São Paulo – A crise dos semicondutores desencadeada pela pandemia do novo coronavírus levou a Anfavea a revisar suas projeções para o setor automotivo em 2021. A expectativa para as vendas de veículos, que em janeiro era de 2 milhões 367 mil unidades, com crescimento de 15% com relação a 2020, caiu para 2 milhões 320 mil, o que representa ampliação de 13% frente ao ano passado, quando foram emplacados 2 milhões 58 mil.
Quanto à produção a perspectiva era a de encerrar dezembro com 2 milhões 520 mil veículos, 25% a mais do que nos doze meses anteriores. Agora são esperadas 2 milhões 459 mil unidades, alta de 22% ante 2020, quando 2 milhões 14 mil veículos saíram das linhas de produção no País. As exportações tiveram projeção revisada para cima, de 9%, cerca de 353 mil veículos, para 20%, 389 mil, devido à recuperação de importantes mercados, como Chile, Peru e México. Os altos porcentuais das projeções se devem ao fato de a pandemia ter paralisado as fábricas de março a maio do ano passado.
Quem contextualizou estas circunstâncias foi o presidente da Anfavea, Luiz Carlos Moraes, durante sua apresentação na abertura do Seminário Revisão das Perspectivas 2021, realizado pela AutoData Editora em formato digital e que vai até a quarta-feira, 14: “Na indústria mundial, no primeiro trimestre de 2020, a produção de veículos caiu substancialmente e, por causa da pandemia e do home office, outros setores começaram a demandar mais semicondutores, como os de computadores e aqueles ligados à tecnologia da comunicação e a jogos. Quando o setor automotivo retomou a produção, no segundo semestre, e chegou para buscar os semicondutores, eles não estavam disponíveis porque aqueles outros setores estavam utilizando a capacidade de produção dessa indústria, concentrada na Ásia, principalmente em Taiwan e no Japão”.
Levantamento da consultoria BCG indicou que no primeiro trimestre deste ano 1 milhão 435 mil veículos deixaram de ser fabricados em todo o mundo devido à falta de semicondutores. Já no segundo trimestre o número chegou a 2,2 milhões de unidades. Na América do Sul a produção perdida este ano gira em torno de 162 mil unidades, destes, de 100 mil a 120 mil no Brasil, conforme estimou Moraes: “A indústria global deverá registrar perda de 5 milhões a 7 milhões de veículos este ano. A tendência é a de que voltemos à estabilidade no tema semicondutores em meados de 2022. Até lá teremos dificuldades e esse é o grande desafio”.
O presidente da Anfavea também recordou que o setor enfrenta outros problemas com produção e logística de peças, componentes e pneus, mas pontuou que esse é o principal deles: “O investimento em uma fábrica de semicondutores é altíssimo. E para que uma fábrica se torne operacional a demora é de dois a quatro anos.”
Pós-pandemia – O setor, que foi nocauteado com a pandemia justamente em momento em que preparava a retomada definitiva da recessão do biênio 2015/2016, espera que, com o avanço da vacinação contra a covid-19, o cenário possa melhorar.
O encarecimento de commodities, contudo, como o aço, elevou a inflação, hoje em 8,35% no acumulado de doze meses, conforme o IPCA, e levou a Selic aos 4,75%, podendo chegar a 7,5% até dezembro, alinhou o presidente da Anfavea: “Isso traz ao nosso setor um custo adicional aos financiamentos, no capital de giro das nossas organizações, dos nossos fornecedores, sistemistas, concessionários, mas, principalmente, ao nosso cliente, pois 50% do nosso volume é feito por meio de financiamentos, sendo 21% em CDC. Necessitamos urgentemente que as reformas administrativa e tributária saiam do papel”.
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