isso. Por outro lado existe também aquele cliente que precisa de um veículo com mais urgência, e este, sim, recorre ao seminovo".
O presidente da Fenauto, que representa revendedores independentes, Ilídio dos Santos, relatou ter ouvido casos semelhantes de seus associados. Não acredita, porém, que seja algo que venha a durar muito tempo: a expectativa da entidade é a de que o descompasso da oferta com a demanda de veículos se normalize nos próximos três meses.
É também a expectativa de Paulo Cardamone, consultor da Bright, que avaliou o movimento como sazonal diante do fato de que há um tempo de espera muito grande para entrega de veículos novos, muito em função do descompasso na cadeia de fornecedores que ocorre na maioria das empresas produtoras de veículos:
"Afora isso há a questão do aumento da tabela de preços, que também espantou o consumidor. No entanto acredito que o movimento deverá cessar quando as vendas se normalizarem, algo para os próximos três meses".
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