São Paulo — A falta de semicondutores desencadeada pela pandemia do novo coronavírus, que tem deixado linhas de produção de montadoras paralisadas em todo o País, provoca efeitos em toda a cadeia. Com a notícia de que a Marcopolo concederá férias coletivas a partir do dia 23 de agosto, por até um mês, a cerca de 8 mil funcionários das fábricas de Caxias do Sul, RS, e de São Mateus, ES, a Agrale, que fabrica os chassis de ônibus da Volare, também em Caxias, precisou tomar algumas providências.
A companhia vai deixar em casa, com desconto no banco de horas, quarenta trabalhadores que atuam na fabricação dos chassos linha Volare. Será feito um rodízio de profissionais a partir do dia 23, de modo que, a cada semana, durante um mês, parte deles não vá trabalhar, disse o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos de Caxias do Sul e Região, Assis Melo.
Melo externa preocupação com o cenário por trazer insegurança aos operários: “Vemos este momento como sendo de certa pressão, pois a grande maioria das empresas do setor utiliza dispositivos eletrônicos, mas talvez a própria indústria que fornece esses componentes não esteja preparada para atender a essa demanda. Não acredito que seja simplesmente a pandemia a razão desse impasse”.
O sindicalista afirma que a procura pelos produtos é grande e que "os metalúrgicos têm trabalhado bastante", que só tinham parado no início do ano passado, quando começaram os primeiros casos da covid-19: “E nunca é bom parar, ainda mais em meio às dificuldades de fornecimento, com a economia ainda demorando a reagir e a inflação nas alturas”.
Melo acredita que “para o trabalhador se colocar em risco não tem pandemia, mas para manter a produção tem”, e que este é o problema: “Temos de entender melhor essa situação. Vimos a Ford saindo do nosso mercado por visão de negócio. Para as multinacionais é fácil fechar aqui e começar a produzir em um país vizinho. O produto não tem fronteiras para circular. É preciso abrir frente de discussão da indústria com o governo e os trabalhadores. Não podemos correr o risco de o trabalhador ser descartado”.
Questionada, a Agrale informa que existe a possibilidade de realizar esse rodízio dos quarenta profissionais, mas que ainda não confirma a adoção do procedimento. Apesar do problema com os chassis de ônibus a companhia, que emprega hoje cerca de seiscentos profissionais, segue sem paralisar a produção devido à forte demanda por caminhões, tratores e maquinários.
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