São Paulo – Apesar de o mercado ainda sentir os efeitos da pandemia da covid-19 o segmento de pesados segue com demanda crescente. No caso dos caminhões e ônibus de fretamento o cenário, inclusive, impulsionou a procura por veículos, o que também foi estimulado pelo aprimoramento de tecnologias que fizeram reduzir o consumo de combustível. No entanto, problemas com a logística das peças e o aumento do custo com insumos seguram expansão ainda mais robusta.
Estes foram pontos expostos pelos palestrantes Walter Barbosa, diretor de vendas e marketing ônibus da Mercedes-Benz, Ricardo Alouche, vice-presidente de vendas da Volkswagen Caminhões e Ônibus, e Sílvio Munhoz, head de vendas e soluções para o mercado brasileiro da Scania, durante o painel que debateu as novas perspectivas para os veículos comerciais no segundo dia de palestras do Seminário Revisão das Perspectivas 2021, realizado pela AutoData Editora de forma online, e que vai até a quarta-feira, 14.
Alouche observou que o setor é um espelho do índice de expansão da economia: “Se o PIB cresce o mercado de caminhões reage instantaneamente. E o contrário também é verdade. Com a projeção de que a economia cresça pelo menos 5% este ano a produção de caminhões cresce junto”.
Somente no primeiro semestre, conforme dados da Anfavea, as vendas de caminhões aumentaram 55% ante igual período do ano passado, com 58 mil 731 unidades, e as de ônibus 32%, somando 7 mil 542. Favorecida pela valorização do dólar, na casa dos R$ 5, a exportação de caminhões disparou 124%, com 10 mil 731 unidades, e a de ônibus cresceu 9%, com 1 mil 889.
Os desafios para que os pesados sigam em alta estão concentrados na cadeia de suprimentos, que além da falta de semicondutores mostra atrasos na entrega de peças e matérias-primas. Nessa conta também entram reajustes das matérias-primas, que superam 120% no caso do aço e 50% dos pneus. “Falta peça de todo tipo e pelos motivos mais inusitados", disse Alouche, da VWCO. "Nevasca no Texas, obstrução do canal de Suez, incêndio em fábrica de semicondutores no Japão. Sem um desses itens que ficaram retidos não se monta um caminhão”.
Com relação aos ônibus Barbosa, da Mercedes, disse que o aumento dos emplacamentos visto em 2021 não se sustenta até o fim do ano, quando o volume total deve oscilar de 13,5 mil a 15 mil unidades, incremento de 10% a 15% ante 2020. Isso porque os segmentos urbano e rodoviário apresentam entrave extra com a redução de até 70% no volume de passageiros, por causa da pandemia, e queda de até 43% nas vendas:
“O crescimento do primeiro semestre tem relação direta com vendas governamentais, com o programa Caminho da Escola, de 2019, mas que teve unidades emplacadas até agora, o que causou impacto positivo no mercado. Além disso a demanda por ônibus para fretamento deve crescer 136% este ano, pois, para tornar viável o distanciamento social, empresas dos ramos de mineração, pecuária e tecnologia têm ampliado a frota”.
Ele recordou que, devido à nova licitação de 7 mil ônibus escolares com venda concluída para o fim do ano, deverá haver incremento de 177% na modalidade.
Sustentabilidade – Para driblar o cenário de dificuldades o segmento de caminhões pesados tem tornado a tecnologia sua maior aliada para alavancar o comércio. Desde 2018 nova geração de modelos propicia menor consumo de combustível. Três anos atrás a redução era de 12% e, agora, está em 20%, contou Munhoz, da Scania.
“Em dois anos vendemos 29 mil caminhões, que apresentaram economia de 160 milhões de litros de diesel, o que representou R$ 453 milhões que deixaram de ser desembolsados, considerando o preço do combustível a R$ 3,50. Estamos otimistas para o segundo semestre, apesar dos problemas com os semicondutores e as dificuldades de entrega no prazo habitual. Mas essas mudanças vieram para ficar e, de provedor de caminhões, passamos a provedor de soluções”.
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